Juazeiro do Norte (CE): Simpósio debate a mística e religiosidade de Padre Cícero

Após uma década, pesquisadores da religiosidade estarão reunidos no Cariri para uma busca mais aprofundada de um dos sacerdotes mais polêmicos da história do Brasil. O IV Simpósio Internacional sobre o Padre Cícero será aberto na noite desta segunda-feira, com a participação de mais de 20 pesquisadores e mais de 600 inscritos do Brasil e exterior.

O evento será realizado de 17 a 21 de novembro. Dessa vez o intuito está em responder ao questionamento E...Onde está ele? A abertura acontece às 19 horas, no Memorial Padre Cícero, em Juazeiro do Norte, com a conferência da irmã belga Annette Dumoulin.

Há várias décadas ela mora em Juazeiro do Norte e tem convivido com os romeiros, sendo uma das grandes conhecedoras dos costumes e realidade dos fiéis que se deslocam até a cidade para reverenciar o Padre Cícero. Ela abordará o tema Padre Cícero e Igreja na contemporaneidade (Pe. Cícero... E onde está ele?). O simpósio será realizado no auditório do campus Crajubar, da Universidade Regional do Cariri (Urca).

Desde o ano passado que vários estudos vêm sendo feitos para elaborar a programação que busca reunir os principais estudiosos da temática. A historiadora, professora da Urca, Fátima Pinho, destaca a importância do simpósio, que já foi palco de estudos relevantes sobre o Padre Cícero. Ela é diretora do Instituto de Pesquisa do Cariri (Ipesc).

O escritor e jornalista Lira Neto, que na última semana esteve em Crato, afirmou que o Padre Cícero ainda hoje suscita discussões. "É riquíssimo e possível lançar vários olhares desse homem tão amado, polêmico e até odiado", disse, diante do amplo trabalho de pesquisa que fez para o livro Padre Cícero.

De acordo com a historiadora Fátima Pinho, o simpósio é importante porque vai fazer um balanço historiográfico de tudo que foi pesquisado nesses últimos 10 anos. "De lá para cá se pesquisou muito sobre o Padre Cícero e a região cresceu, se tornou metropolitana. O simpósio tem essa característica e esse estado da arte", destaca.

Nesse contexto, conforme a estudiosa, a academia terá um momento de reflexão dessa importância da figura do sacerdote no desenvolvimento político, historiográfico e sociológico da Região do Cariri.

São mais de 100 trabalhos inscritos de acadêmicos de todos os Estados do Brasil, a maior parte do Cariri, com oito grupos de trabalho, e cerca de oito desses estudos inscritos em cada grupo. E isso mostra, conforme Fátima Pinho, que o Padre Cícero vem sendo estudado cada vez mais, com a busca da sua compreensão pela academia. "Vamos perceber quais são e de onde são esses trabalhos e por isso que a pergunta é 'onde está ele?'", explica, ao destacar que há muito tempo o sacerdote extrapolou os limites do Cariri, sendo objeto de estudo e santo de devoção de pessoas do Brasil e exterior.

O evento será uma forma de dar um panorama geral do que se está fazendo sobre o Padre Cícero, nas mais diversas áreas de estudo e universidades do Brasil e do exterior. Para Fátima Pinho, as romarias e a própria devoção popular ao Padre Cicero se reelaboram, com os avanços na sociedade. "O romeiro, quando vem ao Cariri, não é apenas com a finalidade de reverenciá-lo, que é o principal objetivo, mas fazer compras, visitar locais turísticos e se divertir", diz. "O Padre Cícero, o Romeiro e a Devoção Popular" serão tema de uma das mesas redondas com uma discussão mais ampla sobre o assunto, além da pluralidade, mostrando como ele é percebido em outras religiões.

Reabilitação
O questionamento de onde está ele é uma sequência dos outros três simpósios, proporcionando uma abertura para várias áreas do conhecimento. O tema polêmico, como a reabilitação do Padre Cícero, deverá ser debatido durante a semana. Para Fátima, esse é o motivo maior da parceria da Diocese com a Urca, como órgãos realizadores, no intuito de fortalecer a necessidade de uma revisão eclesial e histórica dentro da Igreja.

O primeiro simpósio foi realizado no ano 1988, quando veio à tona a temática do Padre Cícero e os romeiros. No ano seguinte, o sacerdote e a beata Maria de Araújo que, junto com o padre, protagonizou o milagre do sangramento da hóstia, no ano de 1889. O contexto desse momento, que continua sendo alvo de estudos, foi debatido trazendo à tona pela primeira vez, de forma ampla, o nome da beata Maria de Araújo, que teve os seus restos mortais levados da Capela do Socorro. Ainda hoje estão desaparecidos, e como muitas questões relacionadas ao fenômeno, continuam sendo mistério.

São 26 anos de um evento que se tornou motivador para os estudiosos, no intuito de debaterem juntos um dos assuntos que ainda se torna polêmico, quando se trata de trabalhar a questão da religiosidade no campo da ciência. A coordenadora da Comissão de elaboração do simpósio, Sandra Nancy, pró-reitora de Extensão da Urca, afirma que a grande finalidade do evento é proporcionar o incentivo à pesquisa no âmbito da universidade, trazendo a temática para o centro dos debates.

Mais informações:
Universidade Regional do Cariri (Urca)
Pró-Reitoria de Extensão
Juazeiro do Norte
Telefone: (88) 3102-1244

ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste



Nenhum comentário:

Postar um comentário

AddThis