Barbalha (CE): Usina desativada tem área ociosa para cultivo da cana

No passado, a cultura de cana de açúcar trazia orgulho e, mais do que isso, prosperidade para o Cariri. Não foi à toa que se construiu uma usina neste município de médio porte destinado para processar a abundante matéria prima e que hoje está desativada. Aliás, a realidade atual foi na contramão. No lugar dos canaviais, cada vez mais há o cultivo da banana, numa aposta do produtor de que se trata da cultura mais viável para a região.

Quase um ano depois de ser arrematada em leilão pelo Governo do Estado, por R$ 15,4 milhões, ainda não há proposta de compra da Usina Manoel Costa Filho, em Barbalha, e nem perspectiva de funcionamento. Desativada desde 2004, o equipamento foi adquirido por meio da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece).

Os espaços de cultivo da cana são cada vez menores e produtores estão desanimados, em relação ao retorno da produção. Em lugar de cana, o plantio de bananas na região toma espaço, e até mesmo na área em volta da usina, antes tomada pelo canavial, agora é substituído pela bananicultura. A grande expectativa está voltada para a finalização do Canal da Transposição do Rio São Francisco e do Cinturão das Águas no Estado. Pode ser o incentivo que o investidor necessita para a retomada da cultura.

Proposta
Depois de vários contatos, que ainda continuam ocorrendo com os possíveis investidores da cultura canavieira, não existe nenhuma proposta firme, segundo o presidente da Adece, Roberto Smith. Ele disse que várias agências de fomento para o setor estão sendo contatadas.

Entre os investidores que se apresentaram até agora, no Estado, Brasil, Europa e Estados Unidos, nada avançou. Alguns destacaram os grandes investimentos que precisam ser efetuados, para colocar a usina em funcionamento, inclusive na área tecnológica.

Outro ponto questionado pelos empresários do setor da agroindústria, está relacionado ao potencial hídrico da região, já que a cultura canavieira seria mantida basicamente com sistemas modernos de irrigação.

Até quase um ano atrás, em 5 de junho, quando a usina foi leiloada, por meio da Caixa Econômica Federal (CEF), a esperança de alguns produtores reacendia em busca de novas alternativas para manter a tradição da cultura canavieira.

Só em Barbalha, havia quatro engenhos em funcionamento. Atualmente, são apenas dois. Um dos mais tradicionais, do proprietário Antônio Sampaio, fechou as portas. Era bastante visitado, inclusive por romeiros, com até 80 ônibus por dia em épocas de romarias, já por conta das dificuldades e custos para se manter o cultivo e as máquinas em funcionamento.

Esperança
Para o secretário de Desenvolvimento Agrário de Barbalha, Elismar Vasconcelos, havia uma expectativa muito grande dos trabalhadores e dos setores da economia, para que a usina fosse reativada logo, mas os pequenos produtores já estão praticamente sem qualquer esperanças da dinamização do setor.

De acordo com Roberto Smith, a negociação com os americanos foi uma tentativa que partiu do interesse deles, e que todos os projetos necessários para análise foram encaminhados, além das condições de negociação. A forma de gestão também vem sendo negociada junto à Adece.

Inicialmente, houve uma proposta de atuar em forma de cooperativa de produtores, mas os investimentos na recuperação da usina podem chegar a até R$ 30 milhões, conforme cálculos do Estado. As áreas de cultivo disponíveis na região seriam outro ponto importante, que foi levantado pela Secretaria de Desenvolvimento Agrário do Estado, para mostrar a viabilidade do negócio na região.

Viabilidade
O trabalho foi desenvolvido no Cariri por técnicos da Empresa de Assistência Técnica e Rural do Ceará (Ematerce), demonstrando essa viabilidade em 15 municípios, onde foram identificadas áreas cultiváveis. A maior parte, cerca de 70%, se concentrava até um ano atrás nas cidades de Barbalha (2,7 mil ha), Crato (1,4 mil ha) e Missão Velha, com quase 2 mil ha.

Caso a região viesse iniciar a produção de cana no ano passado ainda, com a revitalização do setor, a perspectiva de moagem era em 2015. Para isso, seriam necessários estudos técnicos e maquinário disponível.

Os levantamentos realizados pela empresa de assistência técnica, alcançaram 686 propriedades dos 15 municípios. Cerca de 2,6 mil ha disponíveis estão em estado precário, necessitando o replantio. São cerca de 8.500 hectares necessários para manter a agroindústria de médio porte em funcionamento. Pelo menos 3 mil hectares teriam de ser em terras arrendadas pela própria usina. O presidente da Adece enfatiza o trabalho que vem sendo feito pelo Estado, na oferta da agroindústria para alguns grupos industriais importantes do Ceará, além de empresas do Nordeste e internacionais.

"Alguns grupos trazem a questão de suprimentos de água para irrigação. Outros acham que não há esse tipo de problema. De qualquer forma, as previsões da obra da transposição e cinturão das águas vão correr no primeiro semestre de 2015. Condições que podem facilitar o processo de negociação", afirma Smith.

Ele ressalta o estudo minucioso antes da compra da usina. Foi constatado que para operar na parte industrial havia necessidade de um investimento em torno de R$ 30 milhões, dependendo da finalidade e também se chegar a uma área cultivada com tecnologia moderna e mecanizada. Outro importante trabalho seria agregar os pequenos, médios e grandes produtores. "Todo esse processo traria um efeito importante para a economia da região", avalia.

Mais informações
Adece
Centro de Convenções
Av. Washington Soares, 1141 Edson Queiroz
Telefone (85) 3457 3300

ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste



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