Uma aula de analfabetismo - Por: Marcos Leonel*

É verdade que é trágico tudo isso que está acontecendo com os professores municipais de Juazeiro do Norte. Mas, é muito mais cômico ainda esperar respeito pela educação de um bando de iletrados. Se juntar todas as diplomações das vossas excelências não dá nem dez por cento de propina.

O quadro da gargalhada geral se completa com outro paradoxo: essa mesma Câmara que reduziu salários, aumentou a carga horária e cortou benefícios de quem adoece, é a mesma Câmara que há poucos dias aprovou dois meses de férias para a confraria toda, legislando em causa própria. Justamente eles, que não trabalham e ganham muito.

O mundo inteiro se mobiliza para construir escolas, educar crianças e civilizar sociedades. Pensadores da Pós-Modernidade como Gilles Lipovetsky; Zygmunt Bauman; Alain Touraine e Jean Baudrillard, acreditam que a educação é um dos poucos instrumentos que podem salvar a humanidade da decadência ética e da desorientação social. No entanto, na contramão da história, na terra do Padre Cícero, o certo é fechar escolas, baixar salários e aumentar a carga horária de professores.

Uma atitude dessas, de uma vez só, achincalha, humilha, menospreza, desdenha, trai, ridiculariza, esculhamba e nivela por baixo, bem rente ao relento dos esgotos que correm a céu aberto, toda a população da Capital da Fé. Esse é um exemplo clássico da arbitrariedade administrativa e legislativa, bem como da falência intencional do judiciário. Eis o exemplo da impunidade. Eis a possibilidade irrestrita da politicagem, que já não age mais sorrateiramente, que desfila solenemente o seu bloco do sujo, por ruas, avenidas, repartições e cabarés.

No entanto, é possível perceber uma lógica nesse exemplo. Uma lógica nefasta, é bem certo. Mas, uma lógica de patifaria nunca deixa de ser evidente. Se por um lado a possibilidade de transformação social das camadas mais pobres está sendo truncada com esse plano engenhoso, por outro lado fica evidente que a escola não serve para nada mesmo, uma vez que é possível ser político sem nenhum grau substancial de escolaridade ou de cultura, e ainda assim ser dono de um patrimônio muito acima de qualquer suspeita.

Na verdade essa é a principal lição que se tira dessa palhaçada paradoxal: você consegue vencer na vida! Para sair dessa miséria, dessa vida de humilhações, da privação depauperada de não ter nem quatro reais para pagar uma corrida de moto-táxi e ir pedir dinheiro emprestado para o parente mais próximo, você não precisa estudar, nem ganhar na mega sena de natal, basta que você siga a carreira de político e que você seja eleito pela vontade do povo, pois a voz de Deus é a voz do povo. Do povo para o não povo. Exatamente esse mesmo povo que é tão bobo.

*Marcos Leonel é professor

Publicado originalmente no Blog do Prof. Sandro Leonel



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