Cai o percentual de estudantes da rede pública no Estado do Ceará

Greves de professores, falta de estrutura, materiais e equipamentos educativos insuficientes, violência. Essas e outras deficiências históricas da rede pública de ensino têm feito com que a migração de estudantes das instituições governamentais para as particulares no Ceará desse um salto nos últimos anos. A prova dessa tendência é que em 2013, embora os estabelecimentos municipais, estaduais e federais ainda abrigassem a grande maioria dos alunos no Estado, o percentual de estudantes na rede privada, com exceção apenas dos que cursavam o ensino médio, apresentou crescimento em relação ao ano anterior, em detrimento do sistema público.

A informação é da Síntese de Indicadores Sociais (SIS) 2014, divulgada, ontem, pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). A pesquisa analisou dados sobre arranjos familiares, distribuição de renda, trabalho e outras áreas. No eixo Educação, o estudo mostrou que, no ano passado, 82,6% dos alunos do ensino fundamental estavam matriculados na rede pública e 17,4% na rede particular. Em 2012, no entanto, os índices eram de 83,8% e 16,2%, respectivamente.

Redução semelhante ocorreu no ensino superior. No ano de 2012, 31,6% dos estudantes cursavam graduações nas universidades públicas. Já em 2013, esse percentual caiu para 25,6%. No mesmo período, a taxa de alunos no sistema privado passou de 68,4% para 74,4%, dado que revela, ainda, outro fenômeno: o predomínio do ensino superior particular sobre o público no Ceará.

Carências
Para especialistas, o processo de migração em parte das escolas e das universidades pode ter como explicação as carências de longa data existentes na rede pública, associadas à ampliação do acesso ao sistema particular de ensino. Em relação ao ensino fundamental, o mestre em Educação Marco Aurélio de Patrício Ribeiro destaca que, ao se depararem com situações como falta de profissionais ou infraestrutura precária, muitos pais optam por fazer um maior esforço financeiro e pagar pelos estudos dos filhos em colégios privados.

"O pai acha que na escola particular, a criança será melhor assistida. Quando ele vê paralisação de aula e outros problemas na escola pública, ele coloca o filho para estudar na particular, principalmente nos colégios de bairro, que são mais acessíveis. Mas essa imagem nem sempre é verdadeira", diz Aurélio.

No ensino superior, além de deficiências estruturais similares, a queda do percentual de alunos na rede pública é atribuído ao maior acesso à educação paga, possibilitado por bolsas e iniciativas de financiamento, a exemplo do Programa Universidade para Todos (Prouni) e do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).

"Através desses programas, foram criadas vagas na rede privada para os alunos que não podiam pagar antes. É um dado muito significativo", destaca Marco Aurélio.

O ensino médio foi o único no qual a taxa de alunos nos colégios públicos não diminuiu de 2012 para 2013, mas, sim, aumentou, ainda que de forma modesta. Em 2012, 88,2% dos estudantes desse nível estavam em instituições governamentais.

Cotas
No ano passado, esse percentual subiu para 88,3%. Na visão de Selene Penaforte, membro do Conselho Estadual de Educação do Ceará, um dos motivos é a criação de cotas nas universidades federais para alunos provenientes das escolas públicas. "Se o aluno vem de, pelo menos, três anos na rede pública, ele já entra para a cota de 50% nas universidades, garantida no Enem. Isso, com certeza, ampliou a fortaleceu a matrículas e está fazendo a classe média retornar para o ensino público", diz Selena.

A Secretaria de Educação do Estado do Ceará (Seduc) informou, por meio de sua assessoria de comunicação, que ainda está analisando os dados do SIS 2014 e só irá se pronunciar após o término da avaliação.

VANESSA MADEIRA
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste



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