Tragédia anunciada: chuva destrói canal do Grangeiro

Ao longo do ano passado, o jornal publicou várias matérias sobre uma tragédia anunciada, confirmada com as chuvas entre domingo e ontem. O Canal do Rio Grangeiro voltou a romper em vários pontos, onde recentemente foi realizada parte da obra de recuperação pela Construtora Coral, que venceu a licitação de quase R$ 2,5 milhões, para realizar a primeira etapa dos serviços de recuperação. O canal, que sequer teve a obra emergencial concluída, com financiamento do Ministério da Integração Nacional, depois de um ano e um mês da tragédia registrada, não suportou a primeira grande chuva do ano na cidade, de 92,8 milímetros, segundo dados da Fundação Cearense de Meteorologia (Funceme). O temporal durou mais de três horas na cidade.

Revoltada, a população reclama e diz que houve descaso do poder público. Em várias edições do Diário do Nordeste, por meio do Caderno Regional, o alerta quanto às possíveis cheias e tragédias foi dado. As famílias estão preocupadas, com receio de que casas sejam atingidas com as próximas precipitações chuvosas. As chuvas, segundo a Funceme, terão continuidade até o mês de maio. Em ruas do Centro, foram registrados alagamentos no início da manhã, uma delas de frente ao Departamento Edificações e Rodovias (DER), com cheias comuns neste período, impedindo a entrada e saída do local. Um ponto localizado na Vila São Bento ficou interditada.

Apelidado por moradores de "Canal do Medo", durante a enchente de 2011, foram registrados milhões em prejuízos para comerciantes e moradores da cidade. O Centro da cidade ficou totalmente inundado e pontes foram destruídas, além de romper com paredes do canal e asfalto das ruas. A chuva de 28 de janeiro do ano passado em alguns pontos da Chapada do Araripe foi de 200 milímetros.

Ontem, alguns pluviômetros particulares, em áreas como o Grangeiro, registraram 135 milímetros de chuvas. As áreas próximas à Igreja de Nossa Senhora de Fátima, Colégio Objetivo e Tiro de Guerra, na Avenida José Alves de Figueiredo, são as mais danificadas, com pontos do entorno comprometidos com fendas no asfalto, que também se rompeu em vários pontos. O Corpo de Bombeiros e Guarda Municipal chegaram cedo ao local para interditar as áreas. A rua passou grande parte do ano praticamente sem fluxo de veículos por conta das obras.

O Ministério da Integração chegou a liberar R$ 4 milhões para as obras do canal, que seriam feitas em duas etapas, com administração do Governo do Estado, que inclusive realizou leilão em Crato para a licitação da primeira etapa. O próprio governador Cid Gomes bateu o martelo para a empresa vencedora.

A segunda delas seria no valor de R$ 1,5 milhão mas, até o momento, nenhuma empresa se dispôs a concluir o canal, que, ao longo do seu percurso, cortando o Centro da cidade, registra vários pontos de erosão. Uma avaliação técnica foi realizada ano passado, demonstrando irregularidades na obra, que foi feita com gabiões. Os paredões com telas de metal e pedras que poderiam ser a esperança para segurar a pressão das águas que descem da Serra do Araripe não funcionaram.

Estiveram no local logo cedo para avaliação inicial dos prejuízos integrantes da Defesa Civil, o Corpo de Bombeiros, Secretarias do Meio Ambiente e Infraestrutura do Crato. Ainda não se tem ideia dos prejuízos, mas o secretário de Infraestrutura do Crato, o engenheiro José Muniz, afirma que houve perda total da obra realizada. A chuva demonstrou, segundo ele, a inviabilidade do que foi feito. Ele lembrou que a administração local chamou a atenção das autoridades para possíveis tragédias que poderiam ocorrer.

O coordenador regional da Defesa Civil 11 (Redec 11), tenente Raimundo Geraldo da Silva, comandante do Corpo de Bombeiros Regional, afirma que esteve fazendo registros no local durante a manhã de ontem, para comunicar os primeiros levantamentos à Defesa Civil do Estado. Na semana passada, foi realizada uma reunião em Crato, para debater as possíveis inundações que poderiam advir com as chuvas. No último dia 28, um ano após a enchente, a população também foi às ruas reivindicar providências para o fim da obras o canal e reclamar do que classificavam de descaso.

De acordo com o coordenador, a avaliação inicial é quanto ao que poderá ser feito no momento emergencial. "Todo o pessoal está percebendo que as obras feitas aqui não foram a contento. Não foi o que se esperava, então quase todos os locais reformados, foram levados por essa enchente, que não foi tão grande, diga-se de passagem", ressalta. Segundo ele, agora, mais do que nunca, há uma grande preocupação.

Mais informações
Coordenadoria de Defesa Civil do Estado do Ceará
Telefone: (85) 3101.4571

Funceme
Telefone: (88) 3101.1093

ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER

Nenhum comentário:

Postar um comentário

AddThis