Ex-criador de porcos vira dono de empresa que fatura R$ 80 milhões

Os computadores, que mudariam a história do mundo, ainda davam os primeiros passos nos Estados Unidos quando Moacir Antônio Marafon nascia na comunidade de Linha Pinhal Preto, no município de Xavantina, no oeste de Santa Catarina, em 1956. A comunidade era uma colônia rural, pequena e pobre, fundada por descendentes italianos que vieram do Rio Grande do Sul em busca de terras para a subsistência.

Era esse o cenário da infância de Marafon, que deixou para trás o trabalho em uma criação de suínos e de pequenas colheitas do interior para fundar a Softplan/Poligraph, uma das principais empresas catarinenses de desenvolvimento de software. Em 2011, a companhia registrou um crescimento de 41%, alcançando um faturamento de R$ 88 milhões.

A empresa criada em 1990 por ele e outros dois sócios, Ilson Stabile e Carlos Augusto, surgiu em meio ao início do ciclo de informatização no Brasil. As companhias estavam sedentas por soluções de gestão, programas que pudessem integrar diferentes departamentos e agilizar atividades rotineiras, como pagamento de salário de funcionários e fluxo de compras de insumos. Marafon estava no lugar certo e no momento certo. Havia poucos profissionais em Santa Catarina, naquela época, com conhecimento técnico para atender a demanda, o que tornava o Estado um terreno fértil a ser explorado. O grande desafio era obter o conhecimento necessário, já que aulas, livros e cursos de capacitação ainda eram raros.

A carreira de empreendedor de Marafon só foi possível graças às suas habilidades com números e ciências exatas, despertadas já nas primeiras aulas do ensino primário. Na infância, Marafon saltava cedo da cama e ia trabalhar no pequeno sítio da família. A primeira missão era tratar os animais. Em seguida, tomava o rumo da roça para ajudar na lida da terra, plantio ou colheita. No período da tarde, o garoto seguia o caminho da escola, onde começava a criar gosto pelos estudos e colecionar boas notas.

O trabalho duro da roça servia apenas para garantir a subsistência da família. Tudo dependia da pequena safra agrícola. A ameça de perdas por questões climáticas era iminente.

“Creio que foi aí que aprendi a correr riscos, algo fundamental para o empreendedorismo. Naquele tempo, a gente plantava apostando, sem saber se ia conseguir colher”, compara.

A válvula de escape estava mesmo na escola, mas a continuação dos estudos precisou contar com o acaso. Depois de completar o quarto ano do primário, aos 11 anos, Marafon ficou sem ter um colégio para frequentar. Até que uma oportunidade inesperada chegou à casa da família três anos depois. O padre da paróquia da cidade foi até os pais avisando que tinha uma vaga disponível para um dos filhos que quisesse frequentar o curso do ginásio, a ser aberto no ano seguinte em Xavantina.

Quatro anos depois, em 1975, Marafon foi aprovado na seleção do Colégio Agrícola de Camboriú, no litoral do Estado, e seguiu estudando longe de casa.

No Agrícola, recebeu as primeiras aulas de física e aprofundou o gosto pela ciência e pela matemática. Foi a motivação para escolher o curso de engenharia civil na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis. No último ano da faculdade, comprou uma calculadora programável e criou seus primeiros “programinhas”, que iriam ajudar a fazer os cálculos de engenharia com mais velocidade.

Era o início da vida de desenvolvedor de software.

O primeiro computador
A informática só entrou na vida de Marafon quando começou a trabalhar na Secretaria de Transportes e Obras de Santa Catarina. Lá, viu um computador pela primeira vez. Como havia poucos cursos na época, buscou livros e aulas de capacitação. Esse conhecimento o empurrou para trabalhar com desenvolvimento de programas.

Em 1985, foi aprovado em um processo seletivo para uma estatal que estava sendo criada na época, a PRODASC, atual CIASC, que seria responsável em desenvolver os softwares para o governo. A empresa atendia as demandas governamentais. Porém, com a escassez de mão de obra qualificada no mercado, os empresários da iniciativa privada ofereciam proposta de trabalho aos funcionários do PRODASC para que eles desenvolvessem alguns programas específicos. Marafon era um desses profissionais. Depois do expediente, ia para casa ou mesmo para a sede dos clientes para escrever códigos noite adentro. Clientes como construtoras, clínicas médicas ou comércio que queriam começar a usar o computador, ainda uma novidade na época, para racionalizar a rotina da empresa.

Na mesma esteira, estavam dois colegas dele, Stabile e Matos. Ambos também tinham muito trabalho extra. Por isso, resolveram unir forças, deixar para trás o CIASC e abrir uma empresa em 1990, a Softplan/Poligraph, que hoje tem 900 funcionários. O primeiro contrato foi fechado com uma construtora. O trio tinha que criar um software de gestão para que a empresa administrasse melhor as obras, a matéria-prima e os gastos. Surgia o Sienge, um dos principais produtos da Softplan ainda hoje.

A Softplan tem atualmente na carteira mais de 1.200 clientes no Brasil e exterior. Possui contratos na esfera privada, mas grande parte está na área pública. Um dos clientes de maior relevo é o Tribunal de Justiça de São Paulo. No tribunal, a empresa informatizou os processos judiciais, permitindo, por exemplo, que advogados façam suas petições e juízes emitam as sentenças de maneira online, o que significa mais agilidade e menos papel.

“A Softplan só decolou porque decidimos concentrar nossa energia em mercados específicos: Justiça, administração pública e construção civil. Foi o foco quem nos deu a direção certa”, resume Marafon, aos 56 anos, a história de sua empresa.

Fonte: iG

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