Crato (CE): Fóssil de camarão inédito é apresentado

Apresentado para a comunidade científica a única espécie de fóssil de camarão encontrada no planeta. Como o nome científico de Kellnerius jamacaruensis, em homenagem a um dos maiores nomes da Paleontologia brasileira, a concreção foi divulgada oficialmente na manhã de ontem, na sede do Geopark Araripe, na cidade do Crato, pelo coordenador da maior escavação controlada do Nordeste, Álamo Feitosa, iniciada em agosto de 2011.

A solenidade contou com a presença da imprensa regional e estadual, além de pesquisadores, gestores da Urca e integrantes da pesquisa Estudos Sistemáticos e Paleoecológicos da Fauna de Vertebrados das Formações Crato e Romualdo (grupo Santana) da Bacia do Araripe.

O novo camarão carídea é da formação Romualdo, da Bacia Sedimentar do Araripe, de onde já foram retirados inúmeras pelas fossilizadas. O material foi encontrado entre mais de 1.300 peças fósseis, em 11 dias de prospecção, no distrito de Jamacaru, em Missão Velha. Esse trabalho fez parte da segunda escavação realizada dentro do projeto, na parte leste da bacia.

A primeira aconteceu em Araripe, à oeste. Nos próximos meses, após a temporada das chuvas, deverão ser iniciadas novas escavações, dessa vez na cidade de Campos Sales.

Bolsista
A nova peça descrita teve a preparação da bolsista do curso de Biologia da Urca, Caroline Maiara da Silva. Ela foi responsável pela apresentação desse trabalho, que envolveu desde a retirada do fóssil da matriz, à análise em microscópio eletrônico o uso de agulhas de insulinas, para a limpeza do material. Pela raridade do fóssil, a grande surpresa, segundo Álamo Feitosa, foi a publicação na revista científica da Nova Zelândia, Zootaxa, do material encontrado. A avaliação dos editores destacou o caráter inédito do material, como o primeiro camarão fossilizado do mundo. Segundo pesquisador, Álamo Feitosa, o fóssil tem mais de 100 milhões de anos, inserido na era cretácea. O camarão é proveniente de água com pouca salinidade e semelhante as espécies que se conhece atualmente. Pelo caráter de preservação dos fósseis encontrados na região, conforme o paleontólogo, já foram encontrados crustáceos similares, mas dentro da barriga dos peixes em concreção.

Extração
A pesquisa que vem sendo realizada no Cariri, por meio da Urca e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Nacional (CNPq), com apoio do Geopark Araripe, é responsável pela extração de mais de 6 mil peças. A maioria será depositada no Museu de Paleontologia de Santana do Cariri, posteriormente, inclusive o fóssil do camarão, localizado em maio do ano passado, em Jamacaru. A divulgação veio ser feita, conforme o estudioso, somente agora, por conta das análises, descrição e da publicação em revista científica de seu ineditismo, também ressaltando o caráter de importância da Bacia Sedimentar do Araripe, como uma das áreas de pesquisa mais relevantes no estudo da paleontologia.

O pesquisador homenageado, Alexandre Kellner, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), destaca a importância de pesquisadores da própria região estarem divulgando essa descoberta. Esse trabalho, segundo ele, é fruto de uma parceria para capacitar pesquisadores locais. Outro fator levantado pelo cientista é que o camarão jamais teria sido encontrado, se não houvesse o desenvolvimento de uma escavação controlada. "Existe agora uma capacitação e pessoas que conseguem desenvolver pesquisas e fazer esse trabalho belíssimo que são as escavações".

Em mais de 45 anos de atuação na área, Kellner disse que foram os fósseis da região que deram uma importante base de contribuição a sua carreira. Álamo ressaltou a relevância do pesquisador nos estudos dos fósseis da Bacia do Araripe, com a descrição do primeiro dinossauro com tecidos moles, peles e vasos sanguíneos, chamando a atenção da comunidade científica mundial, em relação ao nível de preservação do material coletado no Cariri.

Durante a apresentação, o vice-reitor da Urca, Patrício Melo, destacou a parceria que está sendo firmada com a Universidade de Campinas (Unicamp), para análise de microfósseis achados na região. Contribuindo, segundo ele, para a ampliação dos estudos na área.

Mais informações
Universidade Regional do Cariri (Urca)
Laboratório de Paleontologia
Rua Teófilo Siqueira, 754
Centro
Crato (CE)
Telefone: (88) 3102.1237

ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER 

Foto: Samuel Pinheiro

Fonte: Diário do Nordeste

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