Eleições 2014: A aposta furada no choque na economia defendida por Marina Silva - Por: Luís Nassif

Não devem ser levadas a sério as declarações dos economistas de Marina Silva - Eduardo Gianetti e Alexandre Rands - a respeito de um provável choque fiscal, em caso de vitória.

Não que eles não sejam sérios: apenas não são do ramo, como outros economistas que passaram pelo governo, caso de Arminio Fraga, da equipe de Aécio Neves, ou Nelson Barbosa, que serviu o governo Dilma, ou mesmo André Lara Rezende, do grupo de Marina.

Gianetti é especializado numa espécie de filosofia da economia. Dentre seus atributos intelectuais, não consta o do conhecimento macroeconômico. Dentre os profissionais, nenhuma experiência, por mínima que seja, com políticas econômicas. Rands tem algum conhecimento de desenvolvimento regional, é oriundo do grupo de Eduardo Campos, e sua entonação ultraliberal parece muito mais voltada para conquistar espaço no barco de Marina.

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Choques são apropriados apenas em momentos de descontrole econômico - como era o ambiente econômico pré-Real. Em ambiente de relativa estabilidade, a ideia do choque, da bala de prata só comove neófitos sem visão estruturada da economia.

A política econômica visa diversos objetivos, muitas vezes conflitantes entre si. Choque significa jogar toda a força da política econômica em um dos objetivos, deixando de lado os demais.

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O que ocorreria se toda prioridade fosse apenas em um objetivo:

Controle da inflação: com choque fiscal, afetaria crescimento, emprego e renda.

Contas externas: com desvalorização drástica do câmbio, afetaria inflação, crescimento, emprego e renda.

Equilíbrio fiscal: com choque radical, afetaria crescimento, emprego e renda.

Crescimento do PIB: com política fiscal e creditícia soltas, afetaria a inflação e  as contas externas.

Emprego e renda, com ganhos de salário muito acima da produtividade: afetaria inflação e contas externas.

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O diagnóstico dos dois economistas é que as expectativas de inflação estão desalinhadas devido aos problemas fiscais e ao represamento de tarifas.

O caminho, então, seria um choque de preços - câmbio, tarifas etc. Em um primeiro momento, esse choque colocaria mais lenha na inflação. Em cima da inflação de custos haveria a chamada inflação inercial (dos contratos indexados) e os movimentos defensivos de todos os demais setores da economia.

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O passo seguinte seria um choque de demanda.

O choque de tarifas foi sobre preços básicos da economia, que impactam todos os setores - combustíveis, energia elétrica, câmbio. Há diversos preços que não são controlados pela demanda de curto prazo - caso de aluguéis indexados, preços de setores cartelizados, produtos comercializáveis (com cotação internacional) etc. Assim, todo o peso do ajuste teria que recair sobre o segmento de preços livres.

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Aí o Eduardo Gianetti seria colocado em plena Avenida Paulista, com um quadro-negro, explicando a manifestantes alucinados, que perderam emprego ou renda, os poderes curativos da recessão. Nem a Bíblia salvaria Marina das nuvens de gafanhoto devastando sua plantação política.

Por tudo isso, aposte que, seja quem for o vencedor, haverá uma caminhada para a normalidade sem gestos heróicos nem pacotes.

Fonte: Jornal GGN



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