Teatro em Crato e Juazeiro se ressente da falta de apoio

Celeiro de produção artística diversificada, a região do Cariri ainda contabiliza déficit em relação a apoio financeiro para produção de espetáculos artísticos e culturais. Um dos segmentos que mais sofre com a dificuldade de angariar recursos para as peças possam ser apresentadas ao público é o teatro. Neste município, por exemplo, não há, até o momento, nenhuma parceria com o setor privado que beneficie ações e programas culturais desenvolvidos pelas companhias de teatro ou grupos culturais em atividade.

A maioria das companhias teatrais do Cariri, conforme seus integrantes, também encontra-se em estado de esquecimento devido a ausência de políticas públicas que garantam o fomento da produção cultural e estabeleça, ainda, as mínimas condições para o incentivo à formação e a difusão de espetáculos.

Conforme o diretor da Companhia Brasileira de Teatro Brincante, Cacá Araújo, o setor privado, raras as exceções, não compreende a imprescindibilidade da cultura para o desenvolvimento da região, especialmente no que diz respeito ao fortalecimento da identidade local e à emancipação humana.

Desconhecimento
Vice-presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do Ceará (SATED-CE), professor, ator, diretor e dramaturgo, ele avalia que a maioria dos empresários da região desconhece ou resiste em aderir às leis de incentivo.

"A maioria dos empresários que atuam no Cariri entende como despesa o que poderia ser investido no patrocínio de espetáculos e demais ações artísticas, sempre apontando o poder público como único responsável. Se recorremos às empresas da capital, nos deparamos com uma "invisível" centralização de patrocínios a escritórios de captação de recursos, demonstrando que as leis de mecenato, na forma como se apresentam, favorecem a cartelização e prejudicam companhias e municípios do interior. O ideal seria eliminar essa intermediação em todos os níveis", avalia Cacá Araújo.

O dramaturgo aponta carência em relação ao que chama de "efetiva articulação" que possa resultar na integralidade do setor privado ao desenvolvimento cultural. "Infelizmente o poder público tem falhado nesse mister", diz o diretor.

Solução
Ressalta que o atual Sistema Municipal de Cultura, integrado pelo Conselho, Plano e Fundo Municipal de Cultura, com acesso via editais democráticos, seria a melhor solução para o problema. Porém, admite ainda não perceber por parte do poder público maior interesse na concretização da necessidade e, ainda, nenhuma mobilização por parte dos setores artísticos, no cumprimento da demanda.

"Se recorremos às empresas da capital, nos deparamos com uma "invisível" centralização de patrocínios a escritórios de captação de recursos, demonstrando que as leis de mecenato, na forma como se apresentam, favorecem a cartelização e prejudicam companhias e municípios do interior. O ideal seria eliminar essa intermediação em todos os níveis", frisa.

Na análise que realiza sobre o atual momento do teatro no município, Cacá Araújo diz perceber a inexistência de políticas voltadas ao desenvolvimento cultural, incluindo-se neste contexto, o teatro. Ele observa que os resultados da Conferência Municipal de Cultura, realizada em agosto de 2013, sequer foram socializados em novos encontros. Afirma o artista que o Conselho Municipal não foi eleito, não há Plano Municipal de Cultura criado e, até agora, o Fundo Municipal de Cultura não foi regulamentado.

"Os fóruns de linguagens, que já deveriam estar acontecendo, foram negligenciados em nome de uma estranha centralidade de pensamento e decisão que somente impedem o diálogo e a democracia e emperram programas e ações coletivas que realmente sejam impactantes e eficazes", defende o artista.

Aluguel
Sem sede própria para realizar trabalhos, a Companhia Brasileira de Teatro Brincante vinha produzindo atividades de formação e ensaios em uma casa alugada no centro da cidade.

Em janeiro deste ano, no entanto, a Companhia precisou desocupar o imóvel por falta de condições de continuar honrando o pagamento das despesas relativas ao aluguel. "Nossos materiais e equipamentos estão guardados em casas de membros do grupo. Retomaremos nossos ensaios assim que possível e, por enquanto, sem sede ou local cedido, trabalharemos em algum quintal de integrante ou numa praça da cidade", lamenta o diretor do grupo.

No município de Juazeiro do Norte a produção artística também atravessa dificuldades. Embora haja registro de crescimento em relação ao número de companhias de teatro em atividade, fomentadas, em sua maioria, por meio do curso de Teatro oferecido pela Universidade Regional do Cariri, as produções cênicas só são possíveis através da participação dos grupos em editais de incentivo criados pelos governos estadual e federal.

"Em Juazeiro do Norte o investimento público para produção cultural ainda é tímido. Embora a cidade disponha de um Plano Municipal de Cultura, que tem como diretriz o apoio a produção teatral, edital municipal e festival e mostra de teatro, isso não acontece. Esbarra sempre na alegação de falta de recursos", informa o ator André de Andrade, que dirige uma companhia de teatro homônima da cidade.

Na avaliação do artista, o teatro local tem conseguido se manter vivo devido o apoio que as Companhias recebem de instituições como o Serviço Social do Comércio (Sesc) e Centro Cultural Banco do Nordeste. Como ambos os parceiros, fora os dois parceiros, as empresas do Cariri não possuem a cultura de investimento na produção cultural.

"São raríssimas as exceções. Por isso é que nós, artistas, sentimos tanto a necessidade do poder público sensibilizar a classe empresarial para o marketing cultural. Enquanto isso não acontecer os grupos vão continuar atravessando dificuldades".

Ele salienta que o município passa a vivenciar uma nova fase, com produções teatrais oriundas do eixo Rio/São Paulo e que tal situação precisa ser percebida urgentemente tanto pelo setor público como pelo privado. "Vejo esse momento de maneira muito positiva a médio e longo prazo. Pode ser que a partir da vinda de grandes Companhias e atores e atrizes renomados nacionalmente, além do surgimento da chamada plateia pagante, haja, ainda, maior investimento por parte das prefeituras municipais e pelo próprio empresariado da região, como forma não apenas de valorizar as companhias teatrais mas, também, fortalecer a cultura regional do Cariri, atraindo, desta maneira, um tipo de turismo ainda diminuto na região, que é o turismo cultural", conclui Andrade.

A reportagem tentou ouvir a secretária de Cultura do município de Crato, Dane de Jade, que, segundo funcionários da pasta, não encontrava-se na sede da secretaria no momento das ligações telefônicas. Também foram feitas chamadas ao número celular informado, que encontrava-se desligado ou fora da área de cobertura. Também não foi possível contatar a secretária de cultura da cidade de Juazeiro do Norte, Marli Bezerra, que estava em reunião e não pode atender as ligações (RC)

ENQUETE

O que fazer para garantir maior apoio?

"Uma Conferência Municipal de Cultura, convocada em caráter extraordinário, antecedida de fóruns de linguagens ou pré-conferências setoriais preparatórias com ampla participação da comunidade"

Cacá Araújo
Diretor

"Acredito que é necessário fazer valer as diretrizes do Plano Municipal da Cultura de Juazeiro do Norte, investido no Fundo Municipal de Cultura para a Secretaria de Cultura ter como efetivar os projetos"

André de Andrade
Diretor

Fonte: Diário do Nordeste



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