Cariri em duas rodas focado no cicloturismo

Que tal viajar de bicicleta pelo Cariri, curtindo com calma cada pedacinho de um trajeto rico em atrativos naturais, culturais, geológicos e paleontológi-cos? Essa é a proposta do Roteiro Chapada do Araripe de Cicloturismo que está sendo estruturado na região.

Trata-se de uma iniciativa inédita no Ceará que partiu de uma entidade não governamental, a Ecobikers, com a parceria do Geopark Araripe e do poder público municipal O objetivo é criar um circuito oficial de cicloturismo, modalidade que conquista cada vez mais adeptos no Brasil e no mundo.

O evento de lançamento do roteiro chama-se Ciclotur Chapada do Araripe e será realizado durante o feriadão da Semana Santa (de 18 a 21 deste mês), com a participação de 30 cicloturistas do Ceará e de outros Estados. Na ocasião, será concluído o trabalho de sinalização, mapeamento, planilha e georeferenciamento, o que permitirá que qualquer turista possa fazer, posteriormente, o roteiro com o uso de um GPS. Além disso, o Ciclotur também servirá como teste para avaliar a capacidade de ciclistas não atletas de fazerem o trajeto.

Segundo o diretor presidente da Ecobikers, Ernesto Rocha, a ideia é criar um circuito auto-guiado, integrando as seis cidades onde estão localizados os geossítios do Geopark Araripe, o único do Brasil. "O cicloturista viaja buscando estar em contato com a natureza, conhecer as áreas rurais, viver uma aventura e relacionar-se com pessoas de diferentes culturas. O Cariri, em especial o Geopark Araripe, pode proporcionar tudo isso. Temos nove geossítios e um patrimônio geológico e paleontológi-co único no Brasil e raro nas Américas. As paisagens são belíssimas e a biodiversidade é de encher os olhos. Fora a cultura e a religiosidade do Cariri, que são ímpares", justifica.

O roteiro começa e termina no Crato, mas inclui também Nova Olinda, Santana do Cariri, Barbalha, Missão Velha e Juazeiro do Norte. O trajeto totaliza 280 quilômetros distribuídos em cinco dias, mas, para o evento teste, serão percorridos cerca de 260 quilômetros em apenas quatro dias, numa média de 65 quilômetros diários.

Outro diferencial do roteiro é que no plano da Chapada do Araripe, mais especificamente na Floresta Nacional do Araripe, encontra-se a maior "singletrack" do Brasil. Nessa modalidade, os ciclistas fazem a trilha pedalando em uma espécie de fila indiana em função das características do terreno. "Vamos contar no Ciclotur com 16 ciclistas do grupo de mountain bike Singletrack de Fortaleza", ressalta Ernesto.

De acordo com ele, a proposta do roteiro é de que os turistas pernoitem nas casas dos moradores das localidades visitadas, incentivando o turismo social de base comunitária, muito apreciado por estrangeiros e já bastante consolidado em destinos internacionais da América Latina, como o Peru e o Chile. Como a estrutura de hospedagem é limitada, o grupo que participa do Ciclotur é restrito a 30 participantes. No entanto, os interessados em participar podem acompanhar o grupo e procurar outros locais para dormir.

"Todas as cidades do roteiro têm atrativos como florestas, riachos, cachoeiras, campos etc. À beira das estradas moram pessoas de hábitos simples, trabalhadores rurais, fazendeiros e camponeses, que sempre têm uma história boa pra contar. Durante o percurso, o cicloviajante se depara com festas tradicionais, o folclore local, com os hábitos, o linguajar, a culinária e as crenças dos moradores. Todos esses caminhos são encantadores para os cicloturistas. No caso do Ciclotur, que será durante a Semana Santa, a probabilidade de encontrarmos os Caretas do Cariri (manifestação cultural tradicional da região nesse período) é grande", afirma o diretor da Ecobikers.

De acordo com ele, o circuito de cicloturismo do Cariri é um dos poucos no Nordeste planejados especialmente para essa atividade. Atualmente, há experiências semelhantes na Chapada Diamantina (Bahia). No Ceará, há outra iniciativa de turismo sob duas rodas interligando Fortaleza a Jericoacoara.

Apoio
Ernesto Rocha explica que a ONG Ecobikers foi fundada em 1996 e, desde então, promove o ciclismo amador e profissional na região. A ONG começou com seis pessoas e hoje já são mais de 1200 ciclistas cadastrados. Em 2010, surgiu a ideia de desenvolver o cicloturismo no Cariri, com a criação e a estruturação de um circuito específico e, a partir de 2012, começaram a intensificar os trabalhos para a roteirização.

O apoio do Sebrae, na opinião do presidente da ONG, foi determinante para a execução do projeto. A instituição apoiou a participação da Ecobikers na Adventure Fair, principal evento da América Latina dedicado ao turismo de esportes e aventura realizado em São Paulo.

"Lá, tive a oportunidade de assistir a palestras e conhecer o pessoal do Clube de Cicloturismo do Brasil. Esse contato me proporcionou a realização de benchmarking durante o Carnaval no Circuito do Vale Europeu, em Santa Catarina, o mais desenvolvido do Brasil e que tem também apoio do Sebrae. Essa experiência foi muito válida para trocar ideias e ver como funciona lá para fazer aqui", diz Ernesto.

Por meio do escritório regional do Cariri, o Sebrae apoia o roteiro não só através da participação em eventos, mas também com orientações técnicas e estímulo ao empreendedorismo e melhoria dos serviços prestados aos turistas e ciclistas nos municípios que compõe o roteiro.

"A expectativa é que o roteiro traga resultados positivos para a região, como o aumento do fluxo de turistas, prosperidade dos pequenos negócios e geração de emprego e renda", diz o analista Édio Callou. Segundo ele, o circuito se configura como mais um produto turístico regional e enaltece os atrativos do Cariri. "É uma iniciativa empreendedora e fundamental para o desenvolvimento sustentável da atividade turística na região, pois leva ao mercado um produto turístico diferenciado", avalia.

O roteiro conta com a parceria das prefeituras do Crato, Nova Olinda, Santana do Cariri, Barbalha, Missão Velha e Juazeiro do Norte, além do Instituto Chico Mendes e do Geopark Araripe.

Ciclotur
Programação

Dia 18
6h – Saída na sede do Geopark Araripe. Percurso: Crato – Nova Olinda. Atrativos: Parque Estadual Sítio Fundão, Geossítio Batateira "Cascata", Bebida Nova, Flona,Santa Fé, Engenho da Serra, Gostoso, Olho D`água, Geossítio Ponte de Pedra, Araças, Pedra Branca, Nova Olinda.

Dia 19
6h – Saída no CAT – Nova Olinda. Percurso: Nova Olinda – Santana do Cariri – Casa sede ICMBio. Atrativos: Geossítio Pedra Cariri, Museu de Paleantologia de Santana do Cariri, Vila Cancão, Geossitio Pontal da Santa Cruz, Cajueiro, Minguiriba, Casa Sede Flona Araripe. 15h – Saída da Casa Sede. Percurso: Casa Sede – Barbalha. Atrativos: Trilha do Bonfim, Trilha do Picoto, Trilha do Caldas, Casa da Santa Rita, Caldas, Sítio Pinheiros.

Dia 20
7h – Saída Sítio Pinheiros. Percurso: Barbalha – Missão Velha. Atrativos: Geossítio Riachodo Meio, Sitio São Vicente, Bela Vista, Barbalha, Alto da Alegria, Malvinas, Matadouro, Sítio Cabeludo, Riacho das Palmeiras, Sítio Espalhado, Missão Nova, Sítio Coqueiro, Missão Velha.

Dia 21
7h – Saída do GeossítioCahoeira. Percurso: Missão Velha – Juazeiro do Norte – Crato. Atrativos: Geossítio Cachoeira, Sítio Cachoeira, Sítio Cupim Sítio Pedrinhas, Juazeiro do Norte, Geossítio Colina do Horto, Santo Sepulcro, Vila Leite, Vila São Bento, São Miguel, Crato - Praça da Sé.

Atividade cresce em todo o mundo
Foi-se o tempo em que viajar de bicicleta era algo restrito a atletas e considerado uma atividade arriscada. Segundo dados da Associação Mundial do Trade de Turismo de Aventura (ATTA), o mercado do turismo de aventura cresceu cerca de 60% nos últimos quatro anos e parte desse crescimento está diretamente relacionado à velha e boa magrela na modalidade conhecida como cicloturismo.

O cicloturismo é a modalidade de viagem turística usando a bicicleta não só como meio de transporte, mas como uma companheira de viagem, geralmente em estradas secundárias e caminhos de interior. De acordo com a publicação "Circuitos de Cicloturismo: Manual e Incentivo e Orientação para os Municípios Brasileiros", elaborado em Santa Catarina, o cicloturista busca aventura, belezas naturais e simplicidade, mas aprecia conforto e bons serviços.

O cicloturista, ainda de acordo com o manual, vive intensamente o trajeto, relaciona-se com as pessoas do caminho e dá tanta ou maior importância ao percurso quanto ao destino. Existem diversas modalidades de viagem de cicloturismo. A viagem pode durar de um dia a vários meses e percorrer desde uma comunidade do interior até vários países. O roteiro pode ser cumprido sozinho, em dupla, em família ou em grandes grupos.

O ponto de partida pode ser alcançado com a própria bicicleta, de carro, de ônibus, de avião ou com o auxílio de carros de apoio de operadoras especializadas. O custo da viagem ou os gastos de cada cicloturista também são proporcionais à dimensão da aventura.

O cicloturista "médio" tem em torno de 30 anos de idade, pedala em pequenos grupos durante até uma semana, transporta sua bicicleta no ônibus até o início do roteiro, hospeda-se em pousadas e gasta mais de R$ 50,00 por dia.

Na internet encontram-se várias comunidades e grupos de debate e centenas de blogs, páginas pessoais de cicloturistas e serviços de apoio e orientação ao cicloturismo. Relatos, fotos, filmes, mapas, roteiros com coordenadas geográficas, dicas para iniciantes, receitas culinárias, orientações mecânicas, pontos de venda de equipamentos, informações de hospedagens e de serviços diversos são facilmente acessíveis na rede mundial de computadores.

Isso revela dois outros aspectos do cicloturista: geralmente ele possui uma boa instrução e relaciona-se constantemente com seus pares. O cicloturista frequentemente divulga suas aventuras, publica fotos, recomenda trilhas, fala bem - ou mal - dos serviços e da acolhida que encontrou pelo caminho. Isso é certo: muitas pessoas, interessadas ou não, ficarão sabendo onde e como foi cada viagem de cada cicloturista.

Mais informações
Ciclotur Chapada do Araripe 
Contatos: (88) 9904-6263 ou ecobikers@gmail.com

Fonte: Diário do Nordeste



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