Consumo de água no CE supera em 30% o recomendado

Apesar da forte estiagem que atinge o Interior do Estado e as recentes crises no abastecimento de água registradas em Fortaleza neste ano, o recurso hídrico, que deveria ser cada vez mais estimado pela população, está sendo utilizado em maior quantidade do que o necessário. A Organização das Nações Unidas (ONU) considera ideal o consumo diário de 110 litros de água por habitante. Entretanto, segundo a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), em 2012, os cearenses gastaram cerca de 143 litros do líquido por dia, aproximadamente 30% a mais que o recomendado.

De acordo com informações da empresa, cada uma das 5,15 milhões de pessoas beneficiadas com o abastecimento no Estado utilizou quase 51.500 litros de água no ano passado, uma média de 4.692 ao mês. O número representa um acréscimo de 1.360 litros em relação ao padrão mensurado pela ONU como suficiente para necessidades de consumo e higiene.

Segundo Mara Verly Ferreira, profissional de educação ambiental da Cagece, a cifra elevada possui uma explicação simples: devido às altas temperaturas e ao calor excessivo, o cearense tende a gastar mais água, principalmente nas atividades que visam amenizar o clima quente. Contudo, os velhos costumes errados e os aspectos culturais dos brasileiros ainda têm influência marcante no consumo irresponsável do recurso hídrico.

"Se compararmos com outros países, podemos perceber que a nossa higiene é bem diferente. Tomamos banho mais vezes ao dia, por exemplo. Mas existe também o mau hábito. As pessoas não têm noção do quanto está desperdiçando deixando a torneira aberta ou lavando o carro e calçadas com mangueira", explica Mara.

Desperdício
Pequenas atitudes rotineiras e aparentemente insignificantes podem representar, muitas vezes, grandes perdas de água. Quase 1.400 litros são desperdiçados quando uma torneira permanece gotejando por um mês, enquanto escovar os dentes com o registro aberto representa um gasto desnecessário de seis litros do líquido. Já uma simples lavagem de carro chega a consumir 200 litros do recurso, quantidade suficiente para encher dez garrafões de água do tipo utilizado no consumo doméstico.

Tarifa
A população sente os efeitos desse desperdício todos os meses, na conta mensal de água. Embora alguns cearenses não tenham conhecimento, a tarifa cobrada pela Cagece é variável, mudando de acordo com a demanda de líquido em um estabelecimento. Em uma residência normal, por exemplo, onde a faixa de consumo vai de zero a 10m³ de água, o valor pago deve ser R$ 1,85 por cada 1.000 litros usados. O custo vai aumentando conforme a quantidade de recurso gasta, podendo chegar a R$ 7,60 nas casas onde são utilizados mais de 50m³ por mês.

"É importante que os moradores saibam que o valor da água é progressivo. Quanto mais você gasta, mais o valor da tarifa vai se diferenciando em relação ao consumo. Quanto mais economiza, mais barata fica a tarifa", salienta Mara Verly.

A profissional da Cagece alerta, ainda, que, se o consumo continuar a ser crescente e desenfreado, o Estado poderá sofrer, futuramente, com uma grave crise no abastecimento de água. "Hoje, a gente já vê que o tratamento da água tem de se adequar à questão dos mananciais, que estão cada vez mais difíceis de serem encontrados. Precisamos dar valor a cada gota que chega a nossa casa tratada e própria para o consumo humano", destaca.

Vazamentos agravam o caso
Associado ao consumo excessivo, o desperdício de água no Estado é agravado por vazamentos no sistema de abastecimento e ligações clandestinas. Com isso, em 2012, o Índice de Água Não Faturada (IANF) registrado hoje equivale a 24,9% do total disponibilizado pela Cagece. Ou seja, quase um terço de todo o líquido fornecido para o Estado é perdido por conta de tubulações extravasadas e dos famosos "gatos". No ano passado, 2.850 ligações clandestinas foram encontradas na Capital.

Um dos exemplos de desperdiço foi o episódio ocorrido ontem pela manhã na Avenida Beira-Mar. Um cano da rede de água tratada estourou próximo ao Clube Náutico Atlético Cearense, levantando um forte jato do líquido no calçadão. A assessoria de imprensa da Cagece informou que as causas do incidente não foram identificadas, mas acredita-se que a falha tenha sido ocasionada pelas intensas chuvas registradas nos últimos dias. Segundo a assessoria, o vazamento foi reparado no mesmo dia e não afetou o abastecimento na área.

A empresa declarou, ainda, que vazamentos desse tipo normalmente ocorrem por tubulações gastas, intromissões no sistema de distribuição e variação de pressão na rede. Para solucionar as deficiências, a Cagece alegou realizar iniciativas como a criação de equipes de combate a vazões visíveis e ocultas e fiscalização de fraudes. Além disso, a empresa trabalha na revisão da macromedição do Ceará e a redução da idade média do parque de hidrômetros para 3,5 anos.

Fonte: Diário do Nordeste



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