Juazeiro do Norte (CE): Escritor lança livro no CCBN

Um escritor que reúne a criatividade para reinventar-se em várias facetas. O seu trabalho é uma tradução da diversidade cultural do Cariri. A dramaturgia, a literatura infantil, o conto, a crônica, personagens inusitados, uma cidade construída no imaginário, para a satisfação do real. A escrita assume vida. As letras escorrem pelo mar de ideias e afluem em palavras. Ele, José Flávio Vieira, antes de se tornar médico se viu entre os livros. Sobrinho do Padre Vieira, é filho de professor de português e dono de livraria. Mas não é aí que se explica a vocação. É venal mesmo. O seu mais recente trabalho é o livro lançado e relançado no Crato, ´A Delicada Trama do Labirinto´.

No próximo dia 26, o trabalho será levado ao público de Juazeiro do Norte, em solenidade no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBN), e depois na Bienal do Livro de Pernambuco, em Recife, no dia 12 de outubro. Este é o quarto livro do escritor que deu vida a uma cidade chamada Matozinho.

O humor é uma das características do escritor. O livro ´A Terrível Peleja de Zé de Matos com o Bicho Babau nas Ruas do Crato´, publicado em 2003, trata do poeta do Cariri que nasceu quando vieram os primeiros cantadores, da década de 1840. "É um poeta muito rico e a peça foi encenada por coincidência nos 100 anos da sua morte", lembra. O trabalho foi vencedor do Melhor Texto de Dramaturgia na Fetac - 2006. Para falar sobre o personagem, o autor se inspirou no único livro, de José Carvalho, que resgata um pouco do poeta, "O Matuto do Nordeste e o Caboclo do Pará". O autor foi da Padaria Espiritual e sobrinho-neto de Bárbara de Alencar. O livro era da década de 30, com o registro do poeta da oralidade.

O livro ´Matozinho Vai à Guerra´ foi lançado em 2007. É um trabalho memorialístico, onde foram inseridas várias histórias, bem humoradas, nos diversos textos direcionados pelo autor, em direção a uma mesma cidade. Isso para não ter que ficar tendo que criar o tempo todo locais diferentes.

"Quando fui escrever tive que dar uma certa unidade, com a junção dos vários textos", diz. Esse mote teve como princípio dar uma certa impessoalidade, mas traz histórias de várias cidades da região, como Várzea Alegre, Jardim e Crato.

Os livros são diferentes, o primeiro deles que se tornou uma peça de teatro sobre o poeta José de Matos, o segundo o livro Matozinho, com características bem mais regionais, e o atual, uma compilação de 148 textos escritos desde 1997, divididos em blocos, entre a poesia, histórias mais urbanas e textos mais reflexivos. Antes desse lançamento, em 2011 foi editado "O Mistério das 13 Portas no Castelo Encantado da Ponte Fantástica", vencedor do I Prêmio Raquel de Queiroz de Literatura Infantil. Além dessas publicações, foram feitas várias coletâneas, além de textos adaptados para o cinema.

A maior parte dos trabalhos foi escrita para os jornais e crônicas para rádios. Matozinho tinha uma visão mais rural. O livro infantil envolveu o aspecto mais encantado da região, com as diversas histórias e seus personagens, relacionados à mitologia. Uma forma de levar para a criançada o mundo fascinante, em contraponto a realidade da tecnologia, conforme o autor.

José Flávio começou a dar os seus primeiros passos na escrita ainda garoto, desde a quinta série. "Escrevo com muito prazer", diz ele. A família tem também bons contadores, mas ele se classifica muito mais como escritor da realidade na qual está inserido, e ao mesmo tempo destaca as nuances de uma mesma realidade. "Entendo que para ser universal tem de ser regional. Posso até falar da Rússia, mas vai sair com sotaque", brinca.

Alegria
Ele não gosta do termo regional, por muitas vezes ser dito com preconceito. Então, ressalta, regional é Graciliano Ramos, José Lins do Rego. "Machado de Assis, Guimarães Rosa, não são considerados regionais e como não são?", questiona. A sua maior alegria é poder escrever. Quanto a isso, José Flávio afirma não ter esquadro e nem tantas pretensões. "Quando a história toca outra pessoa, fico felicíssimo", diz. O autor também tem obtido um reconhecimento institucional pelo seu trabalho com livros, como Matozinho, adotado pela Universidade Regional do Cariri (Urca), para o vestibular.

Reconhecimento
Faz parte do Instituto Cultural do Cariri (ICC), e recentemente recebeu reconhecimento dos artistas, com o prêmio Sated, no âmbito da dramaturgia, entre outros. "Para mim, quando a gente recebe esse reconhecimento e quebra esse preconceito, é algo bom demais", afirma. Nessa seara da academia, poucos na região foram reconhecidos, e há nomes como o de Patativa do Assaré na galeria.

Para o escritor, a valorização e reconhecimento da cultura regional passa a ter uma nova configuração, inclusive por parte das escolas. Os seus trabalhos são adotados em salas de aula, fazendo com que haja uma quebra. Uma promoção da cultura. E a trama está montada, para o reconhecimento do caminho labiríntico, recolhendo-se à sensível e delicada forma de ver a outra face do que aí está.

Mais informações
Lançamento de livro no Centro Cultural do BNB
Caixa Postal 222,Crato - CE
Telefone: (88) 8863.1054
flavio.vieira@uol.com.br

Fonte: Diário do Nordeste



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