Dilma diz que iria aos EUA se país pedisse desculpas

Quase dois meses depois de desmarcar uma visita aos Estados Unidos em razão das denúncias de espionagem ao governo brasileiro, Dilma Rousseff falou sobre o episódio e citou que a situação gerou um impasse. Em uma entrevista para o Grupo RBS na manhã desta quarta-feira (6), a presidente afirmou que um pedido de desculpas seria necessário para que uma nova data fosse agendada.

"Eu iria viajar. A discussão que derivou dessas denúncias nos levou à seguinte proposta para os Estados Unidos: só tem um jeito de a gente resolver esse problema. Se desculpar pelo que aconteceu e dizer que não vai acontecer mais. Não foi possível chegar a esse termo", disse, durante o Painel RBS.

Dilma ainda afirmou que ela e o presidente Obama poderiam ser expostos ao "constrangimento" de uma nova denúncia.

“Se eu botasse o pé nos Estados Unidos, na hora em que eu estivesse lá, o que podia acontecer? Porque também ninguém sabe o que tem o Snowden. Acho que nem os EUA sabem o que ele levou. Então eu e o presidente Obama estaríamos submetidos ao constrangimento de uma nova denúncia. O  tema que vocês pautariam não seriam as nossas realizações, seriam justamente essas denúncias”, explicou.

Em seguida, ela afirmou que as relações comerciais e diplomáticas com os EUA não foram interrompidas. "Não há interrupção de nenhum nível das relações tradicionais entre o Brasil e os EUA. Agora não é possível que entre países amigos com relações estratégicas não se leve em consideração o fato de que não é possível espionar a presidente, assim como a primeira-ministra. Não é adequado", reforçou.

O assunto espionagem surgiu quando a presidente foi questionada sobre ação da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Na segunda (4), em meio aos protestos do governo brasileiro contra a espionagem norte-americana, o jornal "Folha de S.Paulo" publicou reportagem que dizia que o Brasil monitorou as atividades de diplomatas da Rússia, do Irã e do Iraque em 2003 e 2004.

Em nota divulgada, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), responsável pela Abin, admitiu a existência das ações, mas afirmou que "as operações obedeceram à legislação brasileira de proteção dos interesses nacionais".

Dilma afirmou que os dois casos são diferentes. "No caso da denúncia de espionagem não só contra o Brasil mas contra os outros países é o seguinte fato. Você violou não só e-mails privados, ligações telefônicas, violou a internet, violou a privacidade. E não foi só de chefes de estado, mas de indivíduos e de empresas. E dentro de um processo que não tem muita justificativa de luta contra o terrorismo", disse, citando outros países que foram alvo de espionagem, como Alemanha e França.

"Não pode comparar o que a Abin fez em 2003, 2004, até porque segundo a Abin é contrainteligência, porque achavam que tinha interferência em negócios privados, em negócios públicos no Brasil, que foi preventivo e que não levou a nenhuma consequência de espionar ninguém na sua privacidade. Não violou privacidade, acompanhou atividades. Isso é previsto na legislação brasileira, não cometeram nenhuma ilegalidade", analisou.

Questionada sobre se o episódio a afetou de alguma maneira, a presidente afirmou que não poderia admitir o desrespeito à privacidade e à soberania do país. "Não podemos conceber que o Brasil não tenha o respeito à soberania que ele merece. É impossível conceber, eu como presidente, aceitar negociar a soberania do país. Falar 'não, é possível espionar, sim', 'não, pode espionar a Petrobras'. Isso é inadmissível. Um presidente que fizer isso não merece a condição de presidente", concluiu. "Espionagem industrial não pode ter guarida em nações civilizadas".

Ela ainda afirma que acredita que a culpa pelo impasse não é do presidente Obama. “Acho que o presidente Obama ficou bastante constrangido. Não acredito que a ele possa se atribuir a responsabilidade por nós não termos feito a viagem. Mas deve-se ao fato que como não é só comigo, não era só o Brasil, não era possível eles fazerem um tratamento específico para o Brasil. Eles teriam que fazer para todas as nações amigas. Pessoalmente, eu percebi que ele sentia muito, percebi que ele compreendia e percebi também que não é uma questão pessoal entre dois chefes de estado. É uma questão política entre dois países”.

Fonte: G1



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