Assaré (CE): Exemplo de três irmãs inspira vídeo

Três da manhã. É a hora de três mulheres com deficiência visual despertarem para um novo dia. Exemplos de superação. A história de vida deu nome ao vídeo produzido pelo sobrinho das irmãs, Diogo Brasil, do projeto Verde Vida, organização não governamental, no distrito de Dom Quintino, em Crato. Ele decidiu embarcar no projeto da entidade, para mostrar a rotina de suas tias na tela. A produção foi em 2008, por meio do Ações Culturais para os Povos Rurais, com apoio da Petrobras e do Criança Esperança. A tentativa era expor o dia a dia das três irmãs.

Maria, Rita e Julia Ferreira de Sousa. Irmãs marcadas pelo destino. Todas têm deficiência visual e convivem normalmente em casa, com os afazeres domésticos do cotidiano. Uma vida que elas não lamentam pelas dificuldades que se apresentaram pelo destino afora. Vez por outra, recebem visitas de familiaresque moram na localidade da Palmeirinha, onde também residem.

Diogo se fez cineasta por alguns dias para apresentar o exemplo das tias, em um dos documentários produzidos por uma equipe da ONG Verde Vida. Ele não conseguia entender como elas encaravam a vida. O vídeo foi uma oportunidade. Ele chegou bem cedo para as primeiras filmagens. Um pouco mais, após as 3 horas. Mas, os primeiros passos de Rita já haviam sido dados, levando a lenha em busca de fogo. Até chegar às 6 horas, tudo praticamente já está pronto. O almoço, casa arrumada e varrida. Uma limpeza e arrumação impecáveis.

Maria ainda lembra dos primeiros momentos quando criança, em que teve a oportunidade de enxergar. Mas o mundo aos poucos foi escurecendo. "Aceito sem revolta, graças a Deus", diz dona Rita. Mas ela lembra dos dias em que tinha que moer milho, lavar roupa, pegar água no açude, e fazer o almoço de várias pessoas em casa. "Até as 12 horas, botava 50 latas de água na cabeça", afirma.

São mulheres do sertão cearense, acostumadas com a lida da agricultura. Colhiam algodão nos tempos de maior fartura. A conformação quanto ao estado delas é exposto por dona Maria. "Deus quis que a gente ficasse deficiente", diz ela. E aceita sem revolta a sina. Vai cantando durante os dias da vida. Pega o machado e corta a lenha para o fogo, no terreiro de casa.

Júlia não se faz de rogada, mesmo com a deficiência visual. "Faço tudo, e muitas vezes até melhor do que muita gente que tem a vista boa", afirma. E diz ainda que é bem conformada com a vista que tem. "Não sinto inveja de quem tem a sua vista boa", ressalta.

A religiosidade é um dos grandes alentos para essas três mulheres. Júlia chegou a ser catequista e a formar crianças para a Primeira Comunhão.

Os cânticos em coro das três irmãs embalam o fim de tarde. A companhia da irmã Idália Maria Ribeiro, para as missas, ou mesmo das sobrinhas, é fundamental. Um passeio imprescindível para fortalecer a esperança nos dias de vida. Mesmo já tendo ido morar em outro Estado, a irmã com visão saudável afirma que jamais pensa em abandoná-las. "São pessoas guerreiras e fortes", afirma.

Estudos
Rita lembra da sua grande vontade na vida que era de concluir os estudos. Sai a caminho do terreiro, para dar o milho das galinhas, ao mesmo tempo em que a fala conformada com o estado de vida traduz a dignidade do trabalho que pode exercer.

O som do pilão marca o compasso de uma realidade diária, naturalizada por pessoas que compreendem o sentido da vida, sem dor, nem sofrimento.

Simplesmente, elas vivem de acordo com o que possuem e as condições que dispõem para isso, sem sofrerem com limites.

Mais informações
ONG Verde Vida
Sítio Catingueira
Distrito de Ponta da Serra
Telefone: (88) 3523-9162

ELIZANGELA SANTOS
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste



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