Cariri tem primeira orquestra de deficientes visuais do Ceará

Um projeto social que tem como base a música erudita está sendo desenvolvido para tentar incluir socialmente um grupo de deficientes visuais. A primeira orquestra de câmera de deficientes visuais do Ceará já começou os trabalhos. A iniciativa surgiu após o maestro Hélio Santana Filho perceber a necessidade de despertar o interesse pela integração desse público no universo artístico. Atualmente, as atividades de sensibilização dos componentes estão sendo elaboradas para que eles possam se adequar aos instrumentos. Os treinamentos iniciais são focados nos sentidos e procuram aguçar a audição e tato. Além de melhorar a memorização, concentração, auto disciplina, postura e, também, a criatividade.

O Projeto Semeador Semeando Música, que tem o apoio da Organização Não Governamental (ONG) Terra, envolve componentes do Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha. Todos moradores de comunidades carentes e com idades entre 16 e 45 anos. A meta da orquestra de câmera dos deficientes visuais é provar para a sociedade que as deficiências não impõem limites à vida e que todos os portadores de necessidades especiais são capazes de tocar qualquer instrumento. O grupo vem reunindo-se aos sábados, com o intuito de montar um repertório que poderá ser apresentado dentro dos próximos três meses.

Segundo o maestro Hélio Santana Filho, para os integrantes, o objetivo é desenvolver o "ouvido absoluto", termo que na área musical significa a apuração das notas dentro da melodia e harmonia, por meio da audição. Para ele, essa é uma experiência positiva e que auxilia no funcionamento das funções cerebrais de forma simultânea, já que a música tem a capacidade de reforçar a coesão social e estimular as competências, habilidades e potencialidades de quem a produz ou escuta, além de exercitar a atenção, concentração, análise e seleção dos sons.

De acordo com o maestro, a música auxilia no desenvolvimento da autonomia e eleva a independência dos portadores de deficiências visuais. Por meio do conhecimento e da aprendizagem de instrumentos percussivos e sopro é possível promover a comunicação, o relacionamento, o aprendizado, a mobilização, organização e outros elementos terapêuticos relevantes, que podem atender às necessidades físicas, mentais, sociais e cognitivas dos participantes. "Diante das limitações estruturais que ainda temos, esse não é um trabalho fácil. Mas iremos ter um resultado positivo que colocará o nosso grupo em evidência. Já está comprovado que a música aciona as atividades cerebrais, o que dá uma melhor compreensão do que a gente quer passar".

Dificuldade
Apesar de demonstrarem satisfação em participar das atividades coletivas do projeto, os músicos da orquestra apontam o transporte como a grande dificuldade para o trabalho. A falta de um meio adequado limita os ensaios. Também não há impressora em braile que possa viabilizar as partituras e textos específicos e computadores especiais destinados à gravação de áudios.

No momento, os investimentos são na aquisição dos instrumentos que serão comprados em São Paulo. A orquestra de câmera de cegos já conta com 13 componentes, que estão estudando a introdução a violões, flautas e percussão. Mas, a expectativa é que, até o fim de novembro haja violinos, violas, violoncelos, flautas transversais, saxofones, clarinetes, trompetes, trombones e piano, para que eles possam aprofundar os conhecimentos e buscar uma especialização. Um dos objetivos é ampliar as oportunidades dos músicos ingressarem no mercado de trabalho. Com a iniciativa, os integrantes esforçam-se para transformar o grupo em uma inspiração e modelo, onde a sociedade possa notar que vale a pena investir na inclusão social das pessoas portadoras de necessidades especiais.

Para suprir as demandas da falta de eventos que exibem música de qualidade nos conceitos melodia, harmonia e ritmo, o plano é montar um calendário de apresentações. O repertório será elaborado com canções regionais e eruditas de compositores como Luiz Gonzaga, Vila Lobos e Beethoven. A pretensão é que a orquestra torne-se uma referência nos conceitos de qualidade musical e no rompimento dos preconceitos. Como resultado dos trabalhos, o grupo deverá realizar apresentações em diversos locais, como igrejas, praças públicas, teatros e universidades. Futuramente, os músicos da orquestra projetam a gravação do primeiro CD. Hoje, eles já se preparam para registrar pelo menos três canções no CD que será lançado pela ONG Semeador ainda em dezembro.

Participação
20 portadores de deficiência visual irão compor a primeira orquestra de câmara. Eles estão elaborando um roteiro de como serão feitas as apresentações na região.

Mais informações
Escola Semeador
Endereço: Rua Dona Leopoldina, 345
Bairro Aeroporto
Juazeiro do Norte - CE
Telefone: (88) 3572.0205

YAÇANÃ NEPONUCENA
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste

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