Reisados do Cariri saem às ruas neste fim de semana

A tradição popular vai às ruas com dezenas de grupos da região do Cariri na Folia de Reis, que já começa neste sábado, numa pré-abertura da louvação do Dia de Reis, no domingo, 6, fechando o calendário das comemorações. As apresentações dos grupos acontecem de forma espontânea e também com programações nas principais praças das cidades. No Crato, cerca de 20 grupos se apresentam na Praça da Sé. Em Juazeiro do Norte, dez deles estarão a partir das 17 horas na Praça Padre Cícero, onde também acontece a queima de lapinhas.

Na cidade cratense haverá a comemoração dos 50 anos da louvação, iniciada com o Mestre Elói Teles de Morais. A sequência desse trabalho acontece de forma ininterrupta. No seu início, contou com nomes, além do mestre Elói Teles, dos mestres Dedé de Luna, Correinha Lima, além de Nezim Patrício e do memorialista Huberto Cabral. A cidade marca a tradição com a apresentação espontânea dos grupos a partir de amanhã, com a Folia de Reis, em visita às residência de autoridades e pessoas que têm contribuído fortemente para a manutenção da cultura popular.

Segundo o presidente da Fundação Mestre Elói Teles de Morais, Catulo Teles, as cinco décadas marcam a resistência cultural dos grupos na cidade. Segundo ele, a programação será iniciada a partir das 19h30, após a missa na Sé Catedral. A queima de lapinha acontece também na praça, com a apresentação do grupo da mestre da cultura no Estado, Zulene Galdino.

Para ela, é importante continuar mantendo a tradição a todo custo. "É uma forma de não apenas mostrar o aspecto verdadeiro do Natal, contando a história do Menino Deus, mas um momento de alegria, que deve ser levado a todos", diz Zulene.

Para Catulo Teles, esse momento é de grande representatividade para a cultura popular, no fortalecimento dos grupos de tradição. Os mestres são mobilizados em várias comunidades do Crato. "É uma oportunidade de mostrarmos para as novas gerações a presença de uma cultura que se mantém forte. Das crianças entenderem que existe a brincadeira de bila e não apenas o download", avalia.

Em Juazeiro do Norte, segundo o gerente do Sesc, Paulo Damasceno, foram reunidos dez grupos para se apresentarem das 17 horas às 22 horas. Um palco iluminado foi montado na Praça Padre Cícero. Desde cedo, os grupos saem espontaneamente dos bairros como o João Cabral, Pio XII, Frei Damião, Franciscanos e outros para as primeiras missas do dia ou simplesmente para levarem a louvação às praças do Socorro, próximo ao túmulo do Padre Cícero, e também na área da Basílica de Nossa Senhora das Dores.

De acordo com o gerente, nos próximos anos, o Sesc terá programações com os grupos em Barbalha e também no Crato, fortalecendo os trabalhos já existentes nessas cidades.

Lapinha
A queima tradicional das lapinhas é mais forte em Juazeiro do Norte, e também acontece na Praça Padre Cícero. A cidade conta, atualmente, com cerca de cinco grupos, como a Nossa Senhora Aparecida, e a mais tradicional, a Santa Clara, nos seus 100 anos. A lapinha centenária teve o estímulo do Padre Cícero, que fez o pedido à mestre Teodora de criá-la, passando o legado para a sua filha, a mestre Tatai. O grupo faz a apresentação na praça e retorna para a Rua Santa Clara, com seus mais de 30 componentes, para realizar os ritos finais do período natalino, em frente ao Memorial de Dona Tatai, por volta das 19 horas.

Em Barbalha, os grupos descem do bairro Alto da Alegria e outras localidades do município para o Centro da cidade, pela manhã. Em todos os anos, o percurso acontece da Igreja do Rosário até a Matriz de Santo Antônio. A terra do santo casamenteiro conta com mais de 50 grupos folclóricos, incluindo o reisado do couro, além dos penitentes.

Desde os 12 anos, Francisco Gomes Novais, seu Neno, decidiu ser um brincante de reisado. Morava na zona rural do Crato. A resistência veio do princípio. Foi despedido pelo patrão, que não aceitava homem de saia e com a cara pintada. Onde tinha um grupo, seu Neno fazia parte da Folia de Reis. As mudanças, ao longo dos anos, desanimam um pouco o brincante. "Minha história sobre o reisado é um romance", diz seu Neno, ao relatar a trajetória de sua vida. O agricultor, há 16 anos, mora em Juazeiro do Norte. Para ele, o pedido de licença para participar das rezas seguia todo um ritual. Era o momento de saudar o divino. "A gente chegava na renovação e ficava distante. Tinha que ter conhecimento para a saudação. Rezava uma oração para ter que entrar na casa", diz. Até as roupas dos brincantes eram consideradas sagradas. "Depois de se vestir, a gente não chegava perto de mulher e muito menos de bebida". Assim, a brincadeira continuava durante o dia todo e seguia pela noite até o dia 7.

Para o professor e folclorista, Cacá Araújo, o vigor cultural do Cariri tem, na cultura tradicional popular, sua mais profunda representação. É um "pedaço grande de Brasil" que foi colonizado a partir do sertão, com as entradas de gado. Tem mais de três séculos de caldeamento de saberes e costumes do ameríndio que habitava na região, do branco ibérico invasor e dos negros africanos trazidos como escravos principalmente para o cultivo da cana-de-açúcar.

Origem está nos povos egípcios e romanos
A Tiração de Reis, pelos reisados do Cariri cearense, ou a Folia de Reis, assim chamada em diversas outras regiões brasileiras, pelos grupos de foliões, são tradicionalmente realizadas no período de 25 de dezembro a 6 de janeiro. Têm sua origem primária na Festa do Sol Invencível, comemorada pelos romanos e depois adotada pelos egípcios.

A festa romana era comemorada em 25 de dezembro (calendário gregoriano) e a egípcia em 6 de janeiro. No século III ficou estabelecido que dia 25 de dezembro se festejaria o Nascimento de Cristo e 6 de janeiro, Dia dos Reis, homenageando os Reis Magos Gaspar, Melchior e Baltazar, que levaram ouro, incenso e mirra, que representam, segundo a Igreja Católica, as três dimensões de Cristo, que são realeza, divindade e humanidade. Durante 12 dias, a partir do Natal até 6 de janeiro, acontece a Tiração de Reis.

Mais informações
Fundação do Folclore Mestre Eloi
Rua Major Evangelista Gonçalves, 22
Bairro Pimenta - Crato
Telefone: (88) 9299.3430

ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste

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