Juazeiro do Norte (CE): Peregrinações são tema de pesquisa

Diante da tensão entre moradores e romeiros, que ainda é frequente em Juazeiro do Norte, a professora Maria Paula Cordeiro realizou uma pesquisa sobre esses períodos de peregrinação religiosa. Como resultado de 14 anos de estudos sobre o tema, ela percebeu que atualmente existem diversas formas de enxergar os eventos, principalmente nos eixos político, econômico e devocional. No ano passado, a estudiosa lançou um livro que relata os dinamismos das romarias. O título, "Entre Chegadas e Partidas" está sendo distribuído entre pesquisadores das áreas de antropologia e sociologia, para que outras observações possam contribuir academicamente.

Para a pesquisadora, as romarias sã´o eventos que envolvem demandas diferentes relacionadas à devoção, diversão e consumo. Para a economia local, esses períodos representam momentos em que o comércio de bens e serviços vivencia um forte aquecimento das vendas, de produtos não apenas de natureza religiosa, já que muitos visitantes se abastecem de mercadorias que não existem em variedade em seus locais de origem. Na política, que está diretamente associada ao setor econômico, na medida em que gera desenvolvimento, os órgão públicos realizam investimentos que fomentam a iniciativa. Já no campo devocional, as práticas romeiras auxiliam na manutenção das tradições culturais e religiosas.

Mudanças
Entretanto, Maria Paula Cordeiro aponta que, nos últimos anos, os significados das ações vivenciadas pelos romeiros têm passado por mudanças relevantes, principalmente nas atividades de lazer e diversão dos grupos de visitantes. Além da religiosidade, a busca vem sendo por balneários, clubes recreativos, shoppings, festas de forró e outras formas de divertimento. De acordo com a estudiosa, futuramente, poderá haver um esvaziamento de conteúdos religiosos.

"As visitas aos lugares sagrados em várias situações se apresentam como mais um item de um extenso roteiro de visitação. É como se as romarias estivessem se "turistificando". Esse não é um processo tranquilo, pois pode provocar perda dos significados religiosos e isso não é desejável, do ponto de vista da Igreja", argumenta Maria Paula.

O interesse em perceber a multiplicidade das romarias levou a pesquisadora a superar os estereótipos impostos à figura dos romeiros, que se caracterizam com chapéu na cabeça e rosário no pescoço.

Para ela, os devotos são apenas uma categoria entre muitas que dinamizam as romarias, como os festeiros, acompanhantes e os que estão à passeio que se identificam mais com o contexto de sociabilidade ao invés de procurarem a religião de uma forma mais profunda. Na sua avaliação, a tríade de interesses gera o consumismo dos locais tidos como sagrados, caracterizando experiências mais visuais do que devocionais. Em sua pesquisa, Maria Paula mostra que as novas gerações sofrem mais influências de aspectos não religiosos. Segundo ela, para os jovens, a cidade aparece como um lugar a ser explorado em todas as suas reais potencialidades.

Juventude
No momento, Maria Paula está realizando um levantamento sobre cenário da religiosidade vista pela juventude caririense. O estudo ainda está em fase inicial, onde estão sendo elaborados os instrumentos de coleta de dados e a definição das amostras.

Mas a expectativa é que as análises auxiliem no entendimento de como as demandas culturais contemporâneas e os meios de comunicação repercutem na escolha das ideologias.

A proposta é verificar por que as famílias estão mais flexíveis quanto à transmissão desses valores, o que implica em um quadro amplo de opções de religiões. Como hipóteses a pesquisa irá utilizar as avaliações do conservadorismo da Igreja Católica, que pode ser um dos elementos para a abertura de espaços no mercado religioso.

YAÇANÃ NEPONUCENA
REPÓRTER 

Fonte: Diário do Nordeste

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