As brincadeiras populares da infância são resgatadas por meio de projeto neste município, fortalecidas nos bairros, como forma de integrar as crianças e adolescentes. Em tempos de tecnologia, a velha forma de brincar tem sido a alternativa para tirar as crianças de casa e leva-las para os campinhos, terreiros e praças. Mais espaços públicos deverão ser recriados para isso. E se as formas do brincar mudam cada vez mais, os espaços passam a ser raros, ocupados com as construções. O Projeto "Brincadeiras de Infância", está dentro do programa permanente "Cidade Lúdica", desenvolvido por meio da Secretaria de Esportes da cidade.
Mesmo no Interior, os arte educadores já se preocupam com as novas tecnologias dando lugar à individualidade da infância. As crianças não têm compartilhado, tanto com há poucas décadas, a sua forma de brincar, interagindo com os outros. Para o secretário de Esporte do Crato, Robério Alves, o projeto inicia como uma forma de resgate e também como um alerta para que se busque formas saudáveis de desenvolver o brincar. Para isso, serão realizadas oficinas de brinquedos nos bairros e um trabalho para o resgate dos espaços voltados para as brincadeiras de infância na cidade.
"Os locais onde brincamos na nossa infância, infelizmente não existem mais. Os campinhos de bairros, estão dando lugar às construções. Algumas praças devem ser ocupadas com recreação e lazer para a criança, adolescente e direcionadas ao idoso", afirma. Para o secretário, a brincadeira diz muito do adulto. O projeto partiu do lúdico dessa infância meio que perdida, sem ter que se preocupar com regras.
Despertar
Outro objetivo do projeto é afastar as crianças, principalmente da periferia da cidade, do mundo das drogas. "Esse despertar passa a fazer parte de um programa levado aos bairros durante as férias, e será itinerante e toda semana será destinado a uma comunidade", afirma Robério Alves. Os próximos bairros serão o Alto da Penha e o Seminário. Essas primeiras localidades são escolhidas por simbolizarem a realidade dessa mudança e diminuição dos espaços de brincadeiras ao longo dos anos.
Uma opção a mais para a criança, fora da sala de aula, com laboratórios de brinquedos. O interessante, conforme o secretário, é ensinar a criança também a fazer o seu próprio brinquedo. "Isso era o que acontecia na nossa infância de interior", afirma. A bola de gude, bola de meia, futebol de campinho, brincadeira de boneca, fazem parte de cerca de 20 brincadeiras de infância que foram levantadas.
A ideia é também partir para parcerias com organizações não governamentais e a própria administração municipal local, para manter convênios de apoio junto à comunidade. Nesse momento, estão participando estudantes de universidades regionais, de cursos como Serviço Social, Pedagogia, Psicologia e Educação Física. A meta é manter os espaços de laboratórios e salas de brinquedo, também ter retorno garantido para a permanência desses pontos referenciais, para aprendizado e comercialização de bonecas de pano, carrinhos de lata e outros. Participaram desse primeiro momento 28 universitários voluntários dos trabalhos. As brincadeiras do primeiro dia de trabalho foram peteca, bila ou bola de gude, trancelim, racha ou futebol de campinho, bambolê, tabuleiros, uso de balões e pipas. A primeira etapa de trabalho, que funciona durante o mês das férias, será de divulgação, reunindo a cada atividade cerca de 150 crianças. Neste mês, serão visitados quatro bairros da cidade.
Desenvolvimento
A estudante de Educação Física da Universidade Vale do Acarau (UVA), Samara Matos, avalia o projeto na promoção do distanciamento das crianças da droga e da violência, além de ajudar na coordenação motora.
"É muito gratificante poder participar desse trabalho, por já termos uma experiência com as crianças", frisa. Ela destaca outro aspecto, que é a criança ter uma vida mais ativa, longe do sedentarismo.
Para o arte educador Alexandre Lucas, essa alternativa do brincar tem sido de fundamental importância, para o desenvolvimento psicológico da criança e adolescente, onde é possível se refletir sobre a vida.
"Há um papel significativo, tanto no processo cognitivo, e também do psicomotor e da integração social", explica. Para ele, a brincadeira é uma forma de promover a socialização e o repensar da paisagem urbana, principalmente nas comunidades, onde as crianças recriam o espaço urbano.
As novas tecnologias, de acordo com Alexandre, acabam dando uma compreensão de isolamento, individualidade, competição. "O jogo é essencial por possibilitar contato social, dando espaço para a busca de si mesmo, com o conflito, ensino o perder e o ganhar, e a criança possa lidar com isso também", diz.
ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER
Fonte: Diário do Nordeste
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