A violência e os herdeiros de uma fratura social exposta - Por: Elizangela Santos*

Eles se foram. Os pixotes da vida, herdeiros da precisão. Após uma onda de assassinatos de jovens, depois da morte de um policial na cidade do Crato-CE, durante assalto a uma farmácia, as pessoas se indignaram, outras falam em justiça com as próprias mãos. Uma constatação de uma realidade em que, diante da fragilidade humana, o corpo não tem dono, o julgamento pode ser feito por qualquer um, pelo próprio instinto de sobrevivência. O mundo do salve-se quem puder. Mas, mesmo assim, Deus tá vendo.

Foram-se cinco pessoas, jovens, em menos de 24 horas. A população da cidade parece não estar acreditando ainda no que aconteceu. Os meios de comunicação se esforçam para fazer o espetáculo da maldade e da tristeza, em busca dos detalhes da carnificina. O sensacionalismo em plena competição do maior número de acessos. As imagens mais tocantes.

Os meninos ficaram no obscurantismo em que viviam, até mesmo pelo que eram, segundo constam nas opiniões, considerados em sua maioria infratores, acusados de assaltos e homicídios. Outros porque estavam sem documentos. Dizem que eram menores. Ontem uma amiga gritava nas redes sociais que o crime acontecera em sua porta. Estava sem acreditar na decadência do que há lá fora. Eram mais dois corpos que tombavam no calar da noite, no chão de sua calçada, e filetes de sangue escorriam. Isso depois de perseguições aos autores do assassinato do agente, durante a tarde, no bairro Alto da Penha, localidade temida por muitas pessoas da cidade. Bairro pobre, de gente digna e alguns tantos meninos que desobedecem às leis da vida. Muitos e muitos já pagaram o preço. Quem mora por lá diz isso com propriedade.

Hoje, as mães, pais, grávida, filhos, choravam pelo triste destino de quem não se encantou com a beleza da vida, ou quem quis salvá-la dos meninos, e acabou viajando como herói.

A sociedade tem que repensar o seu destino. Os governantes precisam agir para uma realidade que bate à porta dos cidadãos. A energia não pode ser depositada apenas no show midiático do momento ou na indignação das pessoas, ou até mesmo na sua tristeza ou perplexidade, revolta, senso de justiça de cada um. O pensamento coletivo tem de ser em busca de alternativas para fazer algo mudar. Agora, é imaginar que um mundo melhor e de paz. Fica a pergunta: Como cada um poderá contribuir?

*Elizangela Santos é jornalista



Nenhum comentário:

Postar um comentário

AddThis