O anfitrião de Gonzaga no Crato

O pai de Hildelito Parente, seu Manuelito, foi pioneiro do que é hoje uma das profissões mais requisitadas na região do Cariri. “É a primeira lembrança que eu tenho de um mototaxista”, conta o filho, hoje com 71 anos. “Ele chegou a levar o Luiz Gonzaga pra tocar em festas por aí”.

Estamos na sala da casa que abrigou por várias vezes o Rei do Baião, no Crato, e o funcionário aposentado do Banco do Brasil lembra as histórias de um tempo que começou oficialmente para ele aos cinco anos, com o primeiro show de Luiz Gonzaga na cidade.

“A primeira lembrança é de 1946. Ele veio visitar os pais dele depois que fugiu. Ele gostava muito do Crato, aí foi convidado pra alegrar uns leilões que estavam angariando dinheiro pra edificar a Igreja de São Francisco e o hospital. Fez um show no Cine Cassino, que era o segundo cine mais cotado aqui da cidade. Um show magnífico na época. Cantou ‘Baião’, cantou ‘Vira e Mexe’... Nisso ele vai embora, com pouco volta e quando chegou dessa vez já passou a se hospedar lá em casa, aí toda viagem tanto ele quanto os familiares ficavam lá em casa”.

A mãe de Hildelito, Hilda, era pernambucana do Exu, e o pai do Araripe, a localidade onde nasceu Luiz Gonzaga. Seu Manuelito era conterrâneo de Luiz Gonzaga e veio para o Crato com a família para assumir posto no Banco do Brasil. Desde então passou a ser o contato de Luiz no centro econômico da região, servindo como intermediário na comunicação precária entre o Rio de Janeiro e o Araripe, onde ainda moravam Santana e Januário.

“Papai era quem dava dinheiro pro seu Januário, quando ele vinha por aqui é que perguntava quando ele tinha fornecido e ele pagava papai. Outra vez, seu Januário muito doente da próstata e ele doido por se comunicar, papai findou arranjando um rádio amador aqui no Crato chamado Agenor e conseguiram manter contato com Luiz Gonzaga”, relembra Hildelito.

Por vezes, Luiz aparecia no portão de madrugada, sem avisar, e soltava um “ôi!” sibilante, que reverberava por toda a casa com a notícia de sua chegada. “Ele era brincalhão, bonachão... Gostava de andar na feira, comprar uns presentinhos. Me lembro bem de um revolverzinho daqueles que atira uma balinha de plástico que ele me deu.”

A presença de Luiz Gonzaga na casa inspirou na época o jovem Hildelito – que já fazia aulas de piano clássico com um polonês que veio se refugiar da Segunda Guerra no Crato – a aprender sanfona. Anos depois, na década de 1970, ele próprio acompanhou o Rei no Crato Tênis Clube e teve composições suas gravadas por ele, como a parceria com José Clementino Sou do Banco. O sanfoneiro e bancário aposentado guarda ainda hoje a sanfona Todeschini vermelha que ganhou de presente de Luiz Gonzaga.

Anos depois, já em 1989, quando o corpo de Luiz Gonzaga chegou no aeroporto de Juazeiro para seguir em cortejo até Exu, foi ele quem tocou ao lado de Waldonys na recepção fúnebre, mas alegre. “Era gente... As ruas superlotadas. De Juazeiro até Exu, era todo mundo nas portas”, lembra com o álbum de fotografias nas mãos. (Pedro Rocha)

Influência musical
A presença de Luiz Gonzaga na casa inspirou na época o jovem Hildelito a aprender sanfona. Anos depois, na década de 1970, ele próprio acompanhou o Rei no Crato Tênis Clube e teve composições suas gravadas por ele

Lembrança de 1946
Hildelito Parente recorda que, em 1946, Gonzaga visitou os pais depois que fugiu. “Ele gostava muito do Crato, aí foi convidado pra alegrar uns leilões que estavam angariando dinheiro pra edificar a Igreja de São Francisco e o hospital. Fez um show no Cine Cassino. Um show magnífico na época”.

Fonte: O Povo

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