Crato (CE): Incêndios criminosos afetam Floresta Nacional do Araripe

O incêndio de maior proporção registrado neste ano aconteceu no mês de outubro e devastou cerca de 400 hectares da Floresta Nacional do Araripe (Flona) neste município. Na ocasião do incêndio, diversos voluntários, além dos soldados do Corpo de Bombeiros Militar e dos integrantes da Brigada Anti-incêndio da Flona, trabalharam em conjunto na tentativa de debelar as chamas e diminuir a intensidade dos prejuízos ocasionados pelo fogo. O trabalho, no entanto, não foi suficiente diante da alta temperatura e também, devido à forte ventania que acabou auxiliando a propagação das chamas.

Antes, no mês de setembro, duas outras tentativas de incêndios criminosos foram debeladas por equipes que atuam na proteção e no combate de sinistros na área da Flona.

Prevenção
O trabalho de prevenção, combate e proteção contra incêndios em toda a área territorial da Flona é realizado através do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O órgão funciona com poucos funcionários e orçamento reduzido. No entanto, mesmo com as dificuldades, consegue responder com rapidez aos chamados e, na maioria das vezes, solucionar os problemas de incêndio sem maiores prejuízos contabilizados. “Muitos dos incêndios que foram ateados na Floresta Nacional do Araripe foram intencionais. O incêndio do mês de outubro, que gerou maior dano durante esse ano, foi indiscutivelmente criminoso”, avalia o chefe da Flona, Willian Brito.

Planejamento
Segundo ele, embora exista todo um planejamento elaborado no sentido de prevenir os sinistros, nem sempre é possível conter a ação dos criminosos. “Nós temos servidores que fiscalizam toda a área da Floresta Nacional. Além da utilização de torres de observação, também dispomos de alguns outros instrumentos que nos auxiliam no trabalho. Contudo, devido a grandiosidade da área, nem sempre conseguimos impedir, de imediato, que haja o início do incêndio”, observa o representante do ICMBio.

Outra questão apontada por Willian Brito refere-se ao extrativismo predatório realizado no interior da Floresta Nacional do Araripe. Recentemente, foram apreendidas cargas irregulares de produtos florestais compostas por sacos de carvão e cascas de barbatimão.

A carga, segundo os fiscais, seria encaminhada ao abastecimento do mercado da região metropolitana do Cariri. Também há caçadores realizando ações predatórias dentro da floresta. Durante a caça, eles matam animais silvestres, além de pássaros, e, em alguns casos, abandonam a carcaça do animal morto nas proximidades dos acampamentos onde pernoitam escondidos. Quando o setor de fiscalização consegue flagrar a ação ilegal dos caçadores, denúncias são encaminhadas ao Ministério Público Federal (MPF) para adoção das medidas judiciais cabíveis. “Foram encaminhados, recentemente, cinco processos ao Ministério Público Federal, onde caçadores foram autuados por prática predatória no interior da Flona”, comentou Wilian Brito.

Entre os animais que correm risco iminente de extinção, devido aos ataques de caçadores e, ainda, por causa dos incêndios que são criminosamente iniciados na Floresta Nacional do Araripe, o Soldadinho do Araripe é o que, atualmente, mais inspira cuidados. A população total da ave está estimada em apena 800 pássaros.

Ícone
A imagem do soldadinho do Araripe se transformou numa espécie de ícone e hoje esta presente em vários municípios da região. A área onde a espécie sobrevive, alem de sofrer riscos constantes de incêndios, vem sendo diminuída por causa do crescimento urbano, bem como a expansão do setor agrícola.

Esta é a única ave brasileira citada durante as discussões realizadas no Congresso Mundial da Natureza, na Coreia do Sul, no ano passado. Além do soldadinho do Araripe, outras 99 espécies também foram apresentadas em iminente estado de desaparecimento, a época.

Hoje, após a realização de estudos e pesquisas, sabe-se que já existem, pelo menos, dez pontos de reprodução da ave localizados na Floresta Nacional do Araripe. Todos estes pontos se localizam em áreas onde não há água corrente, num espaço de cerca de um quilômetro. Para alguns pesquisadores, a descoberta pode significar que a população da ave é maior do que o número oficial propagado.

“Existem muito animais que hoje realizam suas reproduções na área da Flona. Por tratar-se de área de proteção ambiental, a expectativa é que a Flona contribua, de alguma forma, para a continuação das espécies. Por isso é que é tão importante as ações que são realizadas em defesa da floresta e em relação ao combate à incêndios, sejam eles criminosos ou acidentais”, diz Wilian, que defende maior envolvimento da sociedade. (RC)

Mais informações
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
Praça Joaquim Fernandes Teles
Centro
Telefone: (88) 3523.1857

Fonte: Diário do Nordeste



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