100 anos de Nelson Rodrigues

O Brasil rende homenagens ao centenário de nascimento de Nelson Rodrigues, o polêmico dramaturgo, jornalista e escritor. Quem está à frente de boa parte das entrevistas, debates e comemorações é Nelson Rodrigues, o filho. A julgar pela entrevista concedida ao O POVO por telefone na manhã de ontem, após duas horas de gravação com uma equipe de televisão, Nelsinho, como também é chamado, não se cansa de falar sobre o legado e as lembranças do pai. Sabe frases de cor e se deixa levar pelas muitas histórias que coleciona do convívio com o “anjo pornográfico”, a quem carinhosamente chama apenas de “velho”.

Foi logo na infância o primeiro contato de Nelsinho com os textos do pai. “Estudei no Colégio Militar e lá os alunos novos recebiam trote. Por causa do meu nome, não recebi trote. Acabei sendo protegido pelos veteranos. Isso porque naquela época, todo mundo no Rio de Janeiro lia A vida como ela é e sabia quem era meu pai”. Os textos aos quais Nelsinho se refere foram publicados durante 11 anos no jornal Última Hora. Por conta do episódio na escola, o garoto de 10 anos leu pela primeira vez uma obra do pai, as crônicas de cotidiano acabaram por se tornar uma de suas preferidas. “Quando lia, sempre me perguntava se minha mãe apanhava, se ia pro tanque com roupa de baile. Então, A Vida como ela é modificou a minha vida”.

Na juventude, Nelsinho se distanciou politicamente do pai, que apoiava a ditadura militar. Porém, as divergências ideológicas não afastaram os dois. Quando questionado se a relação com o pai se tornou difícil ao identificar-se com o comunismo, Nelsinho é enfático. “Muito pelo contrário. Nós passamos a conversar mais, trocávamos ideias. Sempre em oposição, claro. Mas a gente passou a se conhecer mais e admirar mais um ao outro. Entrei em uma organização armada, fiquei preso por anos e ele era uma visita constante”. Segundo Nelsinho, uma das melhores lembranças que tem do pai é justamente dessa época, quando ainda algemado foi assistir ao nascimento da filha tão desejada pelo avô, que logo a chamou de “famosinha”, por conta da grande cobertura jornalística. “Foi uma grande emoção pro velho”, relembra.

Este ano, as comemorações do centenário de nascimento do pai têm sido a vida de Nelsinho, que acha importante difundir a obra de seu “velho” entre as novas gerações. “O Brasil inteiro está vendo as comemorações. Temos inclusive a encenação de Perdoa-me por traíres, aí do Cariri, num projeto da Funarte”. Nelsinho também tecerá suas homenagens públicas ao pai. O documentário intitulado Quem é Nelson Rodrigues? Quem foi? Quem será? encontra-se em fase de roteiro e deverá ter as gravações adiadas para 2013, por conta da atribulada agenda dele que, em 29 de dezembro, estreia Vestido de Noiva, exatos 70 anos após a primeira encenação da peça - marco do início da carreira do pai como dramaturgo. Nelsinho assina a direção da peça que tem Cristiane Rodrigues, sua única filha, no elenco.

As adaptações são muitas. Porém, os direitos autorais se tornaram questão judicial. Nelsinho conta que sua mãe, Elza, cujo casamento com Nelson durou 24 anos, teve seus direitos suspensos, pois o mérito está sendo discutido na justiça. “Minha mãe é a única viúva do Brasil que não recebe os direitos autorais”, afirma.

Fonte: O Povo

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