Barbalha (CE): Compra da usina fortalece potencial canavieiro no Cariri

A crise na cultura canavieira, com a queda de investimentos em tecnologia e diversos outros fatores que enfraqueceram a cadeia produtiva, levou ao fechamento, em 2004, da Usina Manoel Costa Filho, neste município. Quase uma década depois, reacende a esperança dos pequenos e grandes produtores, com a compra da usina por R$ 15,4 milhões, por meio de leilão, arrematado pelo Governo do Estado, há dez dias.

A compra foi efetivada após a realização de um estudo de viabilidade técnica, principalmente de áreas agricultáveis na região, correspondente a mais de 8.500 hectares, grande parte inativa, desde o fechamento da agroindústria que detinha pelo menos 3 mil ha plantados para manter o funcionamento da usina.

Vários fatores foram avaliados para a compra do empreendimento que, segundo o secretário de Desenvolvimento Agrário do Estado, Nelson Martins, deverá ser gerida, no futuro, pela iniciativa privada, de onde sairá o ressarcimento do valor da compra para os cofres estaduais ou deverá ser administrada por meio de uma cooperativa de produtores.

Segundo o relatório, esse meio de administração se configura como o mais viável para manter o funcionamento da usina, que chegou a representar na década de 80, auge da produção, cerca de 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB), do Ceará. "O que não deve acontecer hoje, pelo crescimento no Estado, mas terá uma repercussão positiva em relação aos municípios onde haverá produção direta", afirma o secretário.

Ele afirma que ainda não há uma previsão de funcionamento da usina, mas que a parte administrativa e de encaminhamento do processo de gestão estará a cargo da Agência de Desenvolvimento Econômico do Estado do Ceará (Adece). Já o cultivo de cana-de-açúcar e incentivo aos produtores, principalmente da agricultura familiar, onde se encontra a maior parte da área cultivável, estará voltado à Secretaria de Desenvolvimento Agrário.

Situação atual
A Usina Manoel Costa Filho deverá passar por um processo de modernização para ser reativada. O que restou do maquinário está obsoleto. Porém, no auge de sua atuação, a produção comercializada da agroindústria era de 5 mil sacos de açúcar, com capacidade para produzir 40 mil litros de álcool por dia. A maioria da mão de obra mobilizada, cerca de mil agricultores, era da agricultura familiar. O secretário de Agricultura de Barbalha, Elismar Vasconcelos, destaca o clima de otimismo dos produtores e ex-produtores na região. Ele defende o sistema de cooperativa como o mais viável para tocar a usina. A ideia é fortalecer o fornecimento de cana e álcool no Nordeste. Atualmente, estão em funcionamento quatro engenhos, mantidos comercialmente, principalmente em virtude das grandes romarias de Juazeiro

Origem
A usina foi implantada na região em 1973, por Fernando Júlio Maranhão, já falecido. Por três décadas incentivou o cultivo e foi responsável por 4 mil empregos diretos e indiretos, 500 deles na usina, número que deverá ser reduzido pela metade com a modernização dos equipamentos.

O êxodo rural passou a ser um dos grandes problemas gerados pela desativação da usina. Os que atuavam diretamente na indústria, passaram a viver em função da esperança de receber as dívidas trabalhistas. Foram anos de espera, que deverão ser compensados com o pagamento das dívidas por meio da compra efetuada pelo Estado. A oferta inicial era de R$ 25,8 milhões.

De acordo com o levantamento técnico realizado pela Ematerce, no Cariri, em 15 municípios foram identificadas áreas com possibilidade de cultivo. A maior parte, cerca de 70%, se concentra nas cidades de Barbalha (2,7 mil ha), Crato (1,4 mil ha) e Missão Velha, com quase 2 mil ha. Caso a região iniciasse a produção de cana ainda este ano, com a revitalização do setor, a perspectiva de moagem era em 2015. Mas, segundo o secretário, ainda não há uma definição ainda, por conta de todos os estudos técnicos que serão desenvolvidos, inclusive do maquinário disponível. A meta é investir nesse processo pelo menos R$ 30 milhões.

Segundo a gerente do escritório da Ematerce na região, Elcileide Mendonça, que coordenou a elaboração do relatório de viabilidade, os levantamentos realizados pela empresa de assistência técnica alcançaram 686 propriedades dos 15 municípios. Cerca de 2,6 mil ha disponíveis estão em estado precário, necessitando o replantio. Um dos aspectos ressaltados no documento é quanto à importância do investimento em tecnologia e cultivares da cana-de-açúcar.

Alguns ex-funcionários têm cálculos trabalhistas equivalentes a mais de R$ 500 mil. Outros chegaram ainda a receber parte do pagamento. Em setembro do ano passado, a usina seria levada a leilão público pela Justiça do Trabalho, no valor mínimo de R$ 10,8 milhões.

Foram 27 anos de vida dedicados ao trabalho da usina. Hoje, Antônio Alves Ribeiro, "Toinzinho", espera resolver o impasse de anos e receber o seu dinheiro. "São anos de espera e até agora lutamos para que essa situação seja definitivamente resolvida", afirma. Segundo a avaliação que foi feita do seu processo, ele deveria receber em torno de R$ 500 mil. Trabalhava no local como gerente. Segundo o ex-funcionário, agora aposentado por idade, José Manoel da Silva, a esperança deve continuar, até porque já recebeu parte do dinheiro que tinha como direito, há oito anos. Agora, restam mais R$ 6 mil. O aposentado, da cidade de Missão Velha, chegou a trabalhar na usina por 17 anos.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Barbalha, Francisco Sérgio Pereira, diz que será feito todo um trabalho para reanimar os produtores. Hoje, muitos agricultores se deslocam para trabalhar em usinas de Estados da Bahia, Interior de São Paulo, Pernambuco e até mesmo no Paraná. São mais de mil, segundo o órgão.

A classe empresarial está animada com os resultados futuros gerados para a economia de Barbalha, principalmente, onde está sediada a usina. A presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Suzete Luna, destaca os avanços ocorridos em Barbalha nas décadas de 70 e 80. Ela afirma que foi a melhor notícia dos últimos anos para a cidade, que recebeu o nome de ´terra dos verdes canaviais´, em função da vocação desenvolvida e que poderá voltar nos próximos anos.

Mais informações
Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) - Fortaleza
(85) 3101.8105

Escritório da Ematerce - Crato
(88) 3521. 2835 

ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste



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