Euroville: Um pedaço da Europa na Chapada

Um pedaço da Europa idealizado no alto da Chapada do Araripe, em pleno sertão cearense. Em Santana do Cariri, na terra conhecida pela quantidade inesgotável de fósseis em excelente estado de preservação, de mais de 110 milhões de anos, também podem ser encontrados exemplares de vários países da Europa, por meio de edificações construídas na localidade de Araporanga.

A pequena vila da família Pereira de Oliveira ficou conhecida como a Euroville, que em cerca de oito anos, já recebeu mais de 50 mil pessoas. Mas, no momento, o espaço está fechado para visitação pública por razões particulares. O lugar é preservado por um dos irmãos proprietários, José Pereira, que há vários anos reside no local. Ele ocupa a primeira casa, em estilo inglês e muito bem preservada.

Na Euroville podem ser encontradas desde casas em estilo italiano, inglês, suíço, grego, português, até espanhol, em grande estilo, por fazer referência direta a um dos maiores gênios da arquitetura, o catalão Antoni Gaudí. A torre Eiffel, um dos maiores monumentos do mundo, localizada na França, é vista em miniatura de 32 metros, ao lado do jardim, adorno inspirado nos russos, algo que surpreende em meio à vegetação do cerrado e da caatinga.

Projeto
A ideia não foi construir a pequena vila para visitações públicas, mas o local acabou se tornando um atrativo natural do turismo regional. Zé Pereira, como é mais conhecido, ex-professor de odontologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), é também um estudioso da história regional, com os seus grandes personagens, como Padre Cícero.

Zé Pereira afirma que passou a receber no local os visitantes de braços abertos. Revelou ainda que está idealizado, há alguns anos, um espaço onde possa hospedar as pessoas, com a criação de uma vila medieval.

O projeto já está pronto, incluindo a inserção de museus, dentre outros espaços de visitação, e oito chalés, que poderão ser alugados para temporadas na serra. Entretanto, agora, após questões relacionadas à política local, o projeto é adiado por tempo indeterminado e os portões foram fechados.

Surpreende o proprietário a grande quantidade de visitantes atraídos pelo local, muito bem preservado, e com funcionários permanentes. Esse é o segredo do jardim, para permanecer com uma beleza majestosa no entorno das casas, algumas delas com telhados para receber neve. O que, não acontecerá em pleno sertão nordestino.

Por ser uma das áreas de grande altitude da Chapada do Araripe, o clima chega a ficar bastante ameno durante essa fase do ano, culminado em junho e julho, em que deve chegar a até 14 graus. A lareira da residência de Zé Pereira chega a ser ativada justamente nessa época.

Atrativos
E quem não teve a oportunidade de conhecer o lago de Lucerna, na Suíça, poderá ter aqui no Cariri a inspiração, com construção de um lago como o mesmo nome, uma ponte com mais de 15 metros, com sustentação em troncos de madeira, resgatados de árvores frondosas atingidas por raios no terreno dos Pereira.

A área de mais de 100 hectares é uma herança dos seus pais. O mais novo da família numerosa de 12 irmãos, Francimar Pereira, já falecido, foi o que mais contribuiu na edificação das residências, a maioria delas pouco ocupadas pela família durante o ano. Ele era urbanista e foi residir na Europa nos anos 60. Morava em Paris. Lá recebeu a família de cearenses, alguns deles já chegaram a ir mais de 30 e até 40 vezes ao Velho Mundo.

A última das construções a ser edificada no local foi a de um castelo em estilo português. Teve que ser finalizado por Zé Pereira, já que nesse momento, o irmão urbanista havia falecido. Ele aproveitou a pedra cariri, semelhante ao material encontrado em Portugal.

De um arco que separa a casa do jardim, dá para ver ao fundo a torre Eiffel. A miniatura é feita em metal. A réplica da casa grega teve como principal idealizador, o outro irmão de Zé. Foi o ex-deputado Iranildo Pereira, mas a cor da cerâmica ainda foi escolha de Francimar, mesmo na UTI do hospital, há mais de seis anos.

As ruínas foram esculpidas, segundo Zé Pereira, após ser construída a parede inteira. Parte da fachada foi quebrada aos poucos. Feita em pedra e cal, com as cores branca, azul e verde, mais utilizadas nas edificações antigas da Grécia, a casa foi pensada nos mínimos detalhes, até observando a baixa estatura do povo grego, conforme disse o proprietário.

Um moinho foi construído ao lado. A homenagem a Gaudí, como Zé Pereira lembra, partiu do próprio. Ele se empolga com os detalhes que foram pensados para o espaço. São animais, formados com detalhes de mosaicos multicoloridos e a entrada, com fachada em pedra. Segundo ele, a parte interna ainda não foi totalmente concluída.

Na área extensa do terreno podem ser contemplados lagos com patos, mas praticamente esvaziados, em virtude das subsequentes secas. Também, mesmo tomado pela vegetação, foi construído um anfiteatro em estilo grego, onde já ocorreram apresentações teatrais no espaço. Somente ano passado, Zé Pereira calcula um público de 12 mil pessoas.

Curiosos
A visitação ocorre principalmente em virtude da divulgação boca a boca, ou pelas matérias divulgadas na mídia. Estudantes de localidades do Cariri também vão à área para complementar as aulas de história. "Inclusive crianças se emocionam, surpresas com o local", diz Zé Pereira. Uma delas chegou a dizer para ele, que mesmo que não vá à Europa, teve a oportunidade de conhecer um pedacinho da região do Cariri.

O local, por ser na Chapada, também recebe visitas como onças, veados, saguis. Zé Pereira mesmo já teve notícia de duas onças na área, próxima a uma capela em estilo Barroco. De acordo com ele, foi difícil construir grande parte das construções nada comuns na região por conta da dificuldade de encontrar material e mão de obra. Pereira revela que os profissionais nem queriam quebrar muito a cabeça. "Em se falando de homenagem a Gaudí, os pedreiros corriam de perto", brinca.

Exótico
A estética é diferente em meio ao sertão, e por isso mesmo chama atenção. É nesse ponto que Zé Pereira afirma que o diferencial enriquece o imaginário, para que haja projetos que possibilitem algo relevante para a região.

Zé Pereira esteve por quatro vezes na Europa. Uma de suas irmãs já foi por mais de 40. "Nem sei o que ela vai buscar tanto por lá". Mas é um estudioso das artes, da arquitetura, além de pesquisador da história regional.

Está escrevendo atualmente três livros, um deles sobre os momentos do Padre Cícero em Roma e as suas passagens pelo Vaticano. Fez uma pesquisa in loco sobre o assunto e também acerca da origem dos milagres de Maria Benigna Cardoso, em processo de beatificação.

Outro livro que escreverá será para lembrar os 194 anos da Confederação do Equador, com uma relevância à personagem de Bárbara de Alencar. Uma estátua em concreto está sendo construída e será doada por ele ao Município do Crato, para ser afixada na Praça da Sé.

A cultura europeia que rendeu uma família inteira aos seus encantos passou a encantar também os caririenses e ainda turistas de várias cidades que passam pelo local. Agora é torcer pela reabertura da Euroville.

O local fica a 45 km da cidade do Crato e a 9km de Nova Olinda, para quem decide ir por este Município. São mais 3km de estrada carroçável, ou poderá seguir por Santana do Cariri, por estrada de terra.

Um lugar que lembra um pouco o Velho Mundo
Inspirada nas edificações europeias, a Euroville fica localizada na cidade de Santana do Cariri. O local está no distrito de Araporanga, mas é conhecido como Estivas. Há cerca de 10 anos que o local vem recebendo constantes visitações e se tornou um dos atrativos turísticos da região. A área faz parte de uma fazenda que pertenceu aos pais de José Pereira, e mais 11 irmãos, um espaço de 100 hectares. Ano passado o local recebeu em torno de 12 mil pessoas. Foi o ano de maior número de visitantes. No local reside José Pereira, há vários anos, mais conhecido como Zé Pereira, que atualmente se dedica à história regional. É ex-professor universitário. Atualmente são proprietários do espaço, ele e mais três irmãos. Os outros vão ao local muito esporadicamente. A intenção não era tornar o espaço público, mas tem sido motivo de curiosidade por ser uma novidade em pleno sertão. Na capela do local, por exemplo, o sino é suíço, o altar francês e a entrada da casa de seus pais inglesa e foi toda reformada em ambientes europeus e egípcios.

ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste


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