Dilma diz que não vê sentido alguém do Planalto fazer perguntas da CPI da Petrobras

A presidente Dilma Rousseff disse na manhã desta quarta-feira que não faz sentido que servidores de fora da Petrobras tenham elaborado ou auxiliado na elaboração de perguntas feitas aos dirigentes da empresa para serem utilizadas durante a CPI que apura a compra da refinaria de Pasadena, nos EUA. Em entrevista coletiva após sabatina na CNA, afirmou que os assuntos relacionados à estatal são complexos tecnicamente e que seria “estarrecedor” se fosse necessário que alguém de fora da empresa precisasse formular perguntas para a Petrobras.

De acordo com reportagem publicada nesta quarta-feira pelo jornal “Folha de S.Paulo”, a atuação da Petrobras e da liderança do PT no Senado durante a CPI que investiga a estatal foi coordenada por assessores do Palácio do Planalto. A tarefa teria ficado sob a responsabilidade do ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência, Ricardo Berzoini, que cuida da articulação política do governo com o Congresso, e cujo assessor teria ajudado a elaborar o plano de trabalho da comissão.

- No Planalto, não há expert em petróleo e gás. Expert nisso é a Petrobras. Não é o Palácio do Planalto nem nenhuma sede de nenhum partido. Quem sabe sobre pergunta de petróleo e gás é a Petrobras e todas as empresas de petróleo e gás. Há uma simetria de informações entre nós mortais e o setor de petróleo, que é altamente oligopolizado e extremamente complexo tecnicamente. Acho estarrecedor que seja necessário alguém de fora da empresa elaborar perguntas para a Petrobras - disse Dilma.

Questionada se o eventual bloqueio dos bens da presidente da Petrobras, Graça Foster, pelo TCU causa algum constrangimento, a presidente minimizou. Disse que o que ainda não foi julgado não gera constrangimento algum.

À tarde, o candidato a presidente pelo PSDB, senador Aécio Neves, disse que a estratégia do “não sei de nada” não cola mais e que a presidente é a responsável pelos atos de “aloprados” levados por ela para dentro do Palácio do Planalto.

Ao confirmar que não irá mais se licenciar, ele chegou a anunciar também que a oposição decidira rever a estratégia de não participar da CPI do Senado e que iria fiscalizar e acompanhar as investigações.

— Você dizer que não sabe quem está na varanda da sua casa já é difícil. Agora, dizer que não sabe de atos praticados por pessoas dentro da sua cozinha é impossível — criticou Aécio, citando que toda a suposta combinação para fraudar a investigação da CPI foi feita no gabinete ao lado da sala da presidente.

Mais tarde, entretanto, o tucano voltou atrás. Após uma reunião no Senado com os líderes Aloysio Nunes (PSDB), candidato a vice-presidente em sua chapa, e Agripino Maia (DEM-RN) , coordenador geral da campanha, Aécio Neves disse ter se equivocado quando disse que a oposição iria rever a decisão de não participar da CPI da Petrobras no Senado.

Aécio se corrigiu e disse que a ideia é reforçar a participação da oposição na CPI mista da Câmara e Senado, não da CPI que é alvo de denúncias de combinação de perguntas e respostas com os dirigentes da Petrobras.

— Desculpem, eu me enganei. Quando me perguntaram sobre CPI eu entendi que era a CPMI, pela qual sempre lutamos — corrigiu-se Aécio.

— Essa CPI do Senado, além de chapa branca, agora está podre, foi bichada pela interferência do Palácio do Planalto. Vamos atuar na CPMI , onde tem mais espaço para a oposição atuar — completou Aloysio Nunes.

Segundo a reportagem da “Folha de S. Paulo”, o secretário-executivo da Secretaria de Relações Institucionais, Luiz Azevedo, número 2 na hierarquia da pasta, teria ajudado a elaborar o plano de trabalho da CPI da Petrobras no Senado, com um roteiro para a investigação e sugestões de perguntas.

Azevedo teria ficado encarregado de blindar a presidente Dilma Rousseff, fazendo a interlocução do governo com a estatal, a fim de alinhar a atuação governista na CPI. O assessor especial da Secretaria de Relações Institucionais Paulo Argenta também teria sido escalado para a tarefa.

Como mostrou a revista “Veja” desta semana, dirigentes e ex-dirigentes da Petrobras receberam antecipadamente as perguntas que lhes seriam feitas por senadores durante depoimentos à CPI, em maio. As perguntas teriam vindo acompanhadas de respostas preparadas pela assessoria da estatal e chegado à presidente da Petrobras, Graça Foster, ao ex-presidente José Sérgio Gabrielli e ao ex-diretor da Área Internacional da empresa, Nestor Cerveró.

A estatal afirma que só tomou conhecimento das perguntas após a divulgação do plano de trabalho da CPI.

Ainda segundo a “Folha de S. Paulo”, o governo teria discutido com assessores do PT no Senado e o chefe do escritório da estatal em Brasília, José Eduardo Barrocas, a conveniência ou não da aprovação de requerimentos da CPI.

A CPI do Senado, assim como uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito no Congresso, investiga a compra, pela Petrobras, de uma refinaria em Pasadena, nos Estados Unidos. O Tribunal de Contas da União (TCU) estima que o negócio tenha causado prejuízo de US$ 792 milhões à estatal e Graça Foster poderá ter seus bens bloqueados pelo TCU a fim de ressarcir o prejuízo ao erário.

A Petrobras, contudo, deverá acionar um seguro para cobrir o valor a ser cobrado pelo TCU individualmente de 11 dirigentes e ex-dirigentes da estatal. É o que informa reportagem desta quarta-feira do jornal “O Estado de S. Paulo”. Segundo a reportagem, a empresa já teria avisado aos executivos que acionará um seguro para cobrir essas despesas, evitando que Gabrielli e Ceveró, entre outros, tenham que desembolsar recursos próprios. Segundo o jornal, a Petrobras justificou a medida como forma de "resguardar" os executivos.

Fonte: O Globo



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