Estudantes criam versão barata de remédio que aumentou em 5000%

Estudantes de 17 anos de uma escola de Sydney, na Austrália, conseguiram sintetizar 3,7 gramas de pirimetamina, princípio ativo do medicamento Daraprim, por apenas 20 dólares. A realização foi resultado de um experimento de um ano desenvolvido no laboratório da escola e que buscava demonstrar o custo inflado do medicamento nos Estados Unidos, segundo informações da rede britânica BBC. No país, a mesma quantidade custaria mais de 110.000 dólares (374.817 reais).

“Não foi muito difícil, mas suponho que esse é justamente o ponto, porque somos estudantes”, disse Charles Jameson, um dos adolescentes, à BBC.

O resultado dos adolescentes australianos provou que Martin Shkreli,  CEO da empresa farmacêutica Turing Pharmaceuticals, não foi totalmente honesto quando elevou em 5000% o preço do Daraprim sob a justificativa de que se tratava de produto altamente especializado e com uma margem de lucro pequena.

“Parecia algo totalmente errado moralmente e sem justificativa. É um medicamento que pode salvar vidas, e muitas pessoas não podem pagar por ele.”, disse James Wood, outro estudante.

Para Alice Williamson, química da Universidade de Sydney que orientou o trabalho dos estudantes “não há desculpa para que se cobre tanto dinheiro pelo medicamento, se estudantes conseguiram sintetizar a substância a custo tão baixo”.

O empresário, porém, desdenhou dos resultados, dizendo que “é fácil produzir uma pequena quantidade” da substância. “Eu deveria usar escolas para fazer meus medicamentos. Para que comprar equipamentos, se posso usar os laboratórios de ciências de graça. E os professores que ajudaram as crianças trabalharam de graça, certo?”, escreveu em sua conta no Twitter.

Aumento de 5000%
Em agosto de 2015, a Turing Pharmaceuticals aumentou de 13,50 dólares (46 reais) para 750 dólares (2550 reais) por comprimido do Daraprim, que custa apenas 1 dólar (3,4 reais) para ser produzido. Em países como a Austrália e o Reino Unido, o medicamento é vendido por 1,50 dólares (5 reais) por comprimido.

A decisão de aumentar o preço do medicamento levou a uma onda de fortes críticas ao redor do mundo. Na época, Shkreli, que é ex-gerente de fundos de investimentos, foi chamado de símbolo “de tudo de ruim que existe no capitalismo”, “sociopata moralmente falido” e “o homem mais odiado do país”.

A Sociedade para Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, a Associação de Medicamentos para HIV e outros órgãos da área de saúde nos EUA publicaram uma carta aberta em que exigiam da Turing que reconsiderasse o aumento. “O custo é injustificável para pacientes vulneráveis que precisam do medicamento e insustentável para o sistema de saúde”, disse o grupo no documento.

No entanto, Shkreli defendeu a política de preços, dizendo que o valor de fabricação não incluía custos que teriam aumentado drasticamente nos últimos anos, como marketing e distribuição. Afirmou também que a receita obtida seria usada em pesquisas de novos tratamentos para a toxoplasmose.

“Precisamos ter lucro com essa droga. Antes de nós, as empresas estavam praticamente dando-a de graça”, afirmou ele à época, em entrevista à emissora americana Bloomberg.

No fim, a Turing acabou cedendo e baixou o valor para 375 dólares (1278 reais), “um nível mais acessível e que permite à companhia ter lucro, ainda que pequeno”. Só que o preço ainda é 2.500% maior que antes do aumento.

Em dezembro de 2015, Shkreli pediu demissão do cargo após ser preso por uma suposta fraude em uma das empresas em que havia trabalhado.

O medicamento
Desenvolvido nos anos 1950, o Daraprim é usado para tratar a toxoplasmose, uma enfermidade infecciosa causada por um protozoário encontrado nas fezes de felinos e que afeta pacientes com sistema imunológico debilitado, como quem sofre de Aids e malária, e pacientes que se submetem à quimioterapia, além de algumas gestantes. É uma doença potencialmente fatal.

Fonte: Veja.com

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