Praia, calor, futebol, carnaval, excesso de feriados... Tudo isso costuma virar argumento na boca de quem acha que os brasileiros não gostam de trabalhar. OK, pode até ser que não gostem mesmo - tanto quanto americanos e europeus. Afinal, no mundo inteiro, os índices de insatisfação com o emprego são altos. Nos EUA, por exemplo, o Bureau de Estatísticas do Trabalho estima que quase 67% dos trabalhadores acham "chato" ou "muito chato" aquilo que se veem obrigados a fazer para ganhar a vida. E nem por isso os americanos são considerados pouco afeitos ao batente.
Gostando ou não gostando daquilo que fazemos, o fato é que nós, brasileiros, trabalhamos mais do que se trabalha na maioria dos países desenvolvidos. E não é de hoje! Já na década de 1930, os EUA e a Europa Ocidental criaram leis fixando a jornada de trabalho semanal em 40 horas. O Brasil, por outro lado, manteve uma jornada de 48 - além de 12 horas extras permitidas por lei - até 1988, quando a Constituição foi alterada. Só então a jornada máxima passou para 8 horas diárias e 4 horas aos sábados - totalizando 44 semanais.
Na Alemanha, trabalha-se em média 38 horas por semana. Na França e na Espanha, menos ainda: 35 horas. Aqui no Brasil, a média é superior a 40 - para ser exato, 40,9 horas, segundo a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD) feita pelo IBGE em 2008. Embora a média seja menor que a jornada máxima prevista na legislação trabalhista, esse mesmo levantamento revelou que 1 em cada 3 brasileiros trabalha mais que 44 horas semanais. E que 1 em cada 5 vai além das 48 horas por semana.
"Enquanto a prática de horas extras é rigidamente controlada nas economias desenvolvidas, no Brasil é algo corriqueiro", diz o sociólogo Sadi Dal Rosso, da Universidade de Brasília (UnB). Os números comprovam. Segundo o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), cerca de 40% dos brasileiros fazem hora extra com regularidade - e o índice sobre para quase 50% no caso de empregadas domésticas, trabalhadores rurais e comerciantes.
O mito da preguiça nacional tem raízes profundas. Tão profundas que chegou a ser fomentado por um de nossos intelectuais mais importantes - o historiador Sérgio Buarque de Holanda. Em sua obra Raízes do Brasil (Companhia das Letras, 1997), ele culpa nossos colonizadores pela "indolência brasileira". Ao contrário dos anglo-saxões, os fidalgos portugueses seriam avessos à ideia de ganhar o pão com o próprio suor.
Suor e lágrimas
No Brasil, a jornada de trabalho é longa. E o salário, curto
País - COREIA DO SUL
Jornada semanal de trabalho (em horas) - 55
Salário mínimo mensal (em US$ *) - 904
País - BRASIL
Jornada semanal de trabalho (em horas) - 40,9 **
Salário mínimo mensal (em US$ *) - 306
País - EUA
Jornada semanal de trabalho (em horas) - 40
Salário mínimo mensal (em US$ *) - 1 257
País - ALEMANHA
Jornada semanal de trabalho (em horas) - 38
Salário mínimo mensal (em US$ *) - Não há valor estipulado por lei
País - FRANÇA
Jornada semanal de trabalho (em horas) - 35
Salário mínimo mensal (em US$ *) - 1 855
* Cotação de 11/10/2010.
** População ocupada de 16 anos ou mais.
A gente rala, e muito!
Mais de 50% dos brasileiros vão além das 44 horas semanais de trabalho previstas em lei
JORNADA MÉDIA POR SEXO* (Semanalmente)
Homens - 44 horas
Mulheres - 36,4 horas
JORNADA DE TRABALHO*
Superior a 44 horas semanais - 33,7%
Superior a 48 horas semanais - 19,1%
Inferior a 35 horas semanais - 23,1%
Outras jornadas - 24,1%
REDUÇÃO DA JORNADA NOS ÚLTIMOS ANOS
1992 - 42,8 horas semanais
2008 - 40,9 horas semanais
* População ocupada de 16 anos ou mais.
Dados: IBGE (PNAD 2008); Dieese.
Fonte: Superinteressante
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