PT vai focar no combate à corrupção

O documento concluído ontem à tarde pelas lideranças do PT, durante o encontro nacional do partido, em Fortaleza, teve como principal foco o combate à corrupção. A informação foi repassada pelo presidente nacional da legenda, Rui Falcão, que concedeu entrevista coletiva à imprensa no final da manhã, quando a resolução ainda não estava concluída.

De acordo com o dirigente nacional da agremiação, o PT poderá expulsar filiados que tiverem comprovadamente envolvidos em escândalos de corrupção. No entanto, alegando não acreditar que exista alguma liderança nessa situação, ele ressaltou que só será tomada qualquer punição com base em provas documentais contra os acusados.

Questionado sobre a participação do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, no evento do partido, Rui Falcão reafirmou que ele fez a defesa sobre sua inocência na Operação Lava Jato, que investiga pagamento de propina na Petrobras. O presidente nacional ainda negou que tenha puxado palmas para Vaccari.

Sobre as preocupações do governador eleito Camilo Santana com o corte de repasses federais ao Estado, Rui Falcão disse ser preciso manter o diálogo e repactuar a divisão de verbas no Pacto Federativo. Ele garantiu que as obras em andamento não serão prejudicadas.

Dificuldades
Durante o encontro nacional do PT, lideranças do partido discutiram na programação do evento e nos bastidores a implantação de mudanças para o próximo governo da presidente Dilma Rousseff e a necessidade de tocar pautas como a reforma política, engavetada há quase duas décadas no Congresso Nacional. O endurecimento da oposição e a dificuldade de relação com setores da base aliada também permearam os debates.

O líder do PT no Senado Federal, Humberto Costa (PE), reconhece que o ano de 2015 deve apresentar mais desafios aos governistas no Congresso. "A oposição, apesar de não ter crescido muito do ponto de vista numérico, vem com quadros mais preparados, mais qualificados, isso tem o lado bom de termos um debate mais qualificado, mas por outro lado também um debate mais radical", admite.

Dentre as dores de cabeça do Partido dos Trabalhados, está o próprio PMDB do vice-presidente Michel Temer, que ameaça lançar candidatura para a presidência da Câmara dos Deputados, hoje pleiteada pelo PT. "A incógnita é como o PMDB deve se posicionar de uma forma mais ampla, porque hoje nós temos uma maioria, mas uma maioria que muitas vezes não se comporta como tal, se compõe com a oposição", detalha Costa.

O senador de Pernambuco diz acreditar que a nomeação dos novos membros do governo pode minimizar as crises com a bancada peemedebista, a depender dos agrados do Palácio do Planalto com o partido na distribuição de cargos. "Esperamos que, com esse processo da nova composição do governo, isso fique mais amarrado", destaca.

Para Humberto Costa, o arrocho de gastos já anunciado para o próximo ano não deve desgastar o governo se as políticas sociais e investimentos não forem afetados pelo corte de despesas. "Depende de onde nós vamos cortar. Se cortarmos aqueles gastos ruins, não comprometermos as políticas sociais e os investimentos, é tranquilo termos a compreensão da população quanto à importância de fazer isso", opina.

Ministros
Questionado sobre os primeiros ministros indicados, Humberto Costa diz que, até agora, os passos iniciais da presidente Dilma ainda não desagradaram o partido. "O conteúdo de suas primeiras falas foram no sentido de reconhecer a necessidade de um ajuste que nem é tão intenso quanto a oposição quer fazer crer e é uma etapa de um segundo momento em que nós vamos retomar fortemente o desenvolvimento, a geração de emprego e renda", destacou.

Apesar de o discurso oficial das lideranças ser de apoio integral às decisões da presidente Dilma Rousseff, sobram insatisfações nas conversas mais reservadas. Na sexta-feira à noite, membros do setorial de direitos humanos do PT estavam se preparando para organizar um ato, durante o pronunciamento da presidente da República, para protestar contra a provável indicação da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) para o Ministério da Agricultura. No entanto, a manifestação não foi concretizada.

No sábado pela manhã, quando indagado sobre a insatisfação em relação à nomeação de Kátia Abreu, o presidente do PT, Rui Falcão, minimizou a polêmica, alegando que a senadora ainda não foi oficializada ministra.

Reforma política
Na saída do encontro, o ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, evitou dar detalhes sobre as discussões acerca da formação do novo governo. Desconversou justificando que não tem conversado com Dilma sobre isso. "Não fui chamado para dar opinião", disse. Ao ser questionado pelo Diário do Nordeste sobre quais lideranças do PT a presidente da República estaria consultando para discutir os novos nomes, limitou-se a encerrar a conversa: "não sei".

Perguntado sobre a viabilidade de aprovação da reforma política, já que há indisposição de parcela significativa dos partidos em avançar no tema, Berzoini reforçou o diálogo com os setores sociais e disse que a presidente Dilma Rousseff sinaliza em apoiar uma consulta popular sobre a pauta já em 2015.

"A proposta ideal é a que for a média de uma série de opiniões de setores importantes da população, trabalhadores, empresários, estudiosos, partidos políticos e parlamentares", responde. "A história demonstra que só a tentativa do parlamento não funciona, mas é no parlamento que as coisas se aprovam, então vamos combinar participação popular com debate parlamentar".

O ministro também fez duras críticas aos vazamentos de depoimentos das delações premiadas nos escândalos da Petrobras, em que petistas são citados como alvo de beneficiamento e recebimento de propina para financiamento de campanha eleitoral.

"Não há nenhuma possibilidade de o governo agir em desacordo com aquilo que o povo brasileiro deseja, que é o combate firme à corrupção, apuração de ilícitos daqueles que cometerem erros. Nosso governo tem o compromisso com aquilo que o povo quer: a honestidade, transparência e probidade administrativa", declarou o ministro.

Berzoini ainda rechaçou notícias que ele afirma distorcer os fatos e citar "pessoas de bem" sem provas. "Já saiu muita coisa na imprensa que não tem qualquer base de fundamento das autoridades, algumas foram até desmentidas", criticou.

Camilo Santana recepciona Dilma Rousseff em jantar e reafirma apoio ao Governo Federal
Após discursar por aproximadamente 45 minutos durante o encontro nacional do PT, em Fortaleza, no Gran Marquise Hotel, a presidente da República, Dilma Rousseff, seguiu no mesmo carro do governador eleito do Ceará, Camilo Santana, para um jantar no fim da noite da sexta-feira realizado numa barraca na Praia do Futuro, onde estavam as demais lideranças estaduais e nacionais da legenda.

A presidente Dilma Rousseff permaneceu no jantar por cerca de uma hora, deixando o local por volta das 22h40, acompanhado do ministro de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, que também esteve na comitiva que veio de Brasília a Fortaleza na última sexta-feira.

Depois de deixar o jantar, Dilma Rousseff não respondeu a questionamentos da equipe do Diário do Nordeste, mas parou, durante o trajeto, para atender a pedidos de fotos de pessoas presentes na região que aproveitaram para aguardar a saída dela.

Ao ser questionado sobre o tema abordado no jantar reservado com a presidente da República, o governador eleito Camilo Santana evitou detalhar o teor da conversa, mas adiantou que o diálogo entre os dois se resumiu a assuntos partidários também abordados no encontro. "Tratamos apenas de assuntos partidários", limitou-se a revelar o petista após o jantar.

Além de Camilo Santana, o prefeito Roberto Cláudio, a vice-governadora eleita Izolda Cela, o governador em exercício Zezinho Albuquerque e o deputado federal José Guimarães acompanharam Dilma Rousseff até o carro estacionado em frente à barraca na Praia do Futuro. Na despedida, o governador eleito chegou a entregar um presente para a presidente da República.

Discurso
Antes do jantar, no encontro nacional, Camilo Santana fez um discurso direcionado à presidente Dilma Rousseff, reafirmando apoio a ações do Governo Federal durante os próximos quatro ano de gestão.

"A senhora pode ter certeza que vou trabalhar todos os dias para levantar a bandeira do seu governo. Sei e acompanho seu comprometimento e sua dedicação ao povo brasileiro. Tenho certeza que a senhora tem a coragem necessária para manter vivos os sonhos de um País melhor. O povo do Ceará que me deu a honra de ser governador é o mesmo que deu mais de 2,5 milhões de votos de maioria para a senhora no segundo turno", pontuou o petista.

Camilo Santana ainda garantiu à presidente Dilma Rousseff que irá governar o Ceará com todas as marcas que fizeram o PT avançar. "Representar a história e os compromissos do PT é uma tarefa que demanda dedicação e muita perseverança, principalmente contra aqueles que não fazem política pelo bem comum. Tenho dito em diversas oportunidades que vou imprimir no meu governo as marcas que transformaram o PT no maior partido do Brasil", ressaltou Santana.

O governador eleito Camilo Santana também defendeu que o PT e a presidente Dilma Rousseff precisam continuar a ter coragem para enfrentar, principalmente, as ações de setores conservadores e continuar com o espírito sonhador.

"O segundo ponto que quero enfatizar na história do PT é a coragem de enfrentar os desafios, de superar dificuldades e colocar à prova nossos sonhos e ideais. O PT só chegou aonde chegou por ter coragem. O presidente Lula teve coragem. A presidente Dilma teve coragem. E nós precisamos mais do que nunca termos coragem de enfrentar os setores conservadores que virem a tramar golpes contra nosso governo popular", completou o próximo governador.

Camilo Santana ainda convocou os correligionários a "abraçar" o governo da presidente Dilma Rousseff, justificando que ela enfrentará "a pior oposição dos próximos anos". "Abracem a presidente Dilma e o seu governo e entendam suas dificuldades. Ela é nossa líder e precisa fazer o Brasil andar ainda mais", encerrou o petista.

Fonte: Diário do Nordeste



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