Crato (CE): Livro conta a história do bairro Alto da Penha

Após uma pesquisa envolvendo as comunidades do entorno da Chapada do Araripe, onde os moradores idosos não dominam a escrita, a historiadora Ana Rosa Dias Borges descobriu contos de origem popular, lendas, cantigas e dramas retidos da memória de um povo.

O tema instigou a pesquisadora, que resolveu escrever um livro sobre a história do bairro Alto da Penha, localizado no Crato, onde ela viveu parte de sua infância e desenvolveu uma enorme afetividade. A obra, intitulada "As Narrativas Orais no Barro Vermelho, será lançada no próximo dia 15, no Salão de Atos da Universidade Regional do Cariri (URCA), às 19 horas.

Origem do bairro
O livro retrata a origem do bairro e versa sobre o tecido social que compõe o universo da população que reside no lugar. O livro traz lendas e acontecimentos pitorescos que aconteceram na comunidade. Toda a história é contada por meio de depoimentos dos antigos moradores do local. Ainda na década de 20, os proprietários de grandes latifundiários, agricultores e desvalidos no geral, iniciaram a povoação do Barro Vermelho. A obra resgata as memórias daquela época e mostra que, ao longo dos anos, a comunidade evoluiu.

O local, por abrigar as classes menos favorecidas, foi intensamente estigmatizado como sendo uma área de abrigo para as pessoas que vivem às margens da marginalidade. O livro de Ana Rosa Dias Borges chega para provar que a história da comunidade e de seus moradores se contradiz com o preconceito construído até hoje.

"Narrativas Orais do Barro Vermelho" traz relatos de jovens que passaram por oficinas de formação, como fotografia, produção textual, desenho, pintura e que se apropriaram da memória dos mais idosos e, aos moldes dos seus conhecimentos, reescreveram a história da comunidade que fazem parte. Todo o material produzido por eles serviu de base para a escrita do conteúdo, edição e publicação do livro de Ana Rosa. A autora enxergou nos jovens talentosos do lugar potencialidades que são ignoradas pelo sistema educacional brasileiro.

Segundo ela, a educação no País não valoriza as formas afetivas e identitárias de produção textual. "Foi a partir da afetividade e riqueza oral que eu escrevi meu livro. Acho que essas fontes precisam ser levadas em conta", afirma Ana Rosa.

Um capítulo do livro "Narrativas Orais do Barro Vermelho" versa sobre a história do casarão que pertencia a Gonzaga de Melo, grande latifundiário, dono de grande parte das terras do bairro. A lenda da botija revela relatos de fatos vividos por ocupantes do Casarão, ainda no começo do século XX, e que até hoje permeiam o imaginário da população da localidade.

Personagens
Personagens como Tico de Júlia, Diva Elpídio, Aureliano Ventura, Dona Milô e Sebastiana Parteira tiveram lugar garantido na composição do livro. A autora resgatou assuntos que causam polêmica na comunidade, como o lixão que se formou no Alto da Penha durante a década de 70.

Segundo a publicação, um morador do bairro, que atendia pelo nome de Tico de Júlia, resolveu fazer diversos ofícios que foram enviados à Prefeitura da cidade, pedindo para que o lixo do Município não fosse despejado na localidade.

Entretanto, sem alcançar sucesso, os moradores apropriaram-se do lixo e fizeram protestos e barricadas que impediram a ação das autoridades municipais. O ato rendeu uma grande mobilização e causou transtornos na cidade. Desde aquela época, todos os resíduos sólidos recolhidos tomaram outro destino. Para Ana Rosa Dias Borges, esse é um dos capítulos mais envolventes da publicação.

Divisão da obra
O livro "Narrativo Orais do Barro Vermelho" é um produto do edital Micro Projetos do programa Mais Cultura, desenvolvido pelo Ministério da Cultura. A publicação, que é fruto de uma longa pesquisa, foi dividida em duas vertentes, a do imaginário mítico popular e a dos relatos que dão conta da dimensão histórica e social da população.

De acordo com a autora, a história oficial do Município conta apenas a versão dos vencedores e esquece que todo o povo faz parte da contextualização das narrativas. Toda a edição foi ilustrada com desenhos dos alunos participantes das oficinas promovidas durante a pesquisa.

Os desenhos do livro da historiadora são de Renato Alves e Cícero Gonçalves. Já a apresentação da obra foi feita pela técnica de cultura Ana Cláudia Isidório. O projeto também envolveu os educadores sociais Aldemar Filho, Edimar Freitas, Paulo Bento e Vicente Filho.

As orientações, indicações de locais e pessoas para a realização da obra foi da quituteira Têca, que acolheu a autora durante o período de observação da comunidade do bairro Alto da Penha.

Mais informações
Lançamento do livro "As Narrativas Orais no Bairro Vermelho" será no dia 15 de março, às 19 horas, no Salão de Atos da Universidade Regional do Cariri (Urca)

YAÇANÃ NEPONUCENA
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste

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