Fontes de águas cristalinas na Chapada do Araripe secam por causa da degradação ambiental

As fontes de água cristalina da Chapada do Araripe enfeitam a paisagem e fazem da região um forte atrativo turístico. Mas, ao longo dos anos, o processo de conservação desses mananciais a céu aberto se tornou ameaçado pela devastação ambiental e o constante avanço da urbanização.

Não se tem contabilizadas pelos órgãos técnicos e ambientais, o número das que já secaram, mas há constatação da perda de vazão nas maiores nascentes, que se encontram em cidades do Cariri, sem falar na poluição ao longo das águas que saem dos recônditos das encostas da Chapada do Araripe.

Em toda a Bacia Sedimentar do Araripe foram cadastradas 350 fontes de água. Em torno de 250 estão no Ceará e as outras distribuídas no Pernambuco e Piauí.

A maior parte das fontes foi identificada nas cidades de Crato, Barbalha e Missão Velha. São 130, que detém 78% do volume total de água, segundo o biólogo Weber Girão, coordenador do Projeto de preservação do Soldadinho-do-Araripe, ave que sobrevive em áreas onde há fontes preservadas. A maior incidência desse pássaro em risco crítico de extinção se encontra nas áreas de encosta desses municípios e há uma luta pela conservação das matas e consequente preservação da espécie, identificada somente na área da Chapada do Araripe.

O trabalho de identificação das fontes e locais de morada do soldadinho, fez com que os integrantes do projeto saíssem mapeando as áreas, para realizar as pesquisas relacionadas ao pássaro e contagem.

Mas há a preocupação, conforme Weber, quanto ao futuro dos locais onde existem as fontes, caso não sejam criadas e institucionalizadas unidades de conservação e há uma luta em curso com essa finalidade. Foram identificadas pelo projeto as principais ameaçadas, como desmatamento total no local das nascentes, lavagem de roupas e encanamento total das águas, entre outros problemas.

Para os técnicos, é preocupante o nível de vazão das águas, e, para isso, há um processo de gestão ao longo dos anos, para que haja a preservação desse manancial aquífero, pelo menos em parte. Segundo o gerente regional da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), Yarley Brito, conforme as pesquisas já realizadas há um nível de complexidade no sentido de avaliar a vazão das fontes, por existir um ciclo hidrológico natural. Existem variações no volume de vazão. Algumas datações para comprovar esses estudos já foram realizadas.

"A floresta tem uma importância muito grande, por provocar uma infiltração com maior eficiência", diz ele, ao ressaltar a necessidade da preservação da Floresta Nacional do Araripe (Flona), ao longo dos anos, ao mesmo tempo em que se preocupa quanto aos avanços das moradias nas áreas de encostas das cidades da região. As construções nesses espaços acabam prejudicando o processo de infiltração das águas, preenchendo de água o subsolo. Além disso, as nascentes, em virtude das mudanças nesses ambientes, provocadas pelo homem e a própria natureza, fazem com que as águas busquem outros cursos.

Hidrelétricas
Uma das fontes de maior vazão atual é a Batateira, em Crato, mas que ao longo dos anos teve continuamente o processo reduzido, em virtude da exploração inclusive de hidrelétricas instaladas há cerca de cinco décadas, na cidade, por parte de donos de grandes propriedades de terra e moradores ao longo do trajeto da água. Em área como nas proximidades da fonte da Batateira, muitas lavadeiras se reuniam para lavar roupas, hoje sequer escorre água ao longo de algumas áreas onde o curso da água se estabelecia, em virtude na grande baixa da vazão.

O morador do distrito do Caldas, Antônio Francivaldo Batista, lamenta o avanço da poluição das águas na área. Ele disse que na levada de uma fonte denominada Cascata, na localidade do sítio Piquet, em Barbalha, atualmente recebe água com dejetos e esgotos das residências, poluindo consideravelmente o rio da comunidade. Os desavisados acabam até consumindo a água, e as lavadeiras que antes usavam para lavar as roupas de casa, não suportam sequer o mau cheiro presente. "É um verdadeiro esgoto", diz a moradora Maria Cecília Serafim, que há alguns anos podia realizar o serviço sem medo de doenças.

O acompanhamento das vazões continua sendo gerenciado pela Cogerh. De acordo com Yarlei, são vários tipos de fontes, e há mudanças de acordo com as circunstâncias climáticas também. "Essa dinâmica tem variações em função da própria condição do arenito, solo, e a água pode demorar sair em até seis meses", explica. Para ele, essa realidade merece um estudo até mais aprofundado. Desde que a Cogehr iniciou há 12 anos o seu trabalho na região, ele afirma que eram monitoradas quatro fontes, inicialmente.

O gerente da Cogerh destaca a complexidade para avaliar a vazão das fontes, já que não se tem, por exemplo, uma medida de como era esse volume no passado. Ele disse que a única fonte que pode ter uma referência maior é a da Batateira, a partir de um estudo que desenvolveu.

Mais informações
Cogerh
Rua Coronel Secundo, 255
Bairro: Centro
Município: Crato
Telefone: (88) 3523-6302

ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste



Nenhum comentário:

Postar um comentário

AddThis