Quero que devolvam minha inocência, diz Lula

A dois dias do julgamento de seu pedido de habeas corpus no STF (Supremo Tribunal Federal), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declarou na noite desta segunda-feira (2) que, mais do que participar da eleição presidencial deste ano, anseia ter sua "inocência" de volta. Segundo ele, a candidatura à chefia do Executivo nacional é uma questão secundária.

"Eu não estou aqui pelo direito de ser candidato. O que eu quero é que eles parem de mentir a meu respeito. Quero que eles devolvam a minha inocência, porque eu quero ser candidato", afirmou durante ato público no Circo Voador, no Rio de Janeiro.

O evento no Rio acontece dois dias antes de o STF julgar um pedido de habeas corpus do ex-presidente. Lula tenta ficar em liberdade até que seu processo pelo tríplex do Guarujá seja julgado em todas as instâncias. Ele foi condenado em segunda instância por corrupção passiva e lavagem de dinheiro a 12 anos e um mês de prisão e, segundo entendimento atual do STF seguido pelo TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), já pode ser preso.

O petista voltou a desafiar a acusação em relação à existência de provas. "Eu quero que eles votem o mérito do meu processo. E, se encontrarem algum crime, eu não estou acima da lei. Tenho quer tratado como qualquer cidadão ou cidadã", afirmou. "Se encontrarem uma vírgula de crime, eu me calo."

O ex-presidente declarou ainda que, independentemente do resultado do julgamento na quarta, seus "pensamentos" e "sonhos" permanecerão vivos. "Eles não vão prender meus pensamentos, não vão prender meus sonhos. Se não me deixarem andar, vou andar pelas pernas de vocês. Se não me deixarem falar, falarei pela boca de vocês. Se meu coração deixar de bater, ele baterá no coração de vocês."

"Não tem importância que a gente perca uma luta. O importante é a gente não perder a disposição de continuar lutando", completou.

O ato em favor de Lula reuniu correligionários, movimentos sociais, artistas e representantes de partidos de esquerda, como a deputada federal e pré-candidata do PCdoB à Presidência da República, Manoela D'Ávila (RS), o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ), o pré-candidato do PT ao governo do Estado do RJ, Celso Amorim, entre outros. O cantor Chico Buarque também esteve presente, mas não discursou.

Segundo organizadores, o evento suprapartidário foi chamado "Rio contra o fascismo" e teve como mote principal a "defesa da democracia".

Marielle, intervenção e união da esquerda
Por volta das 18h50, dez minutos antes do horário marcado para início do ato, os organizadores anunciaram a lotação do Circo Voador e, consequentemente, o fechamento dos portões. Pessoas que não conseguiram entrar se aglomeraram do lado de fora, nos arredores dos Arcos da Lapa, na região central da cidade.

Inicialmente, a ideia era fazer o lançamento das candidaturas de Amorim ao governo do Estado, do senador Lindbergh Farias (PT-RJ) à reeleição e do próprio Lula à Presidência. No entanto, segundo explicou a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffman (PR), casos recentes de violência acabaram por mudar o foco do evento.

Foram lembrados episódios como os disparos contra a caravana petista no Paraná, a morte a tiros de cinco jovens em um condomínio em Maricá (RJ) e, sobretudo, os assassinatos da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes, no mês passado.

"Gostaria de dizer a vocês que estou aqui na pior condição da minha vida. A condição de viúva. Eu trocaria qualquer coisa para não estar aqui hoje nessa condição. Como vocês podem ver, minha mão treme até quase cair, pois esse aqui não é o meu lugar de fala. Esse era o lugar de fala da minha companheira, da minha mulher. Estar aqui hoje falando por ela é uma prova de amor", declarou a companheira de Marielle, Mônica Benício. 

Logo na abertura do ato, o ex-senador Eduardo Suplicy (PT) foi ovacionado pelo público ao cantar a música "Homem na estrada", do grupo Racionais MCs. Na sequência, os manifestantes entoaram em coro o grito de "Não à intervenção", em repúdio ao decreto que transferiu a gestão da segurança pública do Rio de Janeiro para o governo federal.

O ato também foi marcado por vários discursos em favor de uma união entre as forças de esquerda. O professor Valério Arcary, dirigente do PSOL, afirmou que seu partido esquecerá as diferenças políticas em relação ao PT caso Lula seja preso. Siglas como PDT, PSB e PSOL reforçaram a ideia de uma "unidade do campo progressista".

Fonte: UOL

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