Copa 2014: Os desafios de Fortaleza a 100 dias do Mundial

Em 30 de outubro de 2007, o sonho de o Brasil sediar pela segunda vez a Copa do Mundo se tornava realidade. Um ano e sete meses depois, Fortaleza era anunciada como uma das 12 sedes da competição. De lá pra cá - a 98 dias do início do torneio - o sonho tornou-se pesadelo em alguns aspectos. Promessas feitas e não cumpridas transtornaram a vida de muitos fortalezenses.

A cidade, transformada em um canteiro de obras ao ar livre, na opinião de especialistas, não será a maravilha anunciada cinco anos atrás. Das obras propostas pela Matriz de Responsabilidade, assinada em 13 de janeiro de 2010, apenas os trabalhos considerados "importantes para a realização da Copa" serão finalizados antes da competição. Os atrasos são justificados pelos atuais responsáveis pelas obras como 'culpa da gestão anterior'.

A Matriz de Responsabilidade assinada pelo então ministro do esporte, Orlando Silva, pelo governador Cid Gomes e pela então prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, recebeu um anexo e três termos aditivos entre janeiro de 2010 e maio de 2012. No documento, estão previstas as reformas do Aeroporto Internacional Pinto Martins e do Porto do Mucuripe; a reforma da Arena Castelão; a implantação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) Parangaba/Mucuripe e do Bus Rapid Transit (BRT) nas avenidas Dedé Brasil, Alberto Craveiro e Paulino Rocha; reestruturação do eixo Via Expressa/Av. Raul Barbosa, com construção de viaduto e túneis; ações de infraestrutura do turismo e modernização da infraestrutura de telecomunicações.

Dessas obras, a Arena Castelão está pronta. O Aeroporto receberá um "puxadinho", visto que a obra de reestruturação irá se arrastar até 2017. O Porto do Mucuripe, em obras desde março de 2012, deverá ter sua reforma concluída em maio, segundo a Companhia Docas do Ceará (CDC). O VLT, esbarrando nas desapropriações, ainda é prometido também para o mês de maio pela Secretaria de Infraestrutura do Estado (Seinfra).

Em relação às obras do Município, até o fim de maio, deverão ser concluídas apenas as do entorno do Castelão, que incluem os acessos ao estádio pelas avenidas Alberto Craveiro e Paulino Rocha, com o túnel na rotatória do estádio, além dos BRTs. "Vamos entregar as obras importantes para a realização do evento, e estamos garantindo o restante das obras para o legado da Copa para ser concluída com o mínimo de impacto, com o prazo de conclusão para o final de 2015", disse o titular da Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinf), Samuel Dias.

Atrasos
O secretário argumenta ter enfrentado dificuldades por conta de atrasos na execução das obras por parte da gestão anterior. "Quando assumimos (a gestão) em 2013, tínhamos um ano e meio para fazer as obras que deveriam ter sido feitas em três anos e meio", frisou. Samuel relembrou que a gestão anterior teve de driblar os problemas judiciais que envolveram a empresa Delta Construções S/A, supostamente envolvida em fraudes de licitações públicas.

Discutir a cidade em virtude das necessidades da Copa e não da população seria um dos erros cometidos pela administração pública, conforme a coordenadora do Observatório das Metrópoles e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), Clelia Lustosa. "Não podemos pensar a cidade para um evento, mas para seus habitantes. O problema dos projetos é a falta de planejamento", advertiu.

O professor José Borzacchiello da Silva, também membro do Observatório das Metrópoles, concorda. Para ele, a projeção feita em cima das promessas foi além da realidade, o que culminou em decepção com o resultado final. "Houve uma certa ilusão de que a cidade resolveria seus problemas urbanos a partir deste evento, e se projetou em demasia. Na hora da realização, tivemos pouca coisa sendo feita, e a cidade permanecerá praticamente a mesma", ponderou.

Para o professor, há ainda a segregação de Fortaleza, dividida em parte Leste, beneficiada com a Copa do Mundo, e a parte Oeste, não lembrada pelo poder público. "A cidade só foi pensada na porção Leste, seja VLT, Via Expressa, implantação de equipamentos, estação de passageiros do Porto do Mucuripe. A cidade Oeste é como se não fosse a cidade da Copa. Não tem Copa. É só na zona Leste, Aldeota e Meireles. Deveria ser uma Copa na cidade, e não em alguns territórios da cidade", criticou.

Apesar das observações, os especialistas não enxergam Fortaleza abaixo das demais sedes em termos de preparação para a Copa. Ao contrário, os professores acreditam que a capital cearense conseguiu cumprir os compromissos com a Fifa ao assumir a responsabilidade de sediar os jogos do Mundial.

"Fortaleza se situou bem na preparação do estádio, que é muito elogiado pelas questões técnicas e estéticas. Isso foi um ganho. Apesar de todos os problemas, o Ceará ainda tem uma posição tranquila, mais cômoda, em relação às demais sedes. Não podemos desprezar que não fomos pressionados (pela Fifa)", pontuou José Borzacchiello.

O professor analisa, ainda, que a principal mudança da Copa seja a percepção da necessidade da manutenção do 'padrão Fifa' nas obras públicas. "Quando os movimentos reclamam um padrão Fifa para os serviços sociais é um ganho no plano da sociedade. Mostrou que temos condições de atender a determinadas demandas, mesmo com os problemas de execução, e queremos essa qualidade expandida para todos os serviços prestados pela sociedade. Eu creio que não seremos os mesmos depois da Copa", finalizou.

Números
570 milhões de reais custarão os seis projetos de mobilidade urbana de Fortaleza. Integram o planejamento três BRTs, um VLT, duas estações de metrô e a Via Expressa, que liga a Zona Hoteleira e o Aeroporto

518 milhões de reais custaram as obras e a operação da Arena Castelão aos cofres públicos. O estádio teve uma redução superior a R$ 100 milhões em seu custo previsto, sendo um dos mais baratos da Copa do Mundo

6 partidas serão sediadas por Fortaleza durante a Copa do Mundo. Ao todos, serão quatro duelos da primeira fase, incluindo um do Brasil, além de um jogo de oitavas e um de quartas de final

LEVI DE FREITAS
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste



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