Interior tem só 25% de todos os postos de trabalho do CE

De um lado existem vagas não preenchidas, como é o caso dos médicos e até de operários da construção civil. De outro, há trabalhadores não capacitados ou um mercado tomado pela crise. As duas realidades se somam para configurar o Interior como detentor de um quarto de todos os postos de trabalho, exatamente na área mais sofrida economicamente do Ceará.

Dados do Sine/IDT revelam que a concentração de emprego em Fortaleza e Região Metropolitana, com cerca de 75% dos postos, são decorrentes em parte da recessão econômica. Atinge severamente os municípios que padecem da paralisação das obras públicas (tais como as de transposição do rio São Francisco e a Transnordestina), bem como da seca e principalmente porque instituições formadoras de mão de obra estão distantes do potencial mercado do Interior, que fica apenas com os 25% restantes dos postos.

Em 2012, com todo o esforço de intermediação do Sine/IDT, a colocação do mercado de trabalho na Região Metropolitana de Fortaleza foi de 47.791 postos, enquanto que o Interior registrou 33.661, correspondendo a 42%. Ou seja, mais de 170 municípios empregaram menos da metade em todo o Estado.

Há uma espécie de "cemitérios de profissões", e não são apenas aquelas que as universidades ainda oferecem, como Economia Doméstica, Ciências Sociais e Terapia Ocupacional. Ou ainda, como demonstram os poucos interessados aos cursos das faculdades instaladas nos campi do interior, de acordo com a Universidade Federal do Ceará UFC), que são Filosofia e Música (Cariri) e Engenharia de Software (Quixadá). Na contramão, há aquelas disputadíssimas, especialmente, pelo serviço público, tais como Odontologia e Medicina.

Não obstante as profissões acadêmicas, a falta de operários na construção civil, conforme explicação do Sine/IDT, resulta da falta de obras públicas, que foram interrompidas no ano passado. Assim, pedreiros, carpinteiros, eletricistas e ferreiros migraram para a Capital e Região Metropolitana, onde há mercado e melhores remunerações.

Dependência
"Temos que entender que emprego não depende apenas do mercado. Também tem relação com a formação profissional", afirma o coordenador do Sine/IDT, Antenor Tenório. À frente da Intermediação do Trabalho no Estado, ele observa que a complexidade ainda mantém o quadro de que, pela realidade, o trabalhador se submete a qualquer emprego oferecido.

Ainda por conta dessa complexidade, há uma desorientação em torno do emprego. Muitos jovens buscam os setores de serviços, em detrimento da indústria. Segundo o analista de mercado, isso implica em importar mão de obra, uma vez que, o crescimento, sendo ou não da forma ideal, continua ocorrendo. Exemplo disso acontece com a Grendene, que deverá instalar a oitava unidade industrial em Sobral. O anúncio aconteceu na quinta-feira passada como notícia relevante, após encerrado o pregão da Bolsa.

Para Antenor, a realidade pode não se repetir em outras cidades. A indústria, conforme salienta, já não tem a mesma expansão de períodos anteriores. Em contrapartida, o comércio, com a instalação de shoppings pelas principais cidades do Estado, amplia as vagas.

Mas aí surge um novo complicador. Os jovens são verdadeiramente vocacionados para esse setor. "O que a experiência observa é que não basta conhecimento. Hoje, o empregador leva em consideração, a criatividade, a capacidade de tomar iniciativa e bom relacionamento intersocial", disse o coordenador estadual de intermediação do emprego do Sine/IDT. "É fundamental que os jovens descubram suas verdadeiras vocações. Existem bons cursos profissionalizantes no Interior e, com relação à capacitação, não se deve gastar dinheiro inutilmente", destaca.

Na verdade, entende que há muito o que se fazer nesse campo da formação para que se foque para o potencial de cada município, como é o caso de cursos técnicos, onde há demanda industrial, a exemplo do Pecém e Agronomia, nos polos de agricultura, abrangendo desde a irrigada até a assistência ao pequeno ou agricultor familiar.

O que acontece com os profissionais de saúde, particularmente, os médicos, é bastante curioso. Costuma-se dizer que são "puxados pelo braço" para trabalhar no Interior e, mesmo assim, é grande a relutância.

O presidente do Sindicato dos Médicos do Estado, José Maria Pontes, confirma essa situação. Ele diz que ainda prevalece uma relação de trabalho precária, que desmotiva o médico a permanecer no Interior. "Esses acordos são verbais. A Prefeitura diz que paga um valor, e isso acaba não acontecendo", afirma José Maria. Na sua opinião, é natural que todo trabalhador deseje ganhar bem. No caso dos médicos, conforme salienta, há uma identificação com a missão, mas não políticas públicas para fixar o médico nas cidades do Interior.

E oferta é o que não falta. Dentre os 4.392 médicos que participarão da segunda edição do Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica (Provab) no Brasil, 698 vão prestar serviços em 141 municípios do Ceará, o que representa 15,89% do total para todo o País. Para o presidente do Sindicato, política pública deve ser entendida com instalação de laboratórios, centros cirúrgicos e relações de trabalho consistentes. "Se as prefeituras não querem pagar bem o generalista, imagine um especialista", diz.

Para o coordenador técnico do Núcleo Técnico da Associação dos Prefeitos do Estado do Ceará (Aprece), Tales Gomes, é improcedente a crítica de José Maria Pontes. Segundo ele, se houve quebra de contrato é algo pontual. No entanto, sua surpresa maior é quanto ao fato de dizer que os acordos são feitos verbalmente. "Como um prefeito pode justificar um gasto, se não há um documento formal?" indaga. Ele observa que há uma determinação do órgão em incentivar a capacitação do trabalhador no Interior, especialmente na elaboração de projetos.

"O que observamos é que muitos projetos, como os de Engenharia, são feitos na Capital, por pessoas que não conhecem a realidade das cidades. Isso acaba resultando numa incompatibilidade entre o que se pretendia e o que foi oferecido para a população", afirma. Tales diz que o momento atual é de organizar os pisos salariais e podem representar em dificuldades iniciais para os gestores municipais, mas significará melhoria dos serviços.

Mercado
42% das colocações do mercado de trabalho em 2012 foram para mais de 170 cidades cearenses. Isto no que se refere à intermediação de vagas no Sine.

Mais informações
Aprece: (85) 4006.4016
Sine/IDT: (85) 3101.5500
Sindicato dos Médicos do Estado do Ceará: (85) 3261-4788
UFC: (85) 3366.9496

MARCUS PEIXOTO
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste



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