Ele andou sobre a corda bamba na TV ao vivo. Mas e se desse tudo errado?


De origem alemã, a família Wallenda carrega uma tradição circense de mais de 100 anos. Os “The Flying Wallendas”, como são conhecidos, especializaram-se em proezas com cabos de aço e sem redes de proteção. Atualmente, Nik Wallenda é o mais notório integrante da família e vive literalmente por um fio, percorrendo longas distâncias a alturas absurdas. Ele já atravessou por cima das Cataratas do Niagara e o Grand Canyon, ambos feitos transmitidos ao vivo pela televisão. Ontem, o palco da loucura foi o centro empresarial de Chicago.

Wallenda tem 35 anos e praticamente nasceu na corda bamba. Para se ter uma ideia, a mãe dele se equilibrava em cabos de aço até o sexto mês de gravidez. Para ele, como definiu em entrevista à revista “Time”, “pode ser difícil de entender, mas isso é a vida para mim”. Nik tem batido seguidos recordes mundiais ao longo dos anos, e ontem, superou dois deles em um espaço de duas horas.

O Discovery Channel transmitiu as proezas de Nik Wallenda para 220 países. Foi quase ao vivo: havia um delay de 10 segundos, para permitir o corte em caso de alguma tragédia. E nada de terrível aconteceu. A uma altura de 200 metros, sem nenhuma segurança ou rede de proteção, Wallenda realizou dois percursos que interligavam três arranha-céus no centro da cidade. O primeiro foi feito em subida; no outro, ele tinha os olhos vendados.

Para começar, o maluco caminhou do topo do edifício Marina Tower West (a 177 metros de altura) até o alto do prédio da agência Leo Burnett (201 metros), com uma inclinação de 19 graus. Comparando, foi como estar no 50º andar e escalar mais oito andares a pé – de uma maneira bem menos segura do que a escada de incêndio. O frio e a ventania não se mostraram problema para esse atleta destemido nascido na Flórida, que cumpriu o desafio em menos de sete minutos – dizem que ele até planejava tirar uma selfie no meio do caminho, mas desistiu por causa das condições climáticas. Assista ao vídeo abaixo e morra de agonia.


Para quem tem pavor de altura, acompanhar cada passo é uma verdadeira tortura. Eu fiquei com as palmas das mãos molhadas já nos primeiros 15 segundos. Mas Wallenda esteve tranquilo como se passeasse no parque com o cachorro. Conversou serenamente com o pai e a esposa utilizando um ponto eletrônico e teve a frieza de admirar o visual noturno e celebrar a aclamação do público lá embaixo. Em certo momento, transmitiu o mantra de sua vida aos espectadores que o assistiam: “Vocês podem não entender o que estou fazendo. Mas é para isso que eu nasci”. Lembrando que a 200 metros de altura, tudo o que Nik tinha era uma vara nas mãos para se equilibrar. E ele não vacilou em nenhum instante.

wilcoApós receber abraços da mulher e filhos, veio a segunda parte do desafio, realizada entre as duas torres do edifício Marina City (as mesmas que aparecem na capa do disco “Yankee Hotel Foxtrot” da banda Wilco). O trajeto era menor, mas dessa vez, Wallenda tinha os olhos vendados. O único recurso externo era a comunicação com o pai por meio de um megafone, que dava dicas de onde e como o filho devia pisar. Foi bem mais rápido, em 1 minuto e 15 segundos, mas pareceu uma eternidade.

O feito de Wallenda me lembrou outra loucura transmitida em tempo real recentemente: o salto em queda livre na estratosfera de Felix Baumgartner, em 2012. Você se lembra?


É impossível não pensar: e se uma dessas proezas desse errado e o sujeito morresse ao vivo e em cores para o mundo todo ver? Ainda que se utilize o recurso do delay, será que não deveria haver limites para o conteúdo que as redes de televisão transmitem em tempo real?

Nesses tempos de informação vasta, imediata e interativa, a curiosidade mórbida é mais do que nunca uma característica onipresente na sociedade. Fica bem claro que enquanto houver um corajoso (ou maluco) disposto a se arriscar por fama e adulação, haverá uma plateia disposta a conferir e aplaudir. Para os medrosos e cautelosos como eu, só resta assistir com um olho aberto e o outro fechado – e torcer para que a sorte continue acompanhando os deuses da televisão.

Fonte: Blog Pablo Myazawa/UOL



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