Venezuela: Chavismo cria sua própria versão do 'Pai Nosso'

“Chávez nosso que estás no céu”. Parece uma piada de mau gosto, blasfêmia, mas é a primeira frase da ‘oração chavista’, a mais nova criação do governo de Nicolás Maduro para tentar perpetuar o chavismo na Venezuela – reporta nesta terça-feira o jornal La Nación. A prece chavista foi apresentada oficialmente nesta segunda em um evento do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), atualmente no poder. A mais nova peça do populismo rasteiro de Maduro pode soar como piada, mas é cínica o suficiente para mesclar o chavismo com a oração mais popular do catolicismo, a religião de mais de 85% dos venezuelanos.

Em um teatro em Caracas, com a presença de Maduro, a oração marcou o encerramento – e o ponto alto – do evento governista. “Chávez nosso que estás no céu, na terra, no mar e em nós/ Santificado seja o teu nome, venha a nós o teu legado para ajudar pessoas de aqui e ali”, entoou em tom solene a deputada chavista Maria Uribe. "Dê a nós a tua luz para nos guiar todos os dias/ Não nos deixe cair na tentação do capitalismo, mas livra-nos do mal, da oligarquia, do crime de contrabando, porque a pátria, a paz e a vida são nossas/ Por séculos e séculos, amém/ Viva Chávez”, termina a oração.

O evento governista, focado para discutir os “desenhos do sistema de formação socialista”, começou na quinta-feira e teve a participação de cantores e poetas que dedicaram suas peças para o falecido presidente Hugo Chávez e a chamada revolução bolivariana. No encerramento, além de Maduro, estiveram presentes também ministros, governadores e outras autoridades chavistas. O presidente, em seu discurso, disse que a “revolução está em uma fase que exige cada vez mais valorização da educação".

"Quando nos perguntamos quais valores devemos construir e onde devemos fazer esses valores, só tem uma resposta: é preciso formar os valores de Chávez na luta diária na rua, criando, construindo revolução", disse Maduro, que prometeu fazer em breve “grandes anúncios” sobre o seu governo.

País com a maior reserva de petróleo comprovada do planeta, a Venezuela atravessa uma severa crise econômica, com escassez de produtos básicos, inflação de mais de 60% ao ano, entre outros problemas. Maduro acusa setores ligados à oposição venezuelana e conservadores dos Estados Unidos e Colômbia de promover uma "guerra econômica" contra seu governo. O país atravessou uma violenta onda de protestos entre fevereiro e final de maio devido à inflação, à falta de produtos básicos – como papel higiênico, açúcar, farinha ou leite – e à altíssima violência que provoca em média 65 mortes por dia no país. Os protestos, que foram duramente reprimidos, resultaram na morte de mais de 40 pessoas, além de mais de 700 feridos.

Fonte: Veja



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