Juazeiro do Norte (CE): Novos equipamentos exibirão filmes em terceira dimensão

A perspectiva de instalação de novas salas de cinema no Cariri, com a tecnologia 3D, coloca a região na dianteira, mais uma vez, no Interior do Estado. É que o Crato foi a primeira cidade a ter projeções, há mais de 120 anos. Está prevista, até o fim deste ano, a inauguração de seis salas de cinema, com capacidade para 1.200 pessoas, no Cariri Garden Shopping, em Juazeiro do Norte.

A cidade cratense chegou a contar com cinco salas de exibição, e hoje fica apenas na história como a primeira a receber público de cinema. E essa é a realidade da maioria dos Municípios do Estado. Os projetos voltados para a sétima arte estimulam crianças e adultos, alimentando o imaginário com as cenas exibidas nas telonas improvisadas. As cidades que têm salas de exibição, como Sobral, não atendem todo o público.

As primeiras exibições de cinema no Crato foram realizadas pelo fotógrafo e cineasta Luiz Gonzaga de Melo, que iniciou suas atividades em 1885. As imagens projetadas na lanterna mágica, apelido do bioscópio, aconteciam no clube de dança da cidade, Romeiros do Porvir, na Rua Dr. João Pessoa, no Centro.

Segundo o cineasta Jackson Bantim, Gonzaguinha, como era conhecido, alugava uma sala e convidava as pessoas a levarem cadeiras para assistir os filmes, projetados através das lâminas de vidro, obtidas em Fortaleza. Não tinha energia elétrica ainda, então era usada a luz de carboreto. O próprio Bantim chegou a realizar projeções com as lâminas, mas com energia elétrica.

No ano passado, foram registrados os 100 anos das exibições em sala de cinema, também em solo cratense, por meio do empresário italiano Vittorio Di Maio. Pioneiro em diversos Estados do Brasil, como Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Bahia e Ceará, foi em Fortaleza que o italiano fez morada e expandiu o cinema no Estado.

Tecnologia 3D
Agora, o chamado da população nas ruas da cidade do Crato pelo cineasta Luiz Gonzaga de Oliveira para contemplar os filmes com retratos que se mexiam evolui para as salas stadium, com tecnologia 3D. A era tridimensional fará o Cariri ter o maior complexo de cinemas do Nordeste. Os investimentos são da rede Orient Filmes.

As duas únicas salas de cinema da região que funcionavam no shopping foram fechadas no ano passado para as reformas. Para o cineasta Jackson Bantim, mesmo com a perspectiva de inauguração de cinema em apenas uma cidade da região, a iniciativa justifica um grande motivo de comemoração da conquista, principalmente, por trazer o que há de mais moderno em termos de salas de exibição.

Segundo o pesquisador Glauco Vieira, Vittorio Di Maio é natural de Nápoles, Itália, nascido no ano de 1852. Ele faleceu em Fortaleza. Não existem dados precisos sobre sua vinda ao Brasil, mas, entre críticos e historiadores, é inconteste o fato de que o italiano tenha sido o pioneiro na exibição de filmes do Brasil, com o seu omniógrapho ou o cinematógrapho, de Lumière, que teria sido instalado em 8 de julho de 1896, na rua do Ouvidor, nº 57, no Rio de Janeiro.

Ainda hoje, em grandes espaços do Centro de Juazeiro do Norte, há fortes lembranças dos tempos áureos das exibições cinematográficas, em que o final de tarde era enriquecido com as matinês. Os locais de encontros e paqueras tinham até 1.200 lugares, a exemplo do Cine Eldorado, recentemente transformado em estacionamento, à contragosto do seu proprietário Expedito Costa, que lutou por 15 anos com a finalidade de reativá-lo.

A capacidade de público do Eldorado era algo raro em relação aos cinemas do Nordeste, mas chegou a lotar várias vezes. Ele foi aberto após o fim do cine Plaza, na Rua Clóvis Beviláqua, também no Centro. Os filmes mais comuns na década de 70 e fim dos anos 80 eram as chanchadas e os faroestes americanos, além dos brasileiros, como "Os Trapalhões". Eram os últimos momentos do último dos cinemas de Juazeiro do Norte.

Problema comum
Em Iguatu, não existe cinema há mais de dez anos. A cidade chegou a ter três cinemas em funcionamento. Até a década de 1980, funcionavam dois cinemas nesta cidade, Alvorada e Coliseu. A maioria dos moradores deseja que salas de exibição sejam implantadas, mas os empresários não vêm mostrando interesse em construí-las.

Cenário de diversas produções de cinema, Quixadá também sofre o mesmo problema. As exibições acontecem apenas em uma sala do Cineclube da Fundação Cultural Rachel de Queiroz, com sessões regulares, apenas nos fins de semana. Os amantes do cinema destacam a capacidade de instalação e manutenção de um cinema na cidade. Em Crateús, o Cine Poty possibilita o contato da população com filmes e documentários.

Já na região Norte, apenas Sobral conta com duas salas de cinema, localizadas no Pinheiro Supermercado. São 237 lugares, som dolby stereo, ar condicionado, bonbonnière e equipado para pessoas com necessidades especiais. Há a perspectiva de mais cinco salas, com a inauguração do Sobral Shopping.

Grupo realiza debates sobre produções
O mediador de cinema Elvis Pinheiro, há vários anos, vem fazendo um trabalho interessante na região do Cariri que agrada os amantes da sétima arte. Após as exibições, o grupo abre espaço para discutir os filmes

Juazeiro do Norte Debater cinema, estudar, assistir filmes que marcam a história da sétima arte. A depender deste segmento, os adeptos continuam na ativa mesmo sem as telonas no Cariri. Mas, a pedida mesmo vem para as grandes produções de cinema, saindo do forno direto para o Cariri. Há cerca de um ano, em virtude das reformas do Cariri Garden Shopping, isso deixou de existir e tem feito muita falta para o grande público.

O mediador de cinema Elvis Pinheiro, que atua no Serviço Social do Comércio (Sesc) de Crato e Juazeiro do Norte, e também no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB), vem fazendo um trabalho relacionado à sétima arte há vários anos na região do Cariri. Para ele, não há ausência de locais de exibição, mas o que faltam mesmo são as grandes produções. "A maioria sonha com a volta das salas de cinema. O público é amplo e sedento pelas novidades hollywoodianas", destaca.

No momento, os filmes estão sendo lançados no cinema e as pessoas perdem a oportunidade de vê-los. Com isso, precisam aguardar o lançamento em DVD. Elvis diz que a viabilidade de cinema na região é total, inclusive, para atender público de outros Estados, como Pernambuco e até mesmo Paraíba.

Ele afirma que a exibição de longa-metragens nacionais e internacionais, no Cariri, nunca parou. Toda semana, em pelo menos três lugares diferentes, pode-se assistir filmes. Mas, a ausência das salas de cinema tem sido sentida pelo público.

Investimento
Há mais de dez anos que o shopping decidiu investir no filão. O lançamento de grandes produções cinematográficas concomitante aos grandes espaços de exibição do Brasil não deixava a região a desejar em relação às novidades de Hollywood e da Globo filmes. Porém, com as salas diferenciadas, o cinema regional atende a diferentes públicos.

"A experiência de sair de casa pra ver um filme em tela grande é que podemos caracterizar como sendo a essência do cinema", diz o mediador, que tem levado ao público do Cariri a sua grande paixão. Segundo ele, as salas alternativas que funcionam atualmente no Cariri não preenchem o perfil de grande parte do público espectador, e essa fatia do mercado está simplesmente à espera de outras alternativas.

"Quando os cinemas do shopping abrirem haverá uma multidão correndo para as salas em todos os horários", diz ele. Elvis escolhe os títulos e apresenta para o público, organiza as mostras e faz as mediações das sessões. Esse trabalho está associado a receber, apresentar e estabelecer uma relação entre o espectador e o filme. "Nas salas onde, semanalmente, vemos o melhor cinema do mundo, cultiva-se a figura do cinéfilo, aquele espectador apaixonado ou até viciado em cinema". É esse público que busca conhecer sempre mais sobre atores, diretores, roteiristas e a história da sétima arte. Elvis ainda coordena dois grupos de estudos de cinema na região.

Mais informações
Cariri Garden Shopping
Av. Padre Cícero, 2555
Juazeiro do Norte
Telefone: (88) 2101.5444

ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste

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