Cera nas maçãs: descubra o que é verdade e o que é mito

Você já assistiu a alguns vídeos que estão rolando na internet mostrando consumidores raspando ceras das maçãs? Se não, é assim: eles mostram uma maçã, normalmente daquelas armazenadas em saquinhos plásticos, comprados em mercado, e fazem um alarde sobre as ceras que envolvem as frutas. Pegam uma faca, raspam levemente por cima da casca e mostram abismados uma quantidade considerável de cera, parecida até com cera de vela.

Depois da postagem de um dos vídeos, em apenas seis dias, o conteúdo foi compartilhado por 62.795 usuários no Facebook (assista aqui). Depois disso, o Reclame AQUI identificou alguns consumidores pedindo explicações ao Grupo Fisher. No dia 13 de setembro, uma consumidora de São Paulo reclamou contra a empresa, produtora das maçãs Turma da Mônica, depois de assistir ao vídeo. "Vi um vídeo no Facebook com uma mãe tirando "cera" da casca da maça. Que produto é realmente?", indaga a consumidora pelo Reclame AQUI.

Em resposta, a empresa alega que "o acúmulo de ceras sobre a epiderme (casca) de frutas, folhas e até mesmo sobre flores, é um processo natural do desenvolvimento das plantas". E finaliza dizendo que "em vista do exposto, não se justifica a divulgação das informações equivocadas no vídeo postado em rede social".

Portanto, o aparente absurdo não passa de um exagero. Claro que, ao escolher por uma dieta saudável, como a de frutas, ninguém espera que um alimento como esse possua conservantes industriais. Por isso, a reportagem do Reclame AQUI foi atrás para saber duas coisas: primeiro se os vídeos eram verdadeiros. Sim, eram reais! E, por fim, queríamos saber o que eram aquelas ceras e, principalmente, se fazem mal à saúde.

Conversamos com a professora doutora Marney Cereda, pesquisadora do CeTeAgro/UCDB e especializada em Alimentos, que esclareceu nossas dúvidas. Só para começar, ela lembrou que as frutas (e verduras) já contêm ceras naturais. "A cera da uva por exemplo pode ser aproveitada das cascas e comercializada para produtos de beleza", explica.

Confira a entrevista que a especialista concedeu ao Reclame AQUI Notícias.

Para as frutas que já a possuem, naturalmente, qual a finalidade dessas ceras?
Profª Cereda: Elas protegem as frutas e verduras das perdas de peso por evaporação e podem também, inclusive, proteger de insetos e doenças. No caso das maçãs em geral não há necessidade de adicionar mais cera, mas as frutas são escovadas como preparo para a venda, aumentando seu brilho. Há artigos atestando sua inocuidade.

Isso quer dizer que as frutas de feira também têm essa cera?
Profª Cereda: Tem sim, assim como as orgânicas.

E qual a composição básica?
Profª Cereda: A cera é um derivado de gordura (lipídios), um tipo de óleo.

Em que situações é necessário adicionar mais dessas ceras?
Profª Cereda: Quando elas não ocorrem naturalmente ou então em pequena quantidade, como nas laranjas para exportação. Ninguém põe cera em frutas de mercado nacional se não é necessário, porque é um insumo caro, e encarece o produto. Em geral um solvente da cera e usado para evitar que descasquem e para que fiquem mais aderentes à casca. Nos vídeos que estão na internet, pode notar que as pessoas fizeram força para raspar.

A ingestão dessa cera compromete a saúde?
Profª Cereda: Se for cera alimentar não há qualquer problema. A película é fina e as ceras são de difícil digestão no estômago. Mesmo que fosse uma cera inadequada, a quantidade é muito pequena. Finalmente é aconselhável descascar as maçãs antes de comer.

O alarde dos consumidores contra essas ceras na internet procede ou é falta de conhecimento? 
Profª Cereda: Eu diria que a preocupação, em si, procede, mas que as colocações de informações pessoais em rede ficou tão fácil, que as pessoas nem se preocupam de buscar informações. Neste caso pode-se afirmar que faltam informações.

Se falta informação, será que não seria bom as indústrias e os mercados informarem a composição dessa cera aos consumidores?
Profª Cereda: Claro que devem. Ocorre que como a quantidade é pequena, não aparece no rotulo de ingredientes, porque seria uma porcentagem ínfima. Mas deveria estar listada. Em geral e só entrar em contato com o SAC da empresa registrada no saquinho e perguntar. A ANVISA também tem informações sobre o que pode e não pode ser usado em alimentos.

Para quem assistiu aos vídeos, ficou assustado, qual sua dica?
Profª Cereda: A opinião das leitoras foi emitida sem nenhuma preocupação de verificar outras possibilidades! E se estão tão preocupadas, descasquem as maçãs. A perda de vitaminas, como a quantidade de cera, é irrisória para a saúde humana.

Fonte: Reclame Aqui



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