Barbalha (CE): Procissão do fogaréu mantém viva tradição de penitentes

No fim da tarde, as mulheres que compõe as ‘incelenças’ se encontram na casa da líder, a jovem Sueli Matos, no sítio Cabeceiras, a pouco mais de 6 km da sede do Município. A comunidade também concentra outra importante manifestação de tradição popular, os penitentes Irmão da Cruz. De lá, os dois grupos partiram para a Igreja do Rosário, onde se deu início mais uma procissão do fogaréu, realizada na noite de ontem (29), que reúne penitentes de outras cidades do Cariri e percorreu as principais ruas da cidade.

Esta tradição popular com mais de 100 anos se mantém forte em Barbalha e se renova ao longo dos anos. A procissão é culminância da fé e demonstração das práticas destes grupos que fazem dos cânticos e do autoflagelo sua penitência. Com tochas nas mãos, os homens iluminam as vias da cidade.

Segundo o secretário de Cultura de Barbalha, Rômulo Sampaio, a importância dos penitentes é histórica e vem para lembrar o passado em que o surto de cólera afetou a população do Cariri. “Morreram muita gente. Então, o padre Ibiapina incentivou a criação dos grupos no Cariri que saiam cantando em cemitérios noite a dentro”, conta.

“Senhora Santana, cheia de alegria, nós somos devotos da virgem Maria”, cantam os Irmãos da Cruz, do sítio Cabeceiras. Mas não foi só em Barbalha, dos 13 grupos que participaram da procissão do fogaréu, haviam seis de Várzea Alegre e um de Abaiara. A manifestação popular se expandiu na região no final do Século XIX. Hoje, bisnetos e tataranetos continuam com a tradição.

Segundo o aposentado Epitácio dos Santos, que compõe os Irmãos da Cruz, hoje o grupo possui apenas nove componentes e sofreu com a morte de três líderes nos últimos anos. Mesmo assim, alguns garotos participam. Ele, por exemplo, se tornou penitente aos 12 anos de idade “Eu via e achava bonito, aí pedi pra andar também. Nesse tempo era escondido”, lembra. Hoje, o grupo participa das rezas de terço, renovações e velórios. “Pra mim, isso aqui é muita coisa. A gente anda sem medo de nada, porque é a fé que nós tem. Só em estar rezando, acho muito bom”, completa Epitácio.

Incelença
“A nossa mãe é bendita, dolorosa e imaculada”, cantam as mulheres como lamúria, dor e penitência. O grupo de mulheres faz dos cânticos e reza sua a manifestação de fé. As incelença de Barbalha começou com 17 mulheres, há mais de 30 anos.

Segundo Maria Rodrigues de Lima, a dona Terezinha, 82, primeira líder do grupo, as incelença sempre existiram, mas não andavam trajadas como hoje. Elas estão presente nos terços, procissões e nas igrejas. “Pra mim, representa a religião, é muito bonito, muito bom. Só entende quem conhece”, garante.

Terezinha passou a liderança para sua sobrinha, Sueli Matos, 36, que mantém o grupo como uma tradição familiar de sua mãe e tia. Hoje, sua filha também participa com anjo. “Até hoje estamos mantendo a tradição. É importante porque é uma coisa de família, há 30 anos, já estamos na quarta geração”, descreve.

Atualmente, 12 mulheres permanecem na tradição. “Mantém a fé, coisa de família mesmo, que aprenderam com a avó. Na idade que estou e minha está é uma honra manter o grupo. Ao menos a gente se ocupa, fazendo bem ao próximo e a si mesmo”, explica Sueli.

ANTONIO RODRIGUES
COLABORADOR

Fonte: Diário do Nordeste

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