Captação de órgãos e tecidos bate recorde no Cariri

Em abril deste ano, a técnica de enfermagem Maria Helena dos Santos Luna, 53, recebeu uma notícia que mudaria, para sempre, sua vida. O filho mais novo, Emerson Afranio Luna, foi diagnosticado por médicos cratenses com morte encefálica com apenas 24 anos. Diante da dor de perder um filho tão novo, uma decisão nobre.

"Sentei com meu esposo e meu outro filho e decidimos, juntos, doar os órgãos do Emersinho. Não havia nada mais a ser feito com ele, mas poderíamos salvar a vida de outras pessoas que nem mesmo conhecíamos", conta. Assim como a família de Maria Helena, outras tantas na região do Cariri tiveram igual gesto.

Recorde
Antes mesmo de acabar o ano, a Organização de Procura de Órgãos (OPO) do Cariri, instalada no Hospital Regional do Cariri (HRC), já bateu o recorde de captação de órgãos e tecidos. Nos 11 primeiros meses de 2016, já foram 74 captações, o que representa 173 pessoas beneficiadas com a doação de órgãos e tecidos. Em 2012, ano em que foi instalado o OPO, foram apenas oito. Até então, o número máximo de captações tinha sido 56, no ano passado, beneficiando um total de 100 pessoas que aguardavam por algum tipo de transplante no Estado.

Das 74 captações deste ano, foram 70 córneas, 11 fígados, nove rins e quatro corações, dois deles captados no mesmo dia, em julho último, um fato considerado raro em todo Brasil. Para esta operação em específico, 14 profissionais de Fortaleza vieram em duas aeronaves e somaram-se a uma equipe composta por mais 36 pessoas no Cariri. "É tudo muito complexo e envolve vários profissionais. A equipe que capta é a mesma que realiza o transplante, então tem que ser tudo muito rápido", detalha a assessoria do HRC.

Segundo Wagner Brito, enfermeiro da OPO, o significativo crescimento na captação deve-se à informação. "Hoje as pessoas estão muito mais conscientes sobre a importância da doação. Muitos são os casos que alguém da própria família já foi beneficiado com uma doação, e, por isso, acaba se colocando no lugar do próximo", pontua. Para Maria Helena, a doação, além de ajudar outras pessoas, serviu como forma de mantê-lo "vivo".

"Imagine alguém enxergando com os olhos do Emersinho?! É uma benção de Deus. É, sem dúvida, uma forma de tê-lo ainda mais presente em nossas vida. A dor é imensa, mas saber que ele salvou várias pessoas, serve para nos confortar. Afinal, poderia ser alguém da nossa família que estivesse precisando de um transplante. Nessa hora difícil, é a conscientização da importância de doar os órgãos que fala mais alto", acrescenta.

Vidas salvas
Segundo os médicos, um único doador de órgãos salva, em média, de oito a dez pessoas, podendo chegar a 20, com o transplante de córneas, coração, pulmões, rins, fígado, pâncreas, pele, ossos e válvulas cardíacas. No caso do jovem Emerson, foi possível a captação de três órgãos, dentre eles, a córnea, órgão com captação crescente na região desde a instalação do Banco de Olhos, em julho deste ano.

"Cresceu mais de 180% em relação ao mesmo período de 2015, que apresentou um total de 25 captações de córnea de janeiro a novembro", conta o enfermeiro Wagner. Ainda segundo ele, "o 'sim' dado pelas famílias, fez com que, pela primeira vez, o Ceará zerasse a fila de espera de transplante de córneas, em 34 anos do serviço".

Desde a implantação da Central de Transplantes, em 1998, foram realizados no Estado 8.624 transplantes de córneas, dos quais 1.183 foram somente neste ano, até a semana passada. Esses números colocam o Ceará, de acordo com o Registro Brasileiro de Transplantes (RBT), como segundo Estado que mais realiza transplantes de córnea no País.

Além da córnea, o Ceará também realizou neste ano mais transplantes de pulmão, coração, medula óssea e esclera em comparação ao ano passado. Segundo a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), já são 1.722 transplantes realizados no ano, distribuídos em 229 de rins; 31 de coração, igualando o recorde anterior, de 2008; cinco de pulmão; 90 de medula óssea; 1.183 de córnea; e sete de esclera. Atualmente, a lista de espera por transplantes tem 726 pacientes ativos. Sendo 15 para transplantes de coração, 145 de fígado, sete de pâncreas/rim, um de pâncreas isolado, quatro de pulmão e 57 de córnea.

'Doe de Coração'
A doação de órgãos é incentivada pela campanha "Doe de Coração", promovida pela Fundação Edson Queiroz desde 2003, que dissemina informações para a conscientização da sociedade sobre a importância de se tornar doador de órgãos e, dessa forma, ajudar a salvar vidas.

Saiba mais

Captações realizadas no Cariri

2012 - 8

2013 - 14

2014 - 20

2015 - 56

2016 (até dezembro) - 74

Conheça os procedimento para a doação
Qualquer pessoa com morte cerebral confirmada pode se tornar, a princípio, doadora. São realizados testes para certificar os médicos e a família da parada do órgão. Depois de 6h, o potencial doador passa por um novo teste clínico para confirmar o diagnóstico. Após a confirmação, a família é consultada e orientada sobre o processo de doação de órgãos. Com a autorização da família, a equipe médica faz um questionário com os familiares para detalhar o histórico clínico do paciente, para investigar possíveis doenças ou infecções que possam ser transmitidas ao receptor. Tudo é realizado com brevidade, para atender o limite máximo de retirada dos órgãos. Depois de transplantado, o paciente tem um pós-operatório semelhante ao de outras cirurgias. O sucesso da operação, no entanto, depende de vários fatores, como as condições do órgão e o estado de saúde do paciente.

ANDRÉ COSTA
COLABORADOR

Fonte: Diário do Nordeste

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