Artigo: Por que Eunício perdeu

Os processos eleitorais, no Ceará, guardam uma configuração repetida de homologação. O ungido é fulano e isso vira verdade nas urnas. Esse ano não seria diferente. O governador Cid Gomes indicaria um candidato e esse, pela força de uma extensa coligação e da máquina estatal à serviço da causa, logo seria o confirmado. Entretanto, a inesperada candidatura de Eunício Oliveira adiou o embate, levando-o a uma pesada disputa no segundo turno. O que parecia uma ”barbada”, transformou-se em um quase pesadelo. A equipe de Ferreira Gomes teve que suar a camisa. A vitória não foi tão fácil... Bem melhor para a democracia quando conta com uma acirrada competição.

Depois que a luta passou, pode-se pensar com mais frieza sobre a pergunta chave: por que Eunício perdeu? Claro que uma campanha dessa dimensão não tem um único fator. São vários. São múltiplos. Comentemos os principais. Primeiro fator: Eunício demorou muito a encarar a parada. Foi até o limite do possível, aguardando que o governador fizesse uma análise mais serena e o indicasse candidato. Essa não era uma hipótese trabalhada por Cid Gomes. Nunca foi. Quando Eunício cuidou de armar seu time, muitos compromissos já estavam consolidados.

Segundo fator: a campanha de Camilo foi gradativamente sendo colada à de Dilma, sobretudo quando ficou mais claro o crescimento da presidente nas pesquisas. Eunício foi ambíguo. Não assumiu, com todas as tintas, a parceria com Dilma. A presença de Tasso, um tucano mor, em sua chapa, conseguiu inibi-lo. A onda Dilma era o mapa da mina. Camilo soube vender essa ideia. Passou a ser a grande senha de Cid Gomes, apesar de Eunício ter tido força bastante para impedir a vinda de Lula e/ou Dilma ao Ceará.

Tudo isso seria pouco, não fora o peso da máquina governamental. Essa funcionou a todo vapor, dividindo o Estado. Fortaleza e sua grande periferia deram vitória a Eunício. Porém, o Interior – Ceará profundo! – veio com força, desmantelando o adversário.

Eleito, Camilo Santana deixa de ser coadjuvante. Vai ocupar “aquela” cadeira e ter na mão “aquela” caneta. Mesmo que a glória não lhe suba à cabeça, não é difícil imaginar que logo mais ele será o número um e deverá buscar ser o governador de todos os cearenses... Que Deus o ajude!

Antonio Mourão Cavalcante
Médico, antropólogo e professor universitário

Fonte: O Povo



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