Juazeiro do Norte (CE): Cidade é polo de desenvolvimento no Cariri

A fé passou a ser um dos grandes símbolos da "terra do Padre Cícero" e, o desenvolvimento, o referencial de uma cidade que não para de crescer ao longo de 101 anos. Hoje, a cidade amanhece em festa. Depois de um ano centenário, Juazeiro se traduz diante de um reflexo histórico que é o seu maior sustentáculo. A oração e o trabalho incentivados pelo Padre Cícero e apregoados pelos seus seguidores estão mais atuais do que nunca.

O Município ganha milhões em investimentos, principalmente da iniciativa privada. Todos os anos, Juazeiro recebe cerca de 2 milhões de visitantes e turistas, principalmente fiéis do sacerdote tão amado pelos nordestinos. A cidade se espreme entre o velho e o novo. Os prédios começam a tomar as formas verticalizadas. As edificações são constantemente renovadas, diante do crescimento incontrolável. A maior parte dos prédios antigos só se encontra mesmo nos raros registros fotográficos, alguns deles em mãos de pesquisadores como o professor Daniel Walker.

A independência de Juazeiro veio principalmente por meio da luta e da liderança que Padre Cícero e o médico Floro Bartolomeu exerciam sobre o Município. A localidade se tornou um dos fortes pontos comerciais da região do Cariri. Era Crato ainda. Mas, diante da pujança que começava a ter e das lideranças que lutavam por um caminho próprio, Juazeiro se fortaleceu e conquistou seu espaço.

A comemoração do aniversário do Município, relativamente novo em relação ao Crato, com quase dois séculos e meio, teve início no último dia 18. A festa se insere em meio à multidão que, sexta-feira, lotou a Praça do Socorro, ainda em processo de reforma, para reverenciar o seu construtor maior. Passaram-se 78 anos de morte do "Padim". A cidade respira progresso.

Os milhares de romeiros que chegam a Juazeiro todos os anos mostram que é preciso mais para acolhê-los. Estão sendo realizadas em vários pontos da cidade obras de infraestrutura, denominadas de Projeto Roteiro da Fé. Além disso, a Praça do Marco Zero, que marca o centenário, ainda está em construção, no local onde começou o Município, com as primeiras edificações numa pequena vila, a capelinha de Nossa Senhora das Dores, e as três árvores de juazeiro.

A espécie está plantada em várias localidades do Nordeste, após a distribuição de milhares mudas da árvore-símbolo do centenário para romeiros de toda a região. A inspiração desse marco vem da obra da artista plástica Assunção Gonçalves, contemporânea do Padre Cícero. O projeto também faz parte do trabalho inspirado por intelectuais e historiadores de Juazeiro que fizerem parte da Comissão do Centenário da cidade, ano passado.

A comemoração dos 101 anos conta com o lançamento dos 100 cordéis em homenagem aos 100 anos.

São 50 inéditos, com os xilógrafos contemporâneos, e mais 50 reedições inclusive de clássicos. A Coleção Centenária dos Cordéis teve seu lançamento no último dia 20, com a participação de artistas da cultura popular e show cultural. Serão distribuídos 100 mil exemplares.

Uma cidade que respira não apenas a fé, mas a cultura que teve como principal inspirador o Padre Cícero. O artesanato de Juazeiro hoje é reconhecido no sul do País e em várias partes do mundo, principalmente da Europa. São frequentes as exposições de trabalhos de artistas juazeirenses em outras cidades. São mais de 120 artesãos que trabalham apenas no talho da madeira, associados ao Centro de Cultura Popular Mestre Noza. Os artistas buscam a perfeição nas esculturas sacras e inspiradas na arte popular. A palha, barro, poetas se fundem às novas propostas do fazer artístico e sobrevive em uma cidade multicultural.

"Milagre" origina o turismo religioso
O crescimento do turismo e das romarias neste cidade é constante. Em 1889 nasce um dos momentos mais controversos da religiosidade popular do Brasil. Até hoje, o mistério ronda Juazeiro. O sangramento da hóstia ofertada pelo Padre Cícero na boca da beata Maria de Araújo deu início ao processo das romarias. A notícia correu o Nordeste.

O sacerdote querido passa a ser o padre do "milagre". A cidade, o palco da fé. O que mais tarde veio a ser chamado de turismo religioso, ainda não tem uma pesquisa ampla que faça com que se trabalhe diante de dados mais concretos, sobre o que representa o maior centro de romaria do Nordeste brasileiro.

Algumas pesquisas tentam demonstrar qual o perfil do romeiro que chega à cidade. Esse romeiro, que na prática não gosta de ser chamado de turista, é o principal personagem que toma as ruas da cidade, durante parte do ano, principalmente a partir do segundo semestre. Em muitas áreas, a sede passou a se adequar a uma realidade incomum para a maioria dos Municípios brasileiros.

Os monumentos católicos, praças requalificadas, grandes centros de celebração, anfiteatros, museus, templos, as pousadas, ranchos, hospedarias, restaurantes. A cidade, em todo momento, busca uma adequação para atender os romeiros e turistas. Durante as grandes romarias, a informalidade do comércio leva mais de 3 mil vendedores às ruas. São comerciantes do Cariri e diversas cidades nordestinas, segundo dados da administração municipal. A economia que movimenta uma massa em busca de fé depositada no "Padim", mas que deixa o lucro que mantém um ciclo anual.

Mas, por trás de todo o processo de transformação, o mentor era mesmo o Padre Cícero, segundo o pesquisador e escritor, Daniel Walker. E foi o sacerdote que começou, mesmo numa cidade que acabara de nascer e com poucos recursos, a trazer melhorias significativas no momento determinante do nascedouro. Um desses momentos, segundo o escritor, foi uma exposição realizada no Rio de Janeiro, com os artesãos de Juazeiro do Norte, encabeçada pelo religioso. "Considero uma das coisas da maior importância da administração de Padre Cícero", afirma. A exposição foi realizada na década de 20. Daniel Walker destaca essa iniciativa do padre, como algo fantástico para a divulgação do artesanato local na época. E Juazeiro do Norte passou a ser um dos grandes referenciais da arte popular no Brasil, com um artesanato bem característico, por terem se reunido no Município artesãos de vários estados do Brasil, que constituíram um tipo de produto que reúne um pouco de cada um. Esse seria outro aspecto relacionado ao turismo não apenas religioso, mas cultural, tendo como referenciais o Centro de Cultura Popular Mestre Noza e a Associação dos Artesãos da Mãe das Dores e do Padre Cícero.

Há 13 anos na cidade, o padre salesiano, José Venturelli, italiano, subiu o Horto para administrar a área onde se encontra um dos cartões postais mais visitados do Brasil, a estátua do Padre Cícero.

Depois que chegou ao local, buscou se adequar a uma realidade de crescimento constante. Tem trabalhado numa melhor estruturação do espaço da Colina do Horto, onde se encontra a centenária casa onde Padre Cícero passava grande parte dos seus momentos. Segundo o padre, a cidade conservou fortemente o espírito religioso. "A presença dos romeiros preservou o lado místico". A esperança na reabilitação do sacerdote fortalece mais ainda esse processo.

Mais informações
Memorial Padre Cícero
Secretaria de Turismo e Romaria
Praça do Cinquentenário 
Juazeiro do Norte 
Cariri 
Telefone: (88) 3511.4040

ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste

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