O Lixo e a Bassoura - Por: Marcos Leonel*

Quatro toneladas de vassouras; uma tonelada e meia de sabão em pó; trinta e três mil unidades de palha de aço. Isso é o que se chama de peso na consciência. Na verdade é pouco. Para limpar a sujeira da política de Juazeiro do Norte é preciso multiplicar isso por milhares e adquirir uma tecnologia super avançada, pois essa lama é histórica e grosseira, o tanto que é letal.

A cada eleição a própria sociedade, como um destabanado grande grupo de terroristas fanáticos, sabota a mais remota chance de assepsia desse lixão, habitado por urubus públicos e privados, que por infinitas vezes são aplaudidos de pé nos porões elegantes da cidade, por uma imensa facção de predadores, que formam um único e fortalecido bloco de oportunistas, armados até os dentes de propinas e uma intricada rede de operações.

Não existe nada de novo nesse cenário. Enquanto houver bassoura haverá ignorância. Enquanto houver ignorância na representatividade pública haverá falta de perspectiva para o futuro. Sendo assim, o que resta para essa grande parte da sociedade dividida em duas: os que se aproveitam e os que esperam se aproveitar, é uma banda barrer a outra de noite, para as duas se sujarem novamente pela manhã. Essa é a condenação de Sísifo.

Na realidade existe um fato novo nesse mais recente espetaculoso número de circo da política Juazeirense, que mais uma vez está em cartaz na mídia nacional. Agora temos duas investigações, uma da Polícia Civil e outra do Ministério Público. Nunca houve tanto empenho. O povo de bem espera resultados e punições. O povo de bem ainda espera resultados de outras investigações de compras de votos; de outras investigações de prestações de contas; e de outras e de outras. O povo de bem ainda espera.

Esperar por uma política compatível aos desafios do novo milênio no Brasil é uma utopia. Esperar por isso em Juazeiro do Norte é esperar por um milagre. Não há dúvidas que a sociedade espera pelo pior. Uma sombra negra paira sobre o futuro da cidade que mais cresce no Nordeste. Ciente disso a sociedade escolheu a dedo os seus políticos. A lista de compras dos representantes públicos da Terra do Padim para enfrentar os complexos distúrbios existenciais da contemporaneidade é sofisticada em sua bizarrice, é cômica em sua ousadia, é pernóstica em sua impunidade.

Dados no Portal da Transparência mostram que, no período de março a junho de 2013, foram comprados 1,2 mil quilos de açúcar, 2,5 mil caixas de fósforos, 3.216 detergentes, 215 mil copos de café, 4,2 mil vassouras, 2,5 mil quilos de sabão em pó, 33 mil unidades de palha de aço, 1.428 unidades de água sanitária, 125 mil palitos de dente e 312 unidades de óleo de peroba pela Câmara. Só é difícil entender a quantia do último item, uma vez que mais da metade da população tem cara de pau.

*Marcos Leonel é professor



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