Cartunista é demitida após comparar assinatura de Hugo Chávez e morte

Uma cartunista venezuelana anunciou na quarta-feira (18) ter sido demitida do jornal "El Universal" por causa de um desenho no qual a assinatura do ex-presidente Hugo Chávez é reproduzida como se fosse o eletrocardiograma de um paciente de hospital recém falecido.

A imagem, que ataca a situação da saúde pública no país, ainda era visível no site do diário quando esta reportagem foi postada.

O corte de Rayma, uma das mais conhecidas caricaturistas do país, reforça a impressão de que o "El Universal" deixou de ser um veículo ligado à imprensa oposicionista desde sua compra por um obscuro grupo espanhol, em julho.

Em relato a uma radio local, Rayma disse ter sido convocada por um dos editores, que, segundo ela, externou a contrariedade da diretoria pelo desenho e anunciou o corte.

O tema da saúde é delicado, já que a oposição direitista acusa Chávez –morto em 2013, após 14 anos na Presidência–, e seu sucessor, Nicolás Maduro, de ter implantado políticas socialistas que arruínam a saúde pública e causam escassez de medicamentos
.
Governistas alegam que as acusações são parte de uma guerra psicológica propalada pela mídia privada com apoio dos EUA e afirmam que o acesso da população carente à saúde vem melhorando consideravelmente. Não se sabe como a saída de Rayma será efetivada, já que a lei trabalhista venezuelana proíbe demissões sem que haja processo entre empregado e empregador.

Em agosto, a cartunista já havia usado o Twitter para reclamar de censura por parte dos novos donos do jornal, para o qual trabalhava havia 19 anos. "Aos meus leitores e seguidores digo que seguimos adiante por outros veículos menores, mas com infinita criatividade", disse Rayma no Twitter, em meio a dezenas de mensagens de apoio.

Não está claro, contudo, a que veículos ela se referiu. O "El Universal" até agora não se pronunciou sobre o episódio. Desde sua fundação, em 1905, jornal era ligado a famílias que acabariam se tornando elementos centrais da oposição ao chavismo.

Em julho, a diário anunciou ter sido vendido a um recém criado grupo de investimentos espanhol chamado Epalisticia, em meio à uma deterioração da relação entre o governo e veículos privados de oposição. Jornalistas da Venezuela e da Espanha dizem não ter dúvidas de que os investidores por trás da aquisição são ligados ao chavismo.

O jornal, que havia prometido manter sua independência, ainda publica reportagens críticas contra o governo, mas leitores se queixam de que não encontram o tom mordaz de antes da compra.

Dois outros importantes veículos privados venezuelanos, a TV Globovision e o jornal "Ultimas Noticias", foram recentemente comprados por investidores, o que gerou um alinhamento editorial ao governo mais evidente do que no caso do "El Universal."

O Estado chavista também é acusado de sufocar economicamente a imprensa dissidente ao pressionar empresas a cortar anúncios e ao restringir o acesso dos jornais aos dólares necessários à importação de papel.

Fonte: Folha.com



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