Ceará tem a terceira frota de motos do país

Impulsionada pelo aumento da renda da população, pelas facilidades no processo de compra e pelo desejo de se trafegar com mais rapidez em uma cidade onde os congestionamentos são constantes, a frota de motocicletas do Ceará praticamente dobrou entre 2009 e 2014, sendo hoje a terceira maior do País.

Conforme dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), os veículos desse tipo, no Estado, saltaram de 560 mil unidades, em setembro de 2009, para 1,11 milhão em setembro de 2014, representando aumento de 98%.

No mesmo intervalo de tempo, a quantidade de motocicletas em todo o País cresceu em ritmo menor, avançando 57,2%. Como resultado, a participação do Ceará no total deste tipo de veículo no Brasil também subiu nesse período, passando de 4,6%, em 2009, para 5,85% em 2014.

Embora seja o Estado com a terceira maior população no Nordeste - ficando atrás da Bahia e de Pernambuco -, o Ceará tem a maior frota de motocicletas da Região. Segundo levantamentos do Denatran, a quantidade de motos do Ceará corresponde a 69,8% do total registrado em toda região Norte e a 62,4% das unidades do Centro-Oeste.

A proporção entre motos e habitantes, no Estado do Ceará, é de um veículo para 7,9 pessoas. Já a média nacional é de uma moto para 10,57 habitantes. As duas maiores frotas do Brasil estão localizadas em São Paulo e Minas Gerais.

Transporte público
Para a responsável de setor pessoal Flávia Carvalho, 45, um dos principais motivos para a quantidade elevada de motos na cidade de Fortaleza é a deficiência do transporte público. "Da forma como as pessoas são tratadas, tendo que brigar pra entrar em um ônibus, dá para entender porque preferem andar de moto", afirma Flávia, que durante seis anos teve a moto como único meio de transporte.

Funcionária de uma construtora, Flávia afirma que a maior parte dos operários com quem convive costuma comprar uma motocicleta tão logo tenha condições financeiras para isso.

"Tem muitos que acordam 3, 3h30 da madrugada para poder pegar ônibus, correndo também o risco de serem assaltados. E se eles acordam meia hora mais tarde, não conseguem chegar às 7 horas no trabalho", aponta. Ela acrescenta que, após a compra, a motocicleta costuma ser mais barata do que o ônibus, ainda que se considerem os gastos com seguro e manutenção.

Mesmo quando adquiriu o primeiro carro, oito anos, Flávia optou por manter também a moto, que continuou sendo usada com frequência. Apenas há cerca de um ano, ela vendeu a motocicleta, ficando só com o automóvel. Hoje, diz "sentir saudades da moto" diversas vezes, principalmente quando se depara com congestionamentos.

Flávia reconhece que o veículo oferece muito mais riscos do que o automóvel, mas afirma acreditar que a frota de motocicletas continuará avançando, caso não sejam tomadas iniciativas que tornem os outros meios de transporte mais atraentes. "Enquanto estiver sempre assim, não tiver uma política diferente, mais gente vai comprar moto, e mais pessoas vão acabar morrendo por causa disso", frisa.

Acidentes
No maior hospital de traumas do Ceará, o Instituto Dr. José Frota (IJF), 70% dos 461 leitos de internação da unidade são ocupados por pessoas que sofreram algum tipo de trauma com motos. Em menos de cinco anos, mais de 50 mil motociclistas e passageiros foram atendidos na urgência do hospital.

Segundo o presidente da Associação de Psicólogos do Trânsito do Ceará, Wagner Paiva, a frota elevada de motos no Estado demanda medidas específicas voltadas para os motociclistas, a exemplo da possibilidade de, em determinadas vias, adotar faixas exclusivas para motos, como já acontece em outras cidades, para reduzir o risco de acidentes. Ele ressalta que o poder público também deve investir em campanhas de longo prazo conscientizando motoristas e motociclistas sobre os riscos no trânsito.

Contraste
A maior parte das motocicletas do Estado se encontra hoje no Interior, que concentra 78,3% do total, segundo informações do Departamento Estadual de Trânsito no Ceará (Detran-CE). O cenário contrasta com a concentração de automóveis, cuja frota está localizada principalmente em Fortaleza, onde estão 56,5% dos carros.

JOÃO MOURA
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste



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