Apicultura na Chapada do Araripe tem perdas com efeitos das secas

A Chapada do Araripe está em plena florada do cipó-uva ou croapé, chegando ao auge da produção de mel nas milhares de caixas espalhadas pela região, após dois anos de intenso prejuízo no segmento. Chegou-se ao ponto, no ano passado, os apicultores se desfazerem das caixas pela perda das abelhas, em virtude do quadro de seca que se instalou no Estado e na região da Chapada do Araripe, responsável por grande produção de mel para exportação aos países da Europa, Estados Unidos, Ásia, Oriente Médio, principalmente. Este ano, já se contabiliza um aumento na produção em relação ao ano passado, de 80% a mais.

De acordo com o empresário Dario Chiachiarini, tem sido mais animador este ano, após dois seguidos de prejuízos no setor, com a recuperação do fornecimento no mercado externo, que é o principal foco de comercialização. A sua empresa pertence a um grupo de empresários argentinos, do qual faz parte da sociedade. É responsável pela compra da maior parte da produção nos apiários da região. "Procuramos oferecer um preço normalmente acima do mercado, e isso possibilita uma produção maior para comercializarmos", diz ele.

O Cariri tem fama no mercado internacional, por ser uma das poucas regiões do Brasil e única no Estado onde existe o cipó-uva em abundância e de uma qualidade diferenciada, chamando a atenção inclusive do mercado internacional. O mel orgânico produzido na região passou a ser uma das preferências do mercado europeu, principalmente pelo seu alto grau de pureza.

Neste final de semana, um grupo de norte-americanos esteve visitando empresas da região, para conhecer de perto o mercado. Os empresários, segundo Chiachiarini, são os maiores processadores de açúcar granulado dos Estados Unidos.

Demanda
E não é de se estranhar essa realidade qualitativa. Tanto que Dario, que é argentino, entre outros empresários estrangeiros, se instalaram na região e buscam comercializar a produção de diversas partes do Nordeste , principalmente a fornecida no Cariri. Mas boa parte desse mercado dos produtores nordestino também se volta para a região. No intuito de aproveitar da melhor maneira possível a florada, cujo mel da italiana é mais cristalino com o croapé existente na região, apicultores instalam-se por mais de cinco meses na Chapada, para obter o produto em grande escala.

Segundo Dario Chiachiarini, são mais de 40 mil colmeias espalhadas pela serra do Araripe e região. O processo de envasamento do produto é feito em Crato mesmo, na beneficiadora do empresário argentino e acondicionado em grandes tambores e conservados em câmaras frias, seguindo um padrão de higiene e acondicionamento ideal para todo o processo, desde a sua chegada ao local.

Chuvas
A produção poucas vezes fica prejudicada, mesmo em tempos de estiagem, como acontece em outras regiões do Estado. É preciso apenas poucas chuvas, e de até 20 milímetros, por exemplo, para que haja uma boa florada, segundo Dario. O cipó-uva, além de ofertar um mel de excelente qualidade, conforme o empresário, é também resistente. Ele destaca que as chuvas de pouca intensidade e esparsas são as ideais para a florada. "Quando vem um inverno muito rigoroso acaba não sendo muito bom para garantir uma boa produção", diz o empresário.

Nos últimos dois anos praticamente não chegou a haver floração e a produção caiu cerca de 80%. É um momento crucial, sobretudo para os pequenos produtores que sobrevivem dos apiários, que passam a ser uma renda importante para quem sobrevive basicamente da agricultura. Sem flores, água e vegetação as abelhas morrem por falta de alimento ou vão embora.

Este ano, mesmo com as chuvas abaixo da média, ele avalia como positivo, porque a floração foi boa e os apicultores recuperam as abelhas dos enxames, além de considerar de boa produção, mesmo não sendo totalmente normal, o que ele considera o equivalente a 100% da produtividade. O Cariri, por ser mais úmida do que outras áreas do Estado, se torna mais produtiva. Ele admite que em outras regiões do Ceará a produção chegou a ser menor, por falta de uma sequência de pequenas chuvas, o que seria necessário para manter as floradas. O empresário afirma que chegou a adquirir cerca de 1.500 toneladas do produto.

Compra
De acordo com Chiachiarini, a produção considerada boa poderá chegar a 50 toneladas de mel por ano, com o aumento de apicultores que migram de outros estados. Na serra do Araripe estão cerca de 500 apicultores, que vêm de vários estados para a região Sul do Estado.

O empresário disse que a sua empresa é responsável pela compra de mais de 90% do mel do cipó-uva produzido na região, por já terem compradores no mercado específicos para adquirir o produto desse tipo de florada. "Por termos esse mercado certo, ofertamos um preço melhor para o produto" ressalta. Mas há outras floradas, com produções maiores nos meses de unho e julho.

Localizada em um extenso planalto, com 160 quilômetros de comprimento e cerca de 50 quilômetros de largura na direção norte-sul, a Chapada do Araripe é considerada uma reserva ecológica que reúne fontes naturais, grutas e sítios paleon-tológicos, que abrange três estados brasileiros: está 46% dentro do Ceará, 46% em Pernambuco e 8% dentro do Piauí, totalizando uma área de 6.704 quilômetros quadrados.

Assim, a Indicação Geográfica para o Mel da Chapada do Araripe refere-se a mais de 10 espécies de floradas existentes na região. Além da florada do cipó-uva ou croapé, há floradas como a de giquiri, da vassourinha de botão, da visqueira, da pitomba, da cidreira, do carrasco preto, do jatobá, da murta e da copaíba, além de outras espécies menos conhecidas.

Mais informações
Matrunita da Amazônia Apicultura
Avenida Padre Cícero, 4455
Muriti - Crato- CE
Telefone: (88) 2101-0600 / 9702-4774

ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste



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