Jovens protestam contra violência e drogas no Cariri

Mais de 100 jovens e adolescentes foram assassinados somente em 2012, neste Município, de acordo com os registros de ocorrência da polícia Civil. Cerca de 90% dos casos constam envolvimento com as drogas. E é contra essa realidade crescente no Município, que pelo menos dois mil alunos de escolas públicas percorreram, na manhã de ontem, as principais ruas do Centro da cidade, com faixas e cartazes, pedindo o fim da violência e da impunidade, numa caminhada pela paz.

Os estudantes, em sua maioria, são da Escola de Ensino Fundamental José Geraldo da Cruz, e reivindicavam a punição para o assassinato do jovem monitor de esportes da escola, Felipe Pinheiro Lira, de 18 anos, que foi morto a tiros no último dia 12 de setembro. Ele estava com o colega Caio Michel da silva, de 23 anos, que seria o alvo dos matadores. Ambos foram assassinados no bairro Socorro, próximo ao Centro da cidade, à tarde, e até hoje os crimes continuam impunes. Os dois homens vistos no momento dos disparos chegaram em uma moto e fugiram sem deixar pistas.

Os estudantes se dizem revoltados e até amedrontados com a situação de violência. O presidente do Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente de Juazeiro do Norte, Adauto Hélio de Oliveira, classifica o problema como de extrema gravidade, já que os índices de crianças e jovens envolvidos com drogas têm sido muito altos, principalmente com o crack. Diariamente, são realizados no Conselho cerca de 20 atendimentos, relacionados, em sua maioria, ao envolvimento com drogas, violência e negligência dos pais ou responsáveis pelas crianças.

A maior parte dos casos registrados envolve jovens dos bairros Frei Damião e João Cabral.

Segundo Adauto, o problema está relacionado à desagregação das famílias. Ele também destaca o papel das escolas nesse contexto, onde deve haver maior participação. "Quando as famílias, muitas vezes, não têm como controlar a situação, procuram o conselho", diz ele. Os casos normalmente são encaminhados para o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), com atendimento de psicólogos e assistentes sociais, ou mesmo ao Juizado.

Mas, ele afirma que esses aparatos existentes são ainda insuficientes para atender a uma demanda muito alta. "Precisamos de mais órgãos que possibilitem esse acompanhamento", ressalta. Juazeiro tem apenas uma sede do conselho, com cinco integrantes. O presidente afirma que a cidade necessitaria de mais dois conselhos. "É humanamente impossível dar conta dessa situação com a realidade que temos", admite.

Já o escrivão, Lúcio Lourenço, da Delegacia Regional de Polícia Civil de Juazeiro, destaca o alto índice de homicídios de 102 casos de assassinatos registrados. Há o processo investigativo, mas ele afirma que não é por falta apenas de aparato da Polícia, que essa situação se torne tão grave. Em cerca de 90% dos casos, as pessoas estavam envolvidas com o tráfico e uso de cocaína e crack. "Deve ser feito um combate ao tráfico. Denunciar quem está vendendo para minimizar essa situação que se instalou", afirma.

A falta de profissionais suficientes para atender à demanda não deixa de ser um problema frente à realidade que se encontra nas ruas. São dois delegados e um escrivão para encaminhar 102 inquéritos. Há a necessidade da instalação de delegacias especializadas em Juazeiro do Norte, conforme Lúcio Lourenço, além de uma voltada para a criança e o adolescente.

A manifestação com a participação dos professores, diretores, alunos e parentes de vítimas percorreu locais como a Rua São Pedro, no Centro, além de ter havido uma parada em frente à delegacia para pedir a punição dos culpados. Os estudantes encenaram peça teatral e depois percorreram a Rua São Pedro, finalizando na Praça Padre Cícero.

A diretora da escola organizadora do evento, Silvânia Pinheiro, afirma que outras unidades estaduais também participaram do cortejo. Ela é tia de Felipe e disse que está assustada com a realidade violenta. "Felipe tinha acabado de sair da escola e teve sua vida ceifada de forma brutal, além de outros jovens, que continuam na mesma situação. É preciso fazer alguma coisa", conclama. Para a diretora, a questão das drogas e a impunidade estão entre os problemas mais sérios. O amigo de Felipe, Igor Alencar, espera que haja mais seriedade dos aparatos de segurança para combater o crime. Para ele, é preciso as famílias darem mais atenção aos filhos. "Foram dois amigos, dois jovens que perderam a vida e isso não pode ficar sem uma resposta", completa.

Mais informações
Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente
Rua do Cruzeiro, 575
Centro - Juazeiro do Norte
(88) 3587.3349 / 9990.2021 (Plantão)

ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste

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