Juazeiro do Norte (CE): Estação do trem está relegada ao abandono

Um dos mais importantes e raros prédios que resgata um pouco da história de Juazeiro do Norte e o seu desenvolvimento está abandonado. A antiga estação ferroviária está servindo de abrigo para dependentes químicos, inclusive de crack, e local de encontros sexuais para pessoas que vivem na rua. Assaltos têm ocorrido na área com frequência e a população reclama o descaso.

Há vários anos se debate a possibilidade de tombamento do prédio, que precisa passar por uma recuperação. Uma reunião está prevista para acontecer nos próximos dias com técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para tratar da possibilidade de tombamento do imóvel.

A estação ferroviária foi um projeto, que para alguns historiadores, remetia ao lado visionário do Padre Cícero, que escolheu uma área distante do centro da cidade, para construir a estação, que traria desenvolvimento local. Foi em 1925 que a estação foi inaugurada pelo sacerdote. Algumas pessoas não entenderam o porquê da distância.

Destaque
A professora Assunção Gonçalves, já falecida, foi contemporânea do padre e disse que ele chegou a destacar o crescimento da cidade no futuro. Ocorreu ao ponto de ultrapassar o longínquo prédio e bem distante dali haver bairros com o nome de Novo Juazeiro. Ficou apenas a história e mais uma estação abandonada, que caso não haja cuidados necessários para se fazer a reforma e preservação do espaço, será destruída.

A secretária de Cultura e Turismo de Juazeiro, Marli Bezerra, disse que o prédio chegou a ser adquirido pelo município e o pensamento é recuperar e transformar o espaço em algo atrativo, com difusão do artesanato regional, por meio de exposições e divulgação da cultura e feiras regionais.

Ainda não há uma perspectiva dessa melhoria e nem um projeto específico, algo que deverá ser definido apenas após a reunião com os técnicos. "Temos o objetivo de fazer o resgate da memória da nossa cidade e esse prédio é um dos poucos e mais antigos que nos resta", diz ela. Muitos sobrados antigos existentes em Juazeiro, principalmente no centro da cidade, estão fechados, deteriorados pela ação do tempo, ou passaram a estacionamento de veículos.

Ela admite que Juazeiro já perdeu a grande maioria dos seus prédios históricos e que, nesse aspecto, tem sido uma cidade praticamente sem memória. Parte desse acervo poder ser visto apenas nas fotografias.

Precariedade
O prédio da estação é uma dessas obras do passado bastante depredada. As portas e janelas, quebrados, demonstram o estado de precariedade, os dois banheiros no prédio estão destruídos e com lixo no entorno. Mesmo durante o dia, transeuntes, como a faxineira Francisca Pereira, passa todo o dia nas proximidades, mas a cada dia ela afirma que está com mais medo, por já ter ouvido falar em assaltos ocorridos na área. Principalmente no fim da tarde, ela afirma que moradores de rua se aproximam do prédio. Parte das paredes está pichada e com desenhos. Em 2009, integrantes da Associação Amigos da Artes (Amar), ainda decidiram ocupar parte do prédio, mas não por muito tempo. O local, além de ter sido a estação há várias décadas, também já chegou a abrigar a histórica gráfica Lira Nordestina.

Há mais de sete anos, já se falava num projeto para a recuperação do prédio, transformando-o num ambiente dinâmico de geração de artes e formação de artistas, além de importante ponto turístico para a cidade. Ainda não há nada definido no que diz respeito aos valores que podem ser destinados para a reforma.

A estação chegou a garantir uma dinâmica maior à cidade nos seus primeiros anos de independência política e possibilitava a integração entre as principais cidades da região, como Crato, Missão Velha, Barbalha, Iguatu e Fortaleza. A ideia era fomentar o desenvolvimento das localidades, aproveitando a fase de produção do algodão.

O comerciante Welson Mota decidiu ir até a estação e fazer um registro do que ele considera um descaso e decidiu levar às redes sociais a sua indignação. Ele lembra da estação como local de abrigo da Lira Nordestina, além e ser palco de apresentações artísticas. "Enquanto a juventude não tem para onde ir, temos um excelente local no Centro que poderia ser foco de atrações culturais", afirma.

Em agosto deste ano, foi aprovado projeto de lei na Câmara local, que declara como patrimônio histórico e material a pedra fundamental da estação do trem. É o marco de fundação da estação de trem ferroviário Rede de Viação Cearense da (RVC), em 12 de setembro de 1925.

A historiadora Ana Paula Monteiro Martins ressalta a situação de abandono do prédio e lembra que, no entono da estação, nasceram bairros importantes, como Franciscanos, São Miguel e Salesianos. Os trens foram desativados no fim da década de 1980 e a estação ferroviária continuou lá, inerte. "O tempo passou e nenhuma restauração foi feita. Nenhum reparo. Tomaram de conta do prédio vândalos e insetos. Tentaram criar um núcleo cultural, uma espécie de "mercado" onde alguns artesãos poderiam vender seus artigos. Mas, um novo projeto sem estrutura que logo caiu no esquecimento e na falta de concretização" avalia.

Prédio foi inaugurado por Padre Cícero
O prédio histórico da estação ferroviária de Juazeiro do Norte é uma das principais referências ainda presentes na cidade, mas em estado de abandono e já bastante depredado pelos vândalos. Inaugurado pelo Padre Cícero, em setembro de 1925, representa os primeiros passos para o desenvolvimento do Município. O fluxo de passageiros chegou a ser intenso até a década de 1970, entrando em declínio a partir de 1980, quando o transporte rodoviário se sobrepôs mais fortemente sobre o sistema ferroviário. Moradores das proximidades reclamam dos riscos de estar perto e do abandono do local.

Mais informações
Secretaria de Cultura e Romaria de Juazeiro
Memorial Padre Cícero
Praça do Cinquentenário
Telefone: (88) 8877-3402

ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste



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