Juazeiro do Norte (CE): Redução no orçamento pode comprometer funcionamento do Hospital Regional do Cariri

O único hospital terciário da macrorregião do Cariri está passando por desvio de finalidade e cortes no orçamento. Esta foi a percepção que defensores públicos integrantes do Grupo de Trabalho da Saúde da Defensoria Pública do Ceará tiveram durante inspeção no Hospital Regional do Cariri, em Juazeiro do Norte, na última sexta-feira, dia 10 de fevereiro.

O Hospital, prestes a completar 6 anos de funcionamento, recebe a população de 45 municípios da região em busca de qualquer tipo de atendimento médico, mesmo tendo sido criado para atender pacientes com AVC e fornecer assistência em trauma.

“Antes do Hospital Regional do Cariri, na rede pública, só havia unidade de AVC em Fortaleza, no Hospital Geral. É distante demais, cerca de seis horas via ambulância, e o tempo para evitar sequelas em pacientes que moram no Cariri é de até quatro horas e meia. Então, se o paciente estiver com os primeiros sintomas em qualquer unidade de saúde da região, eles mandam pra cá. Mas aí chegou ao ponto de mandarem todos os tipos de demanda, que muitas vezes poderiam ser resolvidas em posto de saúde ou nas UPA’s. Dessa forma, o recurso não comporta. Além disso, os outros municípios menores não fazem o que têm que fazer, e mandam para cá. Então, incha. Não tem como. Era inevitável que isso um dia acontecesse”, destaca preocupado o coordenador da emergência do Hospital, Damito Robson Xavier.

O diretor de Gestão e Atendimento do Hospital, Bergson de Brito, confirma que a unidade terciária tem sofrido desvio de função. “Boa parte dos atendimentos eletivos ficaram sacrificados porque os leitos recentes estão sendo consumidos pela nossa emergência. Temos uma perspectiva muito ruim para o ano 2017 em termos financeiros, porque o Brasil inteiro está sofrendo com os cortes econômicos do Governo e, com o Estado, não seria diferente. Então, enquanto ainda não é publicado no Diário Oficial, temos uma estimativa de que seja reduzido o nosso orçamento entre 10 a 15% e já estamos preocupados em saber como vamos fazer. A gente vive com o temor de que algo seja cortado no orçamento para o ano 2017 e estamos direcionando os nossos esforços para aquele paciente que é mais urgente em condição crítica de saúde, que clama por uma urgência”, explica.

Diante da dificuldade de atendimento na unidade, diariamente, a defensora pública Ramylle Maria de Almeida Holanda atende casos de pessoas residentes na região do Cariri que recorrem à Justiça para ter acesso à saúde. “As ações mais comuns que atendemos são de pessoas que solicitam por medicamentos, exames e cirurgias ortopédicas. Recentemente, recebemos a informação de que não estão sendo feitas cirurgias eletivas no Hospital Regional e que a unidade estaria apenas realizando as cirurgias de urgência e emergência. Dessa forma, muitos que estão na fila de espera não conseguem nem mais ter a reparação da lesão devido a demora do atendimento. Então, a inspeção também é voltada para identificar quais são os problemas para o hospital não estar funcionando da forma que ele foi pensado inicialmente, quais são os gargalos e quais as razões de tudo isso estar chegando nas portas da Defensoria Pública”, destaca.

Esta foi a sétima unidade hospitalar a receber a visita dos defensores públicos com o objetivo de conhecer a realidade da unidade hospitalar, diagnosticar os problemas e encaminhar possíveis soluções. O órgão já realizou inspeções nas seguintes unidades: Hospital Geral de Fortaleza (HGF); Hospital Geral César Cals; Hospital e Maternidade Dra. Zilda Arns Neumann, conhecido como Hospital da Mulher, todos localizados na capital; além de unidades no interior do Estado: Hospital Regional de Iguatu, localizado na região Centro-Sul do Estado; o Hospital Regional do Sertão Central, em Quixeramobim; e o Hospital Municipal Abelardo Gadelha da Rocha, em Caucaia. Após Juazeiro do Norte, outro município do Ceará terá a unidade hospitalar inspecionada.

De acordo com a defensora pública Silvana Matos Feitoza, integrante do GT, “este primeiro momento de inspeções faz parte de um esforço concentrado para solução de conflitos entre usuários e o sistema de saúde. É uma oportunidade também que estamos tendo para conhecer de perto as unidades, suas rotinas e os problemas. Após esta fase, todas as informações colhidas constarão em um relatório feito pelo GT e apresentado em uma audiência pública sobre a temática, quando serão dadas as recomendações às autoridades responsáveis pelos hospitais visitados e, se for o caso, ajuizar ações contra o Estado e o município”, destacou Silvana.

Saiba mais
O Grupo de Trabalho da Saúde da Defensoria Pública do Ceará foi criado em junho de 2016 com defensores públicos preocupados com a crescente demanda de judicialização da saúde, tanto na capital como nas comarcas do interior. As demandas da área de saúde continuam sendo as campeãs na busca por atendimento jurídico na Defensoria Pública. Diariamente cerca de 20 novos pedidos chegam ao Núcleo de Defesa da Saúde (Nudesa), que integra o Núcleo Central de Atendimento do órgão, principal porta para quem busca acesso à justiça gratuita em Fortaleza. Durante o ano de 2016, o Nudesa contabilizou 5.667 atuações.

ANDRÉ COSTA
COLABORADOR

Fonte: Diário do Nordeste

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