Crato (CE): Quarteto de Cordas mantem legado da música no Cariri

A identificação com a música veio cedo para os quatro componentes do único grupo que difunde o clássico universal no Cariri. O Quarteto de Cordas foi composto há cerca de dez anos pelo atual grupo. Os ex-alunos do músico, compositor, instrumentista e maestro, monsenhor Ágio Augusto Moreira, da Sociedade Lírica do Belmonte, criada em 1968, continuam o legado da música na região.

Filhos de agricultores tiveram a oportunidade de encontrar a vocação ainda cedo. Alguns deles, mesmo exercendo outras profissões, se realizam mesmo por meio dos acordes dos instrumentos clássicos.

No sopé da serra do Araripe, os meninos e meninas têm a oportunidade de fazer parte do projeto, mesmo depois de tantos anos em atividade. Antes, as apresentações da orquestra aconteciam com mais frequência em várias localidades da região e pelo Estado. Hoje, a maior parte acontece mesmo em concertos na própria escola ou em paróquias.

O Quarteto destaca o vínculo com a Sociedade Lírica, onde foram iniciadas as atividades. A origem do grupo veio com muita dificuldade. São tempos que um dos componentes, Tom Almeida, diz que não gosta nem mesmo de lembrar. Chegou na escola adolescente e recebeu como instrumento o violoncelo.

De início, o estranhamento com o instrumento e, depois, a paixão, que aumenta a cada dia. Uma íntima relação para quem decidiu também, com o seu aprendizado, compartilhar com os estudantes da escolinha.

Apresentações
O Quarteto tem se apresentado em cerimônias, normalmente de casamentos, inaugurações, recepções diversas, e até mesmo para alegrar os idosos do Abrigo Jesus Maria José. "É uma opção nossa viver pela música, não como forma de sobrevivência, porque não dá para isso, mas por prazer mesmo", diz o economista Neilson Medeiros, o segundo violinista do grupo e também o mais jovem do grupo. Chegou criança na escolinha. Hoje, o seu pai é, Ni Oliveira, é um dos professores de música.

Juarez Monteiro, aos 13 anos, decidiu optar pela música. Lembra da época de sacrifícios. Abraçou a viola como vocação e decidiu embarcar com o grupo. No início, queria instrumento de sopro. Mesmo com a relutância dos pais, que enxergavam a escolha do como uma brincadeira, ele empreendeu estudo principalmente dos clássicos. Mas o Quarteto também difunde o cancioneiro regional e a Música Popular Brasileira, nas suas apresentações.

Cícero Nascimento toca o primeiro violino. Ele destaca a transformação de vida pela música. Os tons que suavizam a dureza do dia a dia. Os ensaios do grupo acontecem na Igreja Nossa Senhora das Graças, em frente à escola. Ao lado, sob os acordes dos instrumentos, mora o monsenhor Ágio, 94 anos. Um lar merecido por quem fez tanto pela entrada da música na vida desses jovens, mudando destinos de centenas deles.

A música modificou a vida de jovens que saíram de suas casas de taipa e chão batido. Ultrapassam a fronteira da dificuldade financeira e interpretam com sensibilidade os grandes clássicos de Vivald, Mozart, Beethoven, Bach, Verdi, dentre outros nomes. Quanto ao futuro, a ideia é manter o grupo, mesmo com as dificuldades.

Mais informações
Quarteto de Cordas Cariri
Avenida José Horácio Pequeno, n°1386
Lameiro
Crato/CE
Telefones: (88) 9206.8833/8801.3574

Instituição necessita de investimentos

Iniciada há mais de quatro décadas para filhos de agricultores, a Sociedade Lírica do Belmonte, em Crato, continuam investindo no aprendizado dos músicos. São 131 alunos, coordenados pelo professor e maestro Antônio Felipe da Silva. Com projeto aprovado para se tornar ponto de cultura ainda neste ano, os integrantes aguardam agora melhorias e ampliação das instalações.

A Escola do Padre Ágio, como é conhecida na região, já contou com a presença de algumas gerações de alunos. Muitos deles têm laços familiares com seus antecessores, formando famílias na música. A escola funciona nos três horários. A meta, segundo o maestro Felipe, é fazer uma luteria para o conserto de instrumentos e também um estúdio.

Mesmo restritas às paróquias da região, no ano passado, orquestra realizou várias apresentações. Não foram realizadas viagens com o grupo que forma a Orquestra Padre David Moreira. São muitos integrantes e isso acaba dificultando o deslocamento dos músicos. São jovens cheios de sonho, que, muitas vezes, chegam a deixar a carreira na música para trabalhar pela sobrevivência. Porém, Felipe afirma que do local já saíram muitos talentos, que hoje fazem sucesso em outros lugares do Brasil.

Necessidades
A escola vem precisando de melhorias em sua estrutura na parte do refeitório e está com algumas rachaduras, além de ampliar o auditório e construir mais salas de aula. A ideia, segundo Felipe, que aguarda esse sonho por meio de projetos e auxílio do Governo do Estado, é ampliar a escola, que tem sete professores, dentre voluntários e funcionários do Estado.

A orquestra conta com 25 adolescentes e crianças. São talentos que se destacam individualmente e conseguem desenvolver o dom. A sensibilidade pela música e o prazer de tocar faz com que haja a escolha para fazer parte do grupo.

A maioria dos alunos da escola é da comunidade do Sítio Belmonte, no Município do Crato. Hoje, até o local está mais urbanizado, não são apenas os filhos dos agricultores, mas de pedreiros, de donas de casa, meninos e meninas que se encantam com os acordes clássicos dos instrumentos disponíveis na escola.

Felipe, maestro da orquestra, chegou ainda criança. Foi incentivado pelo irmão a participar. Mesmo o mano não ficando na casa, Felipe fez da música um ofício de vida. O filho de agricultor que aprendeu primeiro a tocar acordeão, depois instrumentos de sopro, ensina para as pessoas que chegaram na mesma condição que ele, sem nenhuma noção de música.

Desafios
Com o tempo, segundo informa, os participantes vão ficando seletivos. Não é fácil nos tempos do forró eletrônico, ensinar aos ouvidos os tons clássicos de compositores como Beethoven, Chopin, e até os clássicos do sertão nordestino. "A música é uma questão de educação", diz.

Felipe afirma que vários ex-alunos da instituição, hoje, vivem da profissão e até se destacam em outras instituições, como é o caso de Jocélio Rocha, professor de música em Alagoas. Para ele, a música abre novas perspectivas para a vida. E são essas perspectivas que fazem ele se encher de esperança como cada aluno que chega com o objetivo de aprender música.

ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste

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