Coreia do Norte diz que morte de Kim Jong-il não vai mudar postura do país

O anúncio da Coreia do Norte de que não haverá mudanças políticas no regime totalitário após a morte do ditador Kim Jong-il, no último dia 17, e que endurecerá suas relações com Seul indica a direção continuísta e o tom desafiador da era aberta na quinta-feira por Kim Jong-un, filho de Jong-il e novo líder do país.

Por meio de um comunicado, Pyongyang quis dar nesta sexta-feira um golpe de efeito midiático ao confirmar que não abre nenhuma porta à mudança, após dias de debate em torno de uma possível alteração no rumo por parte do regime diante da troca de poder. Um dia depois de o país proclamar Kim Jong-un como seu novo "líder supremo" durante as homenagens fúnebres ao seu pai, e coincidindo com a emissão de selos com a imagem de Kim Jong-un, a poderosa Comissão Nacional de Defesa norte-coreana confirmou que vai continuar apostando pela linha dura.

"Nesta ocasião, declaramos solenemente com convicção que os políticos de todo o mundo, incluídas as forças títeres da Coreia do Sul, não devem esperar nenhuma mudança por nossa parte" dizia o documento, com o característico tom beligerante e a retórica militar do regime. Este ressaltou o apoio do Partido único e as Forças Armadas ao sucessor ao afirmar que "o mundo observará como o Exército e o povo da RPDC (República Popular Democrática da Coreia) alcançam a vitória final após transformar sua dor e lágrimas em força e valor, estreitamente unidos atrás do querido e respeitado Kim Jong-un".

A mensagem confirmou a declaração de intenções que nesta quinta-feira, durante a cerimônia pela morte de Kim Jong-il, realizou o número dois do regime, Kim Yong-nam, ao garantir que o país avançará "sob a liderança de Kim Jong-un" no caminho do "Songun" ("o Exército primeiro"), instaurado pelo falecido ditador. Na nota, o regime também ameaçou não manter relações com a administração conservadora do presidente sul-coreano Lee Myung-bak, cuja política externa seguiu uma linha mais severa em direção a Pyongyang desde que, em 2008, assumiu o poder e fechou uma longa etapa de governos que empregaram um tom mais flexível. "Como já declarou, não realizará pactos com o grupo de traidores de Lee Myung-bak", indicava o comunicado da Comissão militar norte-coreana, em referência ao atual governo do Sul.

Embora na semana passada Lee tenha insistido que a Coreia do Sul não quer demonstrar hostilidade em direção ao Norte, o regime comunista criticou nesta sexta-feira de novo Seul por não enviar pêsames oficiais nem uma delegação estatal ao funeral de Kim Jong-il e por restringir a duas o número de comitivas civis autorizadas a cruzar a fronteira. "Obrigaremos indubitavelmente o grupo de traidores (o governo sul-coreano) a pagar por seus horríveis crimes cometidos no momento da grande desgraça nacional", afirmava o comunicado de Pyongyang.

Em resposta às duras asseverações norte-coreanas, uma autoridade de Seul que preferiu não se identificar, classificou o comunicado, em declarações indicadas pela agência local "Yonhap", como decepcionante, embora tenha expressado a esperança de que o Norte se estabilize rapidamente e adote uma atitude construtiva nas relações intercoreanas. As declarações do funcionário sul-coreano se baseiam em que, apesar das fortes críticas a Seul, paradoxalmente a Coreia do Norte também expressou nesta sexta-feira seu desejo de melhorar no futuro os laços com a Coreia do Sul.

"O Exército e o povo (da Coreia do Norte) seguirão o caminho da melhoria das relações Norte-Sul e da conquista da paz e da prosperidade", afirmou o documento, que convida o Sul a cumprir acordos de cooperação que, assinados no início da década passada, permanecem nesta sexta-feira estagnados por causa das más relações.

A Coreia do Sul deve realizar eleições parlamentares em abril de 2012 e presidenciais em dezembro, e seu desenlace poderia modificar o rumo das relações entre ambos os países já que, por lei, Lee não pode repetir mandato e poderia ocorrer uma mudança de governo. O comunicado da Comissão Nacional de Defesa se considera a primeira declaração oficial de intenções de Pyongyang após abrir a era Kim Jong-un, sucessor de seu pai Kim Jong-il, que governou com mão de ferro durante 17 anos o hermético país comunista até falecer aos 69 anos.   

Fonte: Época

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